terça-feira, 31 de outubro de 2017

ICMC oferece curso de introdução à aprendizagem de máquina


Quem deseja conhecer o universo da aprendizagem de máquina pode se inscrever em um curso oferecido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. De caráter introdutório, o curso é aberto à comunidade e será realizado de 9 a 30 de novembro, às quintas-feiras, das 19 às 22 horas.

O objetivo do curso é apresentar a área de aprendizagem de máquina para quem não possui os conhecimentos necessários para a realização de projetos nesse campo. Por isso, os alunos irão aprender os conceitos básicos e teóricos da área, além de obter informações sobre como aprofundar seus conhecimentos de acordo com cada projeto.

O curso também vai ensinar como utilizar ferramentas básicas para manipular dados e prover experiência prática de trabalho com essas informações, bem como ensinar métodos de aprendizado de máquina mais populares em competições. O curso será coordenado pelo professor Marcelo Manzato  do ICMC, e será ministrado em conjunto com os estudantes Tobias da Veiga e Kaue de Moraes, que cursam Ciências de Computação no Instituto, são membros do Programa de Educação Tutorial (PET-Computação) e têm experiência em inteligência artificial.

Para participar, é preciso pagar uma taxa de R$ 10 e se inscrever por meio do formulário online disponível neste link: icmc.usp.br/e/16c32. As inscrições ficam abertas até o dia 7 de novembro ou enquanto houver vagas. O curso será realizado no auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano (sala 6-001), no ICMC. Confira o programa completo do curso: icmc.usp.br/e/8e62f.

Texto: Alexandre Wolf - Assessoria de Comunicação ICMC/USP

Mais informações
Comissão de Cultura e Extensão do ICMC: (16) 3373.9146
E-mail: ccex@icmc.usp.br

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Veja como foi a viagem didática do ICMC à Fundação Dorina Nowill para Cegos

Estudantes de licenciatura do campus de São Carlos visitam a Fundação Dorina Nowill
Alunos de licenciatura do campus de São Carlos participaram de uma viagem didática à Fundação Dorina Nowill para Cegos, em São Paulo, no dia 23 de outubro. Realizada pelo Laboratório de Educação Matemática do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, o objetivo da visita foi apresentar aos estudantes os trabalhos realizados pela instituição.

A Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma organização sem fins lucrativos, de caráter filantrópico, que há 70 anos se dedica à inclusão social de pessoas com deficiência visual. A instituição oferece, gratuitamente, serviços especializados para pessoas com deficiência visual e suas famílias, nas áreas de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade.

Veja o álbum de fotos no Flickr e no Facebook!

Oficina gratuita na USP ensina técnicas para produzir textos mais criativos e atraentes

Apresentar ferramentas da área de ciências de comunicação para ajudar os estudantes a elaborarem seus textos é o objetivo de uma iniciativa que acontecerá dias 8 e 11 de novembro no ICMC


Usar a linguagem oral e escrita de forma criativa no ambiente acadêmico e profissional é um desafio para muitos estudantes de graduação e de pós-graduação. Por isso, o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, vai oferecer uma oficina com o objetivo de apresentar ferramentas da área de ciências de comunicação que podem ajudar os alunos na produção de textos mais criativos e atraentes, adequados aos diferentes públicos-alvo a quem se destinam.

As atividades acontecerão na tarde do dia 8 de novembro, quarta-feira, das 14 às 18 horas, e na manhã do dia 11, sábado, das 9 às 13 horas. Por meio de procedimentos vivenciais, os estudantes serão motivados a realizar atividades de comunicação em grupo, tal como apresentar um conceito científico de forma descomplicada usando técnicas narrativas (storytelling).

Coordenada pela professora Solange Rezende, do ICMC, a oficina será ministrada pela analista de comunicação Denise Casatti. Uma das metas da oficina é contribuir para que os participantes possam se expressar com mais clareza, coerência e concisão em seus textos escritos, visando à eficácia da comunicação. Também serão realizadas atividades para motivar os estudantes a produzirem textos criativos empregando técnicas do método Escrita Total, criado pelo pesquisador Edvaldo Pereira Lima, professor aposentado da Escola de Comunicações e Artes da USP.

Há 30 vagas disponíveis e as inscrições devem ser realizadas, até dia 6 de novembro ou enquanto houver vagas, por meio do sistema Apolo, no seguinte link: icmc.usp.br/e/bad9a. Serão fornecidos certificados de participação a todos os inscritos. A oficina ocorrerá na sala 5-104, no bloco 5 do ICMC, no dia 8, e na sala 4-001, no bloco 4, no dia 11.

Texto: Assessoria de Comunicação ICMC/USP

Mais informações
Link para inscrições: icmc.usp.br/e/bad9a
Veja o programa do curso: icmc.usp.br/e/988de
Comissão de Cultura e Extensão Universitária do ICMC: (16) 3373.9146
E-mail: ccex@icmc.usp.br

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A matemática que habita os objetos ao seu redor

Não importa se você tem diante de si um celular, um computador, um papel, uma caneta. Olhe para eles como um matemático que só enxerga formas geométricas e a lista se reduzirá a cubos, esferas, cilindros... Descubra, agora, como é esse mundo para os especialistas em topologia

“Tudo o que tocamos no mundo concreto é tridimensional”, diz o professor Ton

Você é capaz de pegar um ponto no colo? Já se encostou em uma reta ou entrou dentro de um plano? “Tudo o que tocamos no mundo concreto é tridimensional”, diz o professor Ton Marar, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Portanto, conclui Ton, nós nunca conseguiremos pegar um ponto, encostar na reta ou entrar dentro de um plano. Simplesmente porque foram os matemáticos dedicados a estudar geometria que criaram pontos, retas e planos para representar as coisas do nosso mundo nas lousas e folhas de papel. Pontos, retas e planos só existem no universo das ideias.

