Oportunidade de vivenciar um novo contexto social e transformar a realidade de comunidades carentes do país contribui para ampliar os horizontes dos universitários
De São Carlos para Paraíba: Rondon mobiliza estudantes da USP em São Carlos |
Em uma comunidade rural em Alhandra, no interior da Paraíba, a 32 quilômetros da capital João Pessoa, só há água disponível três vezes ao dia e, geralmente, por pouco tempo. Deparar-se com essa realidade, muito diferente da que é vivenciada diariamente pelos estudantes da USP em São Carlos, trouxe um aprendizado fundamental para o engenheiro civil recém-formado André Scandar Prata: a certeza de que é capaz de transformar o contexto social do nosso país.
Ele ajudou a construir um sistema de captação e armazenamento das águas das chuvas em Alhandra. “Na oficina, fizemos uma calha com um tubo de queda que levava a água para um tambor equipado com uma torneira”, explicou. Por ser uma cidade com alto índice pluviométrico, o sucesso da iniciativa foi imediato: três dias após a construção, o tambor já havia sido preenchido duas vezes.
Equipe realizou 18 atividades em Alhandra |
Prata fez parte de uma equipe de 18 estudantes da USP em São Carlos que participaram do Projeto Rondon, sob coordenação do professor Moacir Ponti Junior, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC). O Projeto visa à integração social do Brasil e envolve a participação voluntária de estudantes universitários de todo o país na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da população.
No caso da equipe da USP em São Carlos, foram selecionados oito integrantes para ir a Alhandra realizar as ações da etapa final do projeto, desenvolvendo oficinas nas áreas de meio ambiente, produção, tecnologia e comunicação. “Quando chegamos à cidade, recebemos o acolhimento caloroso dos moradores e o sentimento de gratidão pelo simples trabalho desenvolvido. Isso faz refletir sobre nosso papel na sociedade e modifica conceitos com relação ao nosso próprio país. Apesar de cansativo, é um dos projetos mais gratificantes que já tive a oportunidade de participar como docente”, conta Ponti Junior.
Esse sentimento de receptividade também impressionou a aluna da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) Camila Billerbeck. Segundo ela, a sensação de aprendizado mútuo esteve presente durante todo o tempo que esteve na cidade. “Sentimos que levamos de Alhandra algo tão duradouro quanto o que deixamos por lá”, relata a estudante, que cursa engenharia civil.
Oficina de construção de horta comunitária foi uma das atividades realizadas |
Como tudo começa – Prata conta que decidiu fazer parte da iniciativa durante uma reunião realizada na USP em São Carlos, organizada por estudantes que haviam participado de edições anteriores do Projeto Rondon. “Surgiu uma vontade de voltar com as minhas histórias, as minhas impressões, já na primeira reunião de que participei, há exatamente dois anos”, conta.
Tradicionalmente, as operações do Projeto Rondon são realizadas em janeiro e julho de cada ano, durante o período de férias escolares. Os convites (editais) são divulgados pelo Ministério da Defesa normalmente nos meses de março e agosto. Na USP em São Carlos, os próprios estudantes organizam a participação no Projeto Rondon. Após o lançamento do edital, os ex-rondonistas se organizam e fazem uma reunião que mobiliza o campus. Nessa reunião, os estudantes interessados são informados sobre o funcionamento do projeto e esclarecem suas dúvidas.
Em julho deste ano, o Projeto contou com duas operações: Guararapes, que abrangeu 20 municípios dos estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas; e Catopê, que abarcou 13 municípios de Minas Gerais. A equipe da USP em São Carlos fez parte da Operação Guararapes e esteve em Alhandra de 20 de julho a 1 de agosto. Nesse período, além da oficina de captação e armazenamento de águas pluviais, a equipe realizou mais dezessete atividades na cidade, tais como caça ao tesouro ecológico, construção de horta comunitária, oficina sobre métodos de desinfecção de água, oficina de compostagem, minicurso de produção de sabão e minicurso de informática básica. “Acredito que esse seja um dos projetos de impacto mais direto na sociedade. Em contraste com o Ciência sem Fronteiras, em que os alunos são levados para países com melhor situação econômica, o Projeto Rondon os leva para dentro do Brasil, a cidades com condições de desenvolvimento inferiores”, adiciona Ponti Junior.
A equipe da USP em São Carlos que participou dessa última edição do projeto Rondon foi composta por estudantes do ICMC e da EESC, além de outros dois professores: Ana Maria Plepis, do Instituto de Química de São Carlos; e Elias Helou Neto, também do ICMC. Vale a pena conferir as diversas atividades realizadas no vídeo que a equipe produziu (https://www.youtube.com/watch?v=qsSw3eAWTBI).
“Creio que o conhecimento mais importante que levo do Rondon não é propriamente um conhecimento formal, sistematizado, e sim uma responsabilidade, a noção de que sou um ser que posso trazer algo de bom para o meu contexto social”, finaliza Prata.
Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação ICMC/USP
Com colaboração de Ronaldo Castelli e da Assessoria de Comunicação da Escola de Engenharia de São Carlos
Fotos: Divulgação
Site do Projeto Rondon: http://projetorondon.pagina-oficial.com/portal