quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CCSL-ICMC e NAP-SOL na perspectiva de fortalecimento da rede de colaboração de teste de software no País

A integração de habilidades e competências, participação em redes de colaboração e a intensificação da cooperação com a indústria e outros agentes constituem metas concretas do Instituto de Computação (IComp) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e de outros agentes da região norte, como a própria Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). A Escola Avançada de Teste de Software (EATS) ocorreu, de 13 a 15 de agosto, dentro desse contexto sendo organizada pelo IComp/UFAM e o Centro de Competência em Software Livre (CCSL-ICMC)/NAP-SOL.

O IComp e o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC-USP) firmaram um convênio de cooperação acadêmica, que visa à composição de redes de colaboração na investigação e solução de problemas complexos e relevantes de interesse nacional e na formação de recursos humanos.

A temática da EATS foi o teste de software e contou com pesquisadores do Brasil e do exterior, com um amplo leque de cursos básicos e avançados, palestras e um painel. Participaram pesquisadores de quarto estados distintos: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Amazonas além dos pesquisadores Tom Ostrand e Elaine Weyuker dos Estados Unidos. Os pesquisadores norte-americanos estiveram no ICMC, no último dia 11, ministrando palestras, minicurso e discutindo possibilidades de cooperação.

A concepção da EATS visa a criar um cenário que fortaleça e motive a formação de recursos humanos de alta qualidade, a atualização profissional e a intensificação da cooperação academia-empresa na região norte. Teve uma participação marcante de profissionais da indústria e de centros de pesquisa, em particular de Manaus, com discussões muito ricas e oportunas.

Nos dois primeiros dias, durante a manhã, foram programados cursos básicos e avançados em teste e depuração de software, com pesquisadores nacionais de renome internacional, com a presença intensa e motivada dos participantes da EATS. Praticamente todos os cursos apoiaram-se em ferramentas com licença de software livre.

No período da tarde, do primeiro dia, tivemos uma palestra nacional sobre Engenharia de Software Desenvolvimento de Software: alquimia ou engenharia? ministrada por Guilherme Horta Travassos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na qual se situou a relevância de tomada de decisão baseada em evidências sobre a efetividade e eficácia das atividades e técnicas de engenharia de software, inclusive as pertinentes à atividade de teste de software.

Em seguida, ocorreu a palestra internacional Looking for Bugs In all the Right Places proferida por Elaine, que enfatizou a experiência de teste de software na indústria dos EUA e apresentou resultados recentes obtidos durante anos em suas atividades profissionais e de pesquisa na AT&T.

No período da noite, foi apresentado um tutorial Learning to work together, apresentado pelos pesquisadores norte-americanos Elaine e Tom Ostrand que discutiram a experiência de pesquisa e desenvolvimento no ambiente industrial e algumas lições aprendidas nesse cenário, o que certamente contribuiu para a discussão e encaminhamentos no cenário brasileiro.

No segundo dia, no período da tarde, tivemos a palestra O Cenário Nacional de Testes ministrada por Marcio Delamaro do ICMC, que caracterizou a evolução da rede de pesquisa em teste de software no Brasil, a partir da análise dos Anais do Simpósio Brasileiro de Engenharia de Software (SBES), e discutiu diretrizes e oportunidades para pesquisa e desenvolvimento em teste de software no País.

Em seguida, ocorreu a palestra Variations of the fault prediction model na qual Ostrand detalhou os fatores e variáveis que foram investigados para a determinação do modelo de previsão de falhas, que foi concebido no escopo de suas atividades na AT&T. Tom e Elaine salientaram as dificuldades de investigação desses aspectos no contexto de software livre.

Já à noite, ocorreu a palestra Teste de Software no Contexto da Indústria Globalizada, ministrada conjuntamente por profissionais da academia e da indústria, evidenciando a necessidade de colaboração para que seja alcançada e mantida a capacidade de produção de produtos de software de alta qualidade, garantindo a competitividade internacional da indústria brasileira. A perspectiva de uso e produção de produtos com licença de software livre é bem percebida nesse cenário. 

O terceiro dia foi dedicado para aprofundar a relação entre academia e empresa, iniciada, no período da manhã, por uma síntese apresentada pelo diretor do IComp, Ruiter Caldas e, posteriormente, por uma discussão das iniciativas e perspectivas da indústria local, com aprofundamento de ações e iniciativas da SUFRAMA.

A perspectiva de integração e consolidação de competências e habilidades na área de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), área transversal aos diversos domínios de aplicação e desenvolvimento, ficou evidenciado e o IComp tem um papel fundamental nessa perspectiva.

O IComp detém nível cinco na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em seu programa de pós-graduação, o que reflete o nível de excelência nacional. Apesar de recente, o programa já obteve prêmio de melhor tese no Brasil no ano de 2012 da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), refletindo a excelência e relevância das atividades do instituto.

No período da tarde, ocorreu o painel: Cooperação Academia-Indústria, com a participação dos palestrantes convidados internacionais, Ostrand e Elaine, com o convidado nacional Travassos e dois representantes da indústria local a gerente da área de Validação de Produto do Instituto Nokia de Tecnologia (INDT) Eliane Collins e o diretor de Projetos e Desenvolvimento de Negócios do FPF Tech, centro tecnológico de pesquisa e desenvolvimento de projetos nas áreas de software, Roberto Garcia.

Dificuldades e perspectivas na relação academia-empresa foram profundamente abordadas, ficando evidente que os agentes devem procurar mecanismos para facilitar e tornar mais efetiva essa relação, procurando conciliar a expectativa de resultados de ambas as partes.

Na perspectiva de formação de recursos humanos, mostrou-se que o perfil do egresso e a metodologia de ensino devem ser revisitadas, eventualmente com a inserção de projetos em equipes para a concepção, gestão e desenvolvimento de produtos de software (livre) com colaboração eventual da indústria.

Dentre os resultados e perspectivas dessa motivadora e intrigante escola EATS, observa-se o empenho dos profissionais da indústria para a atualização profissional, seja com cursos de extensão ou ingresso em programas de mestrado ou doutorado.

Os alunos ficaram motivados e interessados pela área de teste ao perceberem que, no exterior e no Brasil, o profissional de teste deve exibir perfil de excelência em programação, alternando atividades de teste e desenvolvimento, sendo bem remunerados e valorizados.

Abriram-se perspectiva de colaboração com os pesquisadores do exterior tanto em nível de orientação de trabalhos de pós-graduação quanto em projetos na relação academia-empresa.

Também foram expostas as possibilidades de aplicação do modelo de previsão de defeitos em sistemas de software, apresentados pelos pesquisadores norte-americanos em sistemas desenvolvidos na indústria nacional e mesmo em disponibilizar um sistema similar de previsão de defeitos como um sistema com licença de software livre.

A rede de colaboração em teste de software no país foi fortalecida. Manaus oferece um cenário rico para ações de aprimoramento da relação academia-empresa propiciando um excelente cenário para a investigação de criação de redes de colaboração para alavancar a capacidade de produção de software de qualidade no país. A questão da mobilidade nacional foi colocada e entendida como mandatória em um país como o Brasil, de porte de um continente.

Por José Carlos Maldonado
Coordenador do NAP-SoL