Observe Ton e entenda melhor como isso funciona. Ele é um matemático do tipo inquieto: gesticula impacientemente enquanto fala sobre as formas e suas dimensões. O espectador que assiste a sua palestra, em uma manhã da semana, no auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano, na USP em São Carlos, pode facilmente imaginar as mãos de Ton tocando o cubo projetado no telão. Mas, como bem explicou o professor no começo deste texto, é impossível tocá-lo, já que é só uma projeção que aparece na tela.

Lembro-me do fascínio da minha filha quando, pela primeira vez, desenhei para ela dois quadrados parcialmente sobrepostos e os uni com retas saindo dos cantinhos (vértices). Claro que, naquele desenho que fiz do cubo, nem todas as linhas e ângulos que construí eram perfeitamente iguais. Essa distorção não ocorreu apenas por causa da minha pouca habilidade artística. Pense que, na vida real, os cubos têm sempre três dimensões: podemos movimentá-los para esquerda e para a direita, para cima e para baixo, ou ainda, para frente e para trás. Mas no papel só há duas dimensões: não podemos desenhar o cubo atravessando a folha de papel, com uma parte para frente e a outra para trás. Essa impossibilidade é matematicamente explicada e compreendida: é o preço que pagamos para representar um objeto de três dimensões em um espaço de duas dimensões.

Aliás, provavelmente, a maioria das pessoas que leem este texto estão dentro de cubos, inseridas em cômodos de edifícios ou casas, por exemplo. Essas mesmas pessoas concluem, sem nenhuma dificuldade, a impossibilidade de entrar no cubo que desenhei para minha filha e de Ton tocar o cubo projetado na tela do auditório. O mais complicado é pensar que, pelo menos matematicamente, existe um mundo com dimensões que vão além dessas três com as quais estamos acostumados. “Apenas por meio das projeções é que conseguimos entender como seria um objeto da quarta dimensão”, explica Ton.

Imaginativos como são, os matemáticos inventaram uma maneira para mergulharmos nesse universo que não podemos ver muito menos tocar. Há todo um campo dedicado a estudar essa essência das formas: chama-se topologia. Nesse mundo abstrato da topologia, não importa se temos um traço reto na horizontal, na vertical ou uma curva. Ela será compreendida simplesmente como uma linha aberta. Também pouco interessa se temos quadrados, triângulos, retângulos, hexágonos ou círculos. Para os especialistas em topologia, tudo isso não passa de linhas fechadas. Essas linhas, quer sejam abertas ou fechadas, podem passar continuamente por transformações e, depois, há sempre a possibilidade de desfazer essas modificações.

Entre as superfícies topológicas mais conhecidas está uma que pode até assustar à primeira vista: a Fita de Möbius. Apesar do nome, não têm nada de complicado. Você pode construir uma superfície dessas sem qualquer dificuldade: recorte uma tira de papel longa o suficiente para pode colar as duas pontas (pense em algo com, no mínimo, cerca de 30 centímetros de comprimento). Mas, antes de colar as extremidades, faça uma torção (dê meia volta, girando 180 graus) e, só então, cole as pontas, deixando aquela volta esquisita exposta. Pronto: você tem nas mãos uma Fita de Möbius (veja a imagem).
Esta imagem é uma reprodução da gravura “Banda de Möbius 2”, criada pelo artista Escher em 1963. Ele se inspirou na famosa Fita de Möbius, apresentada em 1858 pelo matemático August Ferdinand Möbius – Imagem: Divulgação
Imagine que essa faixa é grande o suficiente para ser considerada uma autoestrada e você decide pegar seu carro e sair dirigindo por ela seguindo a linha central. O que acontecerá? Ao final do percurso, você voltará ao ponto de partida, mas de cabeça para baixo. Ora, estamos em um caminho sem fim nem início. Quando estiver dirigindo, olhe para os lados e responda: você está percorrendo a parte interna ou a parte externa da estrada? Tenho certeza de que não conseguirá responder à pergunta porque a Fita de Möbius aparenta ter dois lados, mas só tem um. Essa é, aliás, uma característica das chamadas superfícies não orientáveis, ou seja, superfícies nas quais não é possível definir um interior e um exterior. Algumas correias e esteiras rolantes são construídas tal como a Fita de Möbius a fim de possibilitar que o desgaste das peças seja de forma homogênea.

“A Coisa” da quarta dimensão - Assim como estamos usando letras neste texto, os matemáticos também criaram uma linguagem para descrever as formas no espaço. Por exemplo, em vez de representar um plano por meio de um desenho, eles podem usar fórmulas matemáticas, com números e letras. Porém, de nada adiantaria mostrar aqui esses números e letras, já que seriam totalmente vazios de sentido para quem não domina a linguagem da matemática, tal como este texto seria incompreensível para alguém que não conhecesse a língua portuguesa. Vale lembrar que “a matemática não é uma ferramenta seca e mecânica, mas um corpo vivo de pensamento inseparavelmente conectado, dependente e inestimável para outros campos da nossa cultura”, como bem descreve o matemático Morris Kline no livro Mathematics in Western Culture, de 1953.

O fato é que, no inverno de 1986, durante seus estudos na Universidade de Warwick, na Inglaterra, Ton se deparou com equações que o surpreenderam. Ele decidiu então olhá-las sob outro ponto de vista: tentou desenhar o que tinha encontrado. Surgia assim o esboço de uma superfície muito atraente que, no futuro, sairia do universo abstrato da imaginação matemática para o mundo concreto, transformando-se em uma obra de arte. Nomeada de Singularidade H2 de David Mond, a descoberta está na tese de doutorado de Ton, defendida em 1989, e ganhou um primeiro esboço em papel cartão, com aproximadamente 30 centímetros. No ano seguinte, o modelo foi ampliado 10 vezes e deu origem a uma estrutura em argamassa armada e pesando mais de uma tonelada que está fixada no jardim em frente à Biblioteca Achille Bassi, do ICMC. Carinhosamente chamada como A Coisa, ela é uma atração do instituto e faz parte do acervo da USP de obras escultóricas em espaços externos.

"A Coisa é a projeção de um plano curvado e torcido na quarta dimensão", diz Ton - Foto: Nilton Junior/ArtyPhotos
Pode até parecer papo de alienígena, mas A Coisa veio, literalmente, da quarta dimensão. Ton explica: a escultura que podemos apreciar no jardim do ICMC é uma projeção na terceira dimensão de uma superfície matemática que só existe na quarta dimensão. Como estamos limitados a enxergar em três dimensões, ao olharmos para A Coisa, vemos diversas interseções entre as partes desse objeto. Se fôssemos capazes de mergulhar na quarta dimensão, veríamos que essas partes, na verdade, não se tocam. “A Coisa é a projeção de um plano curvado e torcido na quarta dimensão”, diz Ton.

Para apreciar A Coisa pessoalmente, basta ir até o jardim do ICMC, na área I do campus da USP, em São Carlos. Existe, ainda, a possibilidade de conhecê-la virtualmente assistindo aos vídeos disponíveis na galeria virtual Superfícies além da terceira dimensão, criada pelo professor Thomas Banchoff, da Brown University, em colaboração com o professor Davide Cervone (disponível neste link).

Inquietação constante - O fascínio de Ton pelo formato dos objetos nasceu muito antes dele chegar ao ICMC, aos 17 anos, para cursar o Bacharelado em Matemática. Desde criança, ele olha para o céu e se questiona sobre a forma do nosso universo. Hoje, aos 59 anos, sabe que quanto mais conhecemos sobre o assunto, mais a nossa insignificância se manifesta. As inquietações que tinha quando chegou ao Instituto são praticamente as mesmas, há apenas uma certeza: “se temos alguma chance de entendermos o formato do nosso universo, será por meio da topologia”.

Ele mostra no telão a capa da revista Nature de 2003: uma superfície composta por 120 células e quatro dimensões junto com a pergunta “Este é o formato do universo?”. Ton conta que os estudos mais recentes sobre o tema têm levado os cientistas a acreditarem que ele é composto de 120 dodecaedros sólidos (assista ao vídeo). Nesse sentido, o universo teria um formato finito, mas sem bordas.

Capa da revista Nature mostra uma superfície com 120 células e quatro dimensões - Imagem: Revista Nature
Para compreender como é a quarta dimensão, pense em alguns princípios básicos da geometria analítica concebida por René Descartes. Observe que as dimensões de um objeto correspondem ao número de coordenadas necessárias para descrever seus pontos em termos de latitude e longitude.

Veja a imagem a seguir: temos um plano bidimensional com dois eixos (o X e o Y). Se você quiser definir um objeto de duas dimensões usando a geometria analítica, precisará saber qual sua posição no eixo X e no eixo Y, certo? Olhe novamente para a imagem: se um carro estiver no ponto laranja, local em que o eixo X e o eixo Y coincidem, podemos dizer que esse carro está em 0,0. Já se o veículo estiver no ponto verde, ele estará em um local que corresponde ao número 2 no eixo X e ao número 3 no eixo Y, portanto, podemos afirmar que está em 2,3 (tal como no alfabeto, o X vem sempre à frente do Y).
Neste plano em duas dimensões, é possível enxergas as relações entre os eixos x e y - Imagem: Wikimedia Commons
Prosseguindo com essa ideia, se quisermos construir um plano em três dimensões, vamos precisar de mais um eixo e usaremos outra letra para designá-lo, no caso o Z (veja a imagem). Perceba que, matematicamente, não há nenhuma razão especial que nos impeça de criar mais eixos e, portanto, vislumbrar mais dimensões.

Olhe para este plano em três dimensões: veja que, matematicamente, não há motivo que nos proíba de criarmos mais eixos além do x, y e z - Imagem: Wikimedia Commons
Acostumados a ter uma vida cotidiana em nossos cubos tridimensionais, não é tarefa fácil imaginar a existência de outras dimensões. Tal como foi complicado para nossos antepassados encararem que a Terra não era plana. Talvez a imagem a seguir ajude: note que temos uma linha (uma dimensão); depois um quadrado (duas dimensões); a seguir um cubo (três dimensões); e, por último, um hipercubo (quatro dimensões). Lembra-se de que, no começo deste texto, contei sobre a primeira vez que desenhei um cubo para minha filha? A mesma técnica que usamos para desenhar um cubo, sobrepondo parcialmente dois quadrados, é usada para desenhar um hipercubo, mas nesse caso precisamos sobrepor dois cubos.

Para construir um hipercubo, é preciso sobrepor dois cubos - Imagem: Duke Research Blog
Se você ficou tão fascinado quanto eu pela quarta dimensão, faça uma busca na web: há inúmeros vídeos mostrando como são construídas essas superfícies. Quem tiver a oportunidade de ir aos Estados Unidos, também pode visitar a exposição Para todo o tempo: interpretações da nossa coleção sobre a quarta dimensão, que fica em cartaz até fevereiro de 2018 no Weatherspoon Art Museum da Universidade da Carolina do Norte, na cidade de Greensboro.

A verdade é que o encanto das formas geométricas tem movido a humanidade há séculos. Há até uma versão dramática sobre a morte de Arquimedes de Siracusa (287 a.C. – 212 a.C.), matemático, físico, engenheiro, inventor e astrônomo grego: profundamente imerso em seus cálculos enquanto os romanos tomavam a Grécia, ele desenhava círculos em sua bandeja de areia plana quando notou a sombra do soldado romano que o mataria. A tragédia levou o filósofo inglês Alfred Whitehead a fazer uma interessante reflexão: “Nenhum romano perdeu a vida pelo fato de estar absorvido na contemplação de uma figura geométrica”. Diferentemente dos romanos, talvez Arquimedes já tivesse compreendido que o futuro da nossa existência dependia, de certa forma, dos avanços no estudo da matemática.

Texto: Denise Casatti/Assessoria de Comunicação do ICMC

ESTA REPORTAGEM FAZ PARTE DO ESPECIAL DO JORNAL DA USP
"A MATEMÁTICA ESTÁ EM TUDO": http://jornal.usp.br/especial/matematica/

Para saber mais
Galeria de imagens sobre “A Coisa”: icmc.usp.br/e/cd98e
O físico Carl Sagan explica em vídeo a quarta dimensão:

Vídeos da série “Isto é Matemática”:
• A Fita de Möbius: https://www.youtube.com/watch?v=aZZ_d-FF0Bc – Fita de Möbius

Mais informações
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Por que os surdos precisam enxergar a matemática?

Os surdos têm uma maneira única de mergulhar no universo da matemática, por meio do corpo e do olhar

Nas mãos de Adriana, vemos a palavra "matemática"

Imagine que você precisa ensinar matemática para uma criança ouvinte. Você pode falar, por exemplo, que “duas vezes dois é igual a quatro”, e ainda usar os dedos para mostrar essa quantidade, e ela vai aprender. Alguns anos depois, você precisa ensinar que o sinal de X naquela conta é diferente do X que representa um número desconhecido. Não parece impossível, certo? Afinal, isso é ensinado a todo o tempo nas escolas.

Entretanto, algo que pode passar despercebido no processo de aprendizagem é a língua. Ouvir e falar é natural, e é por meio dessa comunicação que aprendemos, entre outras coisas, os conceitos matemáticos. Mas se os surdos não se comunicam da mesma maneira, como ensiná-los o mesmo conteúdo? A resposta é simples, afinal existe a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Na prática, outros problemas afetam o aprendizado de crianças surdas, principalmente na difusão dessa língua. De acordo com a professora Adriana Bellotti, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, é o acesso a essa língua que vai fazer com que o surdo conheça o mundo, a matemática ou qualquer outra coisa. “O principal desafio para se ensinar qualquer disciplina para o surdo é a língua. Somos uma sociedade majoritariamente ouvinte, e o surdo, inserido nela, tem uma diferença linguística”, afirma.

Essa diferença linguística se torna um problema quando crianças surdas não têm acesso ao aprendizado da Libras desde pequenas, causando um atraso no seu desenvolvimento. “A língua de sinais tem que ser a primeira língua para o aluno surdo, pois é por meio dela que ele forma seus conceitos no ensino de matemática. Para ele compreender o conceito, precisa ter uma língua, que o faz compreender tudo, para que a conhecimento dele também evolua. Linguagem e cognição andam sempre juntos”, explica Adriana.

Adriana ministrando o curso de ensino de matemática para surdos

As dificuldades da língua – E o que impede essas crianças de não terem a exposição ideal à língua de sinais? Um dos problemas, segundo Adriana, é a tentativa de levá-los a usar a linguagem falada, ou oralidade: “A grande maioria dos surdos são filhos de pais ouvintes. Por isso, a tendência desses pais é buscar técnicas reabilitadoras da audição e, consequentemente, da oralização. Nesse processo, que pode durar aproximadamente sete anos, a criança pode não estabelecer linguagem alguma, oral nem visual”. Com isso, é estabelecido o atraso no aprendizado por conta da linguagem.

O outro problema, de acordo com Adriana, está no formato atual da escola inclusiva. Hoje, nessas escolas, existe um intérprete em sala de aula que faz a intermediação entre as línguas – entre o professor regente e o aluno surdo. Mas a especialista afirma que esse formato não é efetivamente inclusivo, visto que o professor não possui conhecimento da outra língua. “Esse aluno está inserido num ambiente ouvinte, mas ele tem um contato mínimo com seus colegas porque muitos não sabem se comunicar com ele. Então, ele fica restrito ao intérprete”, ela afirma. E isso resulta em uma situação onde o intérprete acaba se responsabilizando pelo aluno, quando essa função deveria ser do professor. “Essa relação entre professor e aluno deveria ser mais próxima por meio de um conhecimento básico da língua de sinais. O professor não precisa ter domínio completo da língua, mas, pelo menos, um conhecimento mínimo para incluir o aluno no contexto das explicações”, diz.Imagine, então, que juntando todas essas situações, o que poderia ser um problema simples acaba se acumulando à medida que o conteúdo da escola avança. Como o aluno chega na escola sem domínio de uma língua, o intérprete precisa ensinar tanto a comunicação em Libras quanto o sinal de um conceito matemático que a criança nunca viu. “Ou seja, ele tem que, ao mesmo tempo, constituir a língua e compreender os conceitos. Isso vai gerar um atraso na aprendizagem”, explica Adriana.

Trocando números por sinais – Quando a criança já está atrasada no conteúdo, o que fazer? Até mesmo um jogo de “par ou ímpar” pode não fazer sentido para ela. Por isso, Diany Nakamura, estudante de Licenciatura em Matemática do ICMC, pesquisou algumas estratégias para ensinar um aluno do 9º ano do Ensino Fundamental. Com deficiência auditiva, o estudante teve seu ensino prejudicado pela dificuldade de acesso ao conhecimento, já que não havia um intérprete em sala de aula.

Para promover a utilização de materiais adaptados, Diany trocou os números escritos da tabuada pelo sinal equivalente em Libras: “Quem tem deficiência auditiva e sabe Libras tem um reconhecimento visuo-espacial, ou seja, quando você faz um movimento com as mãos, ele imediatamente procura na cabeça o significado daquilo. É um processo que acontece muito mais rapidamente do que se o educador mostrasse o número por escrito”.

Folha de tabuada em Libras, feita por Diany. Cada coluna representa um valor da tabuada, do 3 ao 8

De acordo com Diany, o estudante não fazia a contagem numérica usando as mãos, associando cada dedo a uma unidade. Então, na hora de jogar “par ou ímpar”, por exemplo, ele não compreendia que havia um número sendo mostrado, mas tentava interpretar se aquela disposição da mão significava um sinal em Libras. Por isso, Diany mudou o jeito de jogar “par ou ímpar”: a ideia foi usar o sinal em Libras do número desejado em vez de simplesmente contar os dedos.

Segundo ela, aos poucos, o conceito foi sendo internalizado no aluno, e ele passou a compreender até mesmo a diferença entre equações. “Hoje, ele tem menos dificuldades na escola, e o atraso não é tão evidente”, afirma.

A escola bilíngue – O desafio, hoje, é que a Libras seja uma língua em circulação na sala de aula. Por isso, o formato ideal, de acordo com Adriana, é a escola bilíngue, em que a Libras seja a primeira língua. “Essa escola valoriza a língua de sinais, tudo é ensinado em língua de sinais. Em um segundo momento, entra a língua portuguesa na modalidade escrita”, explica a professora.

Mas também é necessário que a educação em casa seja feita em Libras. “O ideal é o ensino de língua de sinais desde quando for diagnosticada a surdez. Com isso, começa todo um processo de exposição à língua, porque é assim que a criança vai aprender e, quando chegar à escola, já tem uma língua constituída”, diz a professora.

Se houver esse embasamento, até nas escolas inclusivas, com a presença de um intérprete, a intermediação será mais eficiente. “O aluno já vai ter subsídios para compreender esse conteúdo por conta da língua de sinais que já estará constituída”, afirma.

A formação do professor – Se é preciso que o professor tenha, pelo menos, uma noção básica da língua de sinais, como formar esse profissional para que ele seja ainda mais capacitado? Por meio de um decreto publicado no Brasil em 2005, os cursos de licenciatura no país devem oferecer uma disciplina curricular obrigatória de Libras, enquanto os bacharelados devem tê-la como optativa. Mas isso não é suficiente para formar um profissional na língua. “Assim como qualquer língua, nós não conseguimos aprender a Libras em seis meses nem mesmo em um ano. O professor precisa ter noção de quem é o surdo, quais são as especificidades dele, qual é a melhor forma dele aprender, como se deu todo esse processo de educação até chegar onde ele está agora”, explica.

A disciplina de ensino de Libras é ministrada por Adriana nos cursos de licenciatura em Matemática, oferecido pelo ICMC, e licenciatura em Ciências Exatas, oferecido em parceria com o Instituto de Química de São Carlos e Instituto de Física de São Carlos. Pedagoga e doutora em educação, ela dedica sua carreira acadêmica à pesquisa e docência na área de educação de surdos. A disciplina prioriza o vocabulário básico, para que o professor seja capaz de se comunicar com o aluno surdo. Assim, o educador construirá uma relação com esses alunos e, ainda que não saiba a língua por completo, poderá assumir a responsabilidade pelo ensino, a qual deixará de ser do intérprete. A partir daí, eles podem estabelecer uma parceria para pensar em práticas e estratégias que favoreçam o aprendizado dos alunos surdos.

Alunos do curso de ensino de matemática em Libras dizem “A matemática está em tudo”
Além das disciplinas regulares, Adriana ministra um curso de extensão sobre ensino de matemática para surdos, que é aberto à comunidade, onde o conteúdo é aprofundado. Por isso, o requisito básico é que os participantes tenham um curso introdutório de Libras. Entre os matriculados estão alunos que fizeram a disciplina regular e quiseram dar continuidade ao estudo, professores de outras instituições, alunos de mestrado e doutorado, professores da rede municipal e intérpretes de língua de sinais.

No curso, Adriana apresenta um tema e, durante as aulas, os participantes debatem as melhores formas de transmitir o conteúdo e os conceitos aos surdos. “Trabalhamos estratégias metodológicas, reflexões mais aprofundadas sobre o ensino de matemática para surdos, visto que os alunos já têm uma base na língua”, afirma.

Um exemplo do conteúdo abordado é a geometria. Inicialmente, achamos que é mais simples para os alunos surdos aprenderem esse conteúdo, por ser mais visual. Mas, apesar de captar a imagem com mais facilidade, eles ainda precisam compreender o conceito. Explicar o que é um triângulo, qual o seu sinal, o que é ângulo são, de acordo com Adriana, algumas das dificuldades encontradas no caminho: “temos que proporcionar atividades práticas para que ele compreenda o conceito”, explica. Segundo ela, o aspecto visual é extremamente importante, mas deve ser aliado a um suporte, como um material de apoio em Libras para o aluno estudar.

Adriana ainda explica que, em alguns casos, o intérprete pode entrar em acordo com o aluno para criar um sinal, porque a construção do conceito caminha junto com a linguagem. “Como a língua de sinais é uma língua em construção, temos muitas áreas que não têm um vocabulário oficial. Então, o intérprete vai construindo a língua junto com o aluno, na prática. Esse acordo é possível desde que, em outro momento, exista um trabalho para conhecer o sinal oficial”, conta a professora.

Segundo ela, é preciso existir uma maior valorização da língua de sinais, para que os professores compreendam sua necessidade. “Os professores têm o conhecimento específico da matemática, mas não sabem a metodologia, a didática e a prática, com esse olhar voltado para o surdo e sua especificidade”, diz Adriana.

A professora finaliza afirmando que o principal problema nessa área está relacionado à forma como as pessoas enxergam a língua de sinais: “É importante que existam as leis, mas um dos desafios é a língua sair do status de apenas obrigatória. No meio social, as pessoas precisam valorizá-la enquanto língua, em vez de gestos ou mímica. Ela tem características próprias que a definem enquanto meio de comunicação e expressão da comunidade surda, e se é importante, assim como o inglês ou espanhol, por que não ser uma disciplina curricular para as crianças? Se for assim, no momento em que elas precisarem usar a Libras, vai ser natural”.

Texto: Alexandre Wolf – Assessoria de Comunicação ICMC/USP
Fotos: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP


ESTA REPORTAGEM FAZ PARTE DO ESPECIAL DO JORNAL DA USP 

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Vem pro ICMC: Instituto estará de portas abertas nesta quarta-feira

Atividades são gratuitas e público não precisa sequer realizar inscrições, basta aparecer

Robôs, realidade aumentada, jogos e diversas atividades matemáticas divertidas estão entre as atrações gratuitas que poderão ser conferidas pelo público nesta quarta-feira, 25 de outubro, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. É quando o Instituto estará de portas abertas para receber a comunidade pela manhã, das 9 às 12 horas, e à tarde, das 14 às 17 horas.

A iniciativa faz parte da programação que o Instituto preparou para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que tem como tema, este ano, a matemática está em tudo. Além de uma mostra tecnológica, em que serão apresentadas atividades de pesquisa e extensão realizadas nos mais de 30 laboratórios do Instituto, a programação do evento contará com palestras e bate-papo com alunos e professores. É uma oportunidade para que os estudantes esclareçam suas dúvidas e obtenham informações sobre as perspectivas para a carreira de quem escolhe um dos oito cursos de graduação oferecidos pelo ICMC.

Vale ressaltar que a USP é uma universidade pública e gratuita, reconhecida como uma das melhores Universidades do Brasil. Os estudantes podem ingressar nos cursos oferecidos pela instituição via Sistema de Seleção Unificada (Sisu) ou pelo vestibular da Fuvest.

Mais informações
Evento no Facebook: icmc.usp.br/e/2b834
Dúvidas: escreva para ccex@icmc.usp.br ou ligue para (16) 3373.9146.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A matemática está em tudo: mergulhe no especial do Jornal da USP


Despertar um novo olhar para a matemática é o principal objetivo do Especial A matemática está em tudo. Lançado nesta segunda-feira, 23 de outubro, o Especial é uma plataforma multimídia fruto de um projeto que nasceu na área de comunicação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, em parceira com o Jornal da USP, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI).

Aliás, A matemática está em tudo é o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017. Nesta semana, uma maratona de atividades acontecerá no ICMC, veja a programação completa: www.icmc.usp.br/e/91111

Além disso, este e o próximo ano foram instituídos como o Biênio da Matemática no Brasil. Nesses dois anos, diversos eventos tomarão conta do território nacional, incluindo o Congresso Internacional de Matemáticos, que ocorrerá pela primeira vez no país de 1 a 9 de agosto de 2018. 

A equipe que elaborou o Especial espera que, com esse material, a sociedade brasileira possa enxergar a matemática e as demais ciências com mais afeto.

Acesse e compartilhe o Especial:

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A matemática que (quase) ninguém vê: entre na barbearia

As barbearias de antigamente voltaram à moda em grande estilo, entrar em uma delas pode ajudar você a entender melhor como funciona o raciocínio matemático de uma forma divertida e inusitada



Barbeiro, quem faz sua barba? Uma pergunta matematicamente intrigante
Crédito: Fernando Mazzola

Era uma vez um barbeiro. Na cidade em que ele trabalhava, as barbearias ainda não tinham se proliferado e ele continuava, há muitos anos, fazendo o que sempre soube fazer muito bem. Dizia com orgulho a todos que entravam em sua barbearia: “barbeio todos os homens da cidade, exceto aqueles que se barbeiam a si mesmos”. O ofício que exercia aprendera com seu pai, que havia aprendido com seu avô, que havia aprendido com seu bisavô, assim por diante, de geração em geração. Um dia, um professor de matemática entrou naquela barbearia, foi recebido com a costumeira frase, e imediatamente perguntou: barbeiro, quem faz sua barba?

Apesar de não morar nessa hipotética cidade nem ter nenhuma informação adicional sobre os personagens especialmente criados para essa breve história, você há de convir, caro leitor, que não se trata de uma pergunta fácil de ser respondida. Por isso, não se surpreenda ao revelarmos que inúmeros matemáticos e filósofos vêm se dedicando a estudar questões como essas há séculos. São perguntas que, independentemente da resposta, sempre nos levam a um beco sem saída, ou, aproveitando o trocadilho, a uma barbearia sem saída. Por quê? Basta pensar logicamente! Caso o barbeiro responda ao professor que ele faz sua própria barba (já que é um profissional muito competente, ora bolas!), então, já não se pode dizer que ele barbeia apenas aqueles que não se barbeiam a si mesmos. Por outro lado, se o barbeiro responder que é outra pessoa que o barbeia, então, é mentira que ele barbeava todos aqueles que não se barbeavam a si mesmos.

Os matemáticos dão um nome a essas situações do tipo “beco sem saída”: paradoxo. Mas não se assuste, apesar de parecer complicado à primeira vista, os fenômenos inusitados que acontecem no mundo dos paradoxos não são tão complicados assim. Nesse sentido, esses fenômenos têm um comportamento em comum: aparentemente são de um jeito, no entanto, quando vamos analisá-los de perto, somos levados a conclusões contraditórias ou a situações que contradizem nossa intuição comum. É por isso que os paradoxos são capazes de dar nó na cabeça de muita gente.

É hora de nos despedirmos do barbeiro e caminhar até a casa do escritor que mora nessa hipotética cidade. Ele está sentado na varanda, diante de uma máquina de escrever porque não é afeito a computadores. Observando sua escassa produção, você notará que um computador não seria mesmo de grande utilidade. Durante toda a vida, esse escritor escreveu apenas uma frase: “Eu estou mentindo”. Está paralisado diante dessa afirmação, que seria o princípio do seu primeiro livro. Quando pensa que ao escrever “Eu estou mentindo”, ele está falando a verdade, nota que o início do livro é uma mentira, porque ele não está mentindo nessa frase. Por outro lado, quando pensa que a afirmação é falsa, o escritor também nota que está começando seu livro com uma farsa, porque se ele não é um mentiroso, então por que diz que é?

Quebrando a cabeça - Quem desejar mergulhar fundo no mundo sem saída do paradoxo do mentiroso pode ler o artigo Paradoxos Semânticos, do professor Ricardo Santos, da Universidade de Lisboa. Segundo o professor, “o paradoxo do mentiroso é conhecido desde a antiguidade e atraiu a atenção de muitos pensadores (e de algum dos mais capazes) ao longo da história. Outros não lhe atribuíram importância, ou viram-no como uma mera curiosidade, uma espécie de charada ou de quebra-cabeças sem grandes consequências”. No livro, descobrimos que a invenção do paradoxo do mentiroso é atribuída ao filósofo Eubulides de Mileto, que viveu na Grécia no século IV antes de Cristo.

A origem desse paradoxo também está ligada ao cretense Epimênides, que viveu na Grécia dois séculos depois de Mileto. Ele afirmou que todos os cretenses são mentirosos. “Dado que o próprio Epimênides era cretense, sua frase não poderia ser verdadeira, pois ele também teria que estar mentindo. Seria, então, falsa, ou seja, deveria existir ao menos um cretense que dizia a verdade, e se esse cretense fosse o próprio Epimênides sua afirmação deveria ser verdadeira”, escreve o matemático italiano Alessio Aprosio no livro Pinóquio no país dos paradoxos. Ele explica que esse tipo de paradoxo surge no momento em que se considera uma sentença qualquer que fale de si mesma, ou seja, uma sentença em que há autorreferência. “Tentando escrever outras sentenças autorreferentes, é possível construir diversas situações interessantes, ainda que nem sempre contraditórias”, acrescenta Alessio.

O matemático italiano Alessio Aprosio recria a obra clássica
“As aventuras de Pinóquio”, fazendo o popular boneco de madeira
se deparar com enigmas e problemas lógicos
Crédito: Divulgação/Editora Zahar

Tanto a obra de Alessio quanto a de Ricardo são pratos cheios para quem aprecia esse mundo repleto de contradições. Aliás, o professor Daniel Smania, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, confessa que o paradoxo do mentiroso é o seu predileto: “O desconforto causado por esse paradoxo surge quando tentamos compreendê-lo a partir da perspectiva da lógica matemática clássica”, diz o professor.

Formulada pelo filósofo grego Aristóteles, que também viveu no século IV antes de Cristo, a lógica clássica foi criada para tentar explicar como funciona o raciocínio humano e se baseia, grosso modo, em três regras básicas: o princípio de identidade; o princípio da não contradição; e o princípio do terceiro excluído. De acordo com o princípio da identidade, uma coisa é sempre idêntica e ela mesma. Já o princípio da não contradição pressupõe que uma afirmação não pode ser verdadeira e falsa simultaneamente. Por último, vem o princípio do terceiro excluído, que prevê a existência apenas de dois valores lógicos: verdadeiro ou falso, não há meio termo.

O fato é que, por mais que inúmeros matemáticos tenham se debruçado sobre o paradoxo do mentiroso tentando não romper com esses princípios aristotélicos, nenhum deles obteve pleno êxito diante da comunidade científica. Assim, pelo menos sob a perspectiva da lógica clássica, o paradoxo continua insolúvel.

O paradoxo do mentiroso é o favorito do professor Daniel Smania.
Crédito: Fernando Mazzola

Abrindo a mente - Perceba que a lógica clássica pode fazer muitos de nós nutrir certo preconceito em relação à matemática. Porque é uma lógica que nos restringe a um universo de certos e errados, de não contradições, sem meios termos. No entanto, quando observamos a trajetória humana, a todo o momento nos deparamos com situações que não podem ser classificadas como certas ou erradas, permeadas de contradições e meios termos. “A lógica clássica é linda, ninguém vai derrogá-la. Para grande parte dos fenômenos, ela é fundamental”, revela a professora Ítala D’Ottaviano, professora do departamento de filosofia da Unicamp. Em agosto, ela esteve no ICMC para falar sobre Lógica e pensamento crítico no ciclo de seminários Ciência que Elas fazem, que fez parte da programação da 20ª edição do Simpósio de Matemática para a Graduação.

A professora dá um exemplo interessante de um fenômeno presente no nosso dia a dia e que a lógica clássica é incapaz de explicar: as redes sociais. “Coisas emergem ali que não conseguimos entender, que não se resumem apenas à soma das partes. Nesse fenômeno, você lida, no mínimo, com graus distintos de verdade e com contradições”, explica Ítala.

Outro exemplo que a pesquisadora traz à tona vem da física. Nesse campo científico, existe atualmente a convivência de teorias físicas completamente contraditórias entre si. Quando um engenheiro vai construir uma ponte, precisa utilizar princípios físicos criados por Isaac Newton que, apesar de já estarem ultrapassados, ainda são essenciais nesse tipo de aplicação. Porém, esses mesmos princípios não servem para explicar como funcionam as entranhas dos átomos, um universo invisível aos olhos humanos. Nessas entranhas, há os elétrons, que têm um comportamento bastante inusitado (para não dizer contraditório): dependendo do instrumento que se usa para observá-los, eles se comportam como partículas ou como ondas. Ou seja, são, a um só tempo, uma coisa e também outra coisa.

Isso rompe com um dos princípios da lógica clássica, o da identidade. Outra complicação: os elétrons podem estar em dois lugares ao mesmo tempo. Para compreender esse universo, novas teorias foram criadas no campo da física quântica. “Se fosse pensar em mecânica quântica, o Aristóteles ficaria atrapalhadíssimo”, brinca Ítala. “Ou talvez ele seria brilhante e descobriria como resolver esse problema. O fato é que não se pode olhar para a mecânica quântica pensando nos princípios da lógica clássica”, completa a professora.

A professora Ítala explica que, atualmente, uma pluralidade de lógicas
convivem simultaneamente e algumas delas nos possibilitam viver em um
mundo cheio de teorias contraditórias
Crédito: Denise Casatti

Não é à toa que, desde o início do século XX, assistimos ao surgimento das chamadas lógicas não clássicas, já que passamos a compreender que pode existir uma pluralidade de lógicas no universo. Uma das lógicas não clássicas que possibilita vivermos em um mundo com diversas teorias contraditórias entre si, sem que uma derrube a outra, é chamada de paraconsistente. Em geral, as lógicas paraconsistentes rompem com o princípio da não contradição. “Apesar dos matemáticos desenvolverem seu trabalho baseados na suposição de que a matemática é livre de contradições, nas ciências empíricas as contradições parecem inevitáveis e a presença de contradições não é condição suficiente para que se perca o interesse pelas teorias”, diz Ítala em entrevista que concedeu à revista de Filosofia Temática Complexitas (edição de julho/dezembro de 2016).

Perceba agora que, se pensarmos em um universo com uma pluralidade de lógicas, talvez os preconceitos que muitos de nós nutrimos em relação à matemática possam cair por terra e passemos a olhar para essa ciência com mais afeto. Então, você poderá escolher seu paradoxo predileto, porque há uma variedade enorme, para todos os gostos e em todos os domínios. Afinal de contas, como escreve o matemático Marcelo Viana, diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no artigo Paradoxos estão por toda a parte, publicado no jornal Folha de S. Paulo, os paradoxos são “uma fonte inesgotável de encantamento e um instrumento para aprimorarmos o raciocínio”.

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação ICMC/USP

ESTA REPORTAGEM FAZ PARTE DO ESPECIAL DO JORNAL DA USP 
"A MATEMÁTICA ESTÁ EM TUDO": http://jornal.usp.br/especial/matematica/

Para saber mais
Artigo Paradoxos Semânticos:
Artigo Paradoxos estão por toda a parte:
Vídeos da série “Isto é Matemática”:

Contato para esta pauta
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Descubra as relações entre a música, a matemática e a computação

Minicurso gratuito vai abordar conceitos desses três campos do conhecimento durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

Atividade acontecerá dia 28 de outubro, sábado

Quais são as relações que existem entre a música, a matemática e a computação? Responder essa pergunta é um dos objetivos do minicurso que acontecerá dia 28 de outubro, sábado, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. A atividade faz parte da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

“A música, a matemática e a computação estão fortemente interligadas pela lógica. Mas não é raro encontrar estudantes ou profissionais com formação em matemática ou computação que desconhecem a correlação com a música. Também não é incomum encontrarmos profissionais dessas áreas com talento ou predisposição para tocar algum instrumento musical”, explica o professor Murillo Homem, do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ele vai ministrar o minicurso Música, matemática e computação, que busca motivar os participantes para o estudo dessas ciências, vislumbrando os modelos matemáticos e computacionais que envolvem o universo musical. 

A iniciativa tem como objetivo, ainda, promover uma troca de conhecimentos entre estudantes do ensino médio e alunos de graduação. Entre os itens que serão abordados estão: a matemática do tom puro; os parâmetros físicos do som, como frequência, amplitude e fase; os parâmetros perceptuais do som, como a intensidade, a altura e o timbre; o tom complexo; a representação da informação sonora; as noções de síntese do som; além das ferramentas e ambientes para a computação musical.

O minicurso é aberto a todos os interessados, gratuito e acontecerá das 8h30 às 12h30 e das 14 às 18 horas na sala 4-005, no bloco 4 do ICMC, que está localizado na avenida Trabalhador são-carlense, 400, na área I do campus da USP, em São Carlos. Há 40 vagas disponíveis. As inscrições podem ser realizadas até a próxima quarta-feira, 25 de outubro, ou enquanto houver vagas no seguinte link: icmc.usp.br/e/cc773. Vale lembrar que o preenchimento do formulário não garante a vaga, as confirmações das inscrições serão enviadas por e-mail.

Confira a programação do ICMC: www.icmc.usp.br/e/91111

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação ICMC/USP
Crédito da imagem: freevector.com 

Mais informações
Link para inscrições: icmc.usp.br/e/cc773
Link com o programa do minicurso: icmc.usp.br/e/30071
Comissão de Cultura e Extensão Universitária do ICMC: (16) 3373.9146 ou ccex@icmc.usp.br

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Beleza da mulher com câncer: exposição está em cartaz na Biblioteca do ICMC

Público pode conferir a exposição fotográfica, que é gratuita, até 27 de outubro



Contribuir para a prevenção do câncer de mama é o objetivo de uma exposição fotográfica que está em cartaz na Biblioteca Achille Bassi, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Aberta ao público e gratuita, a exposição é uma iniciativa do Grupo Oncovita e marca o mês de conscientização sobre o câncer de mama, o Outubro Rosa.

“Dedico essa minha primeira exposição fotográfica a todas as mulheres e homens que estão lutando contra o câncer”, explica o fotógrafo Alan Almeida em um dos painéis da exposição. “Espero que cada um que olhar essas fotos pare para refletir e tome mais cuidado com a própria saúde fazendo exames preventivos”, acrescenta o fotógrafo.

A exposição fica em cartaz até o dia 27 de outubro na Biblioteca, que se localiza na área I do campus da USP, no centro de São Carlos. As visitas podem ser realizadas de segunda a sexta, das 8 às 21h30, e aos sábados, das 9 às 12 horas.

Mais informações
Página do Grupo Oncovita no Facebook: https://www.facebook.com/belezadamulhercomcancer
Comissão de Cultura e Extensão Universitária: (16) 3373.9146

ICMC promove viagem didática à Fundação Dorina Nowill para Cegos

Iniciativa é aberta à participação de todos os estudantes de licenciatura do campus da USP, em São Carlos

Proporcionar que os licenciandos do campus da USP, em São Carlos, conheçam o trabalho realizado pela Fundação Dorina Nowill para Cegos. Esse é o objetivo da viagem didática que o Laboratório de Educação Matemática do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP promoverá na próxima segunda-feira, 23 de outubro. 

Para participar, basta se inscrever neste formulário eletrônico: icmc.usp.br/e/5e13e. Há 30 vagas disponíveis e terão prioridade na visita os alunos matriculados na disciplina Psicologia e na disciplina Ensino de matemática para alunos com necessidades especiais.

O ônibus que levará os estudantes à Fundação, localizada em São Paulo, sairá de São Carlos às 6h45 do ponto de ônibus próximo à portaria principal da área I do campus da USP, na avenida Trabalhador são-carlense. O retorno está previsto para as 20 horas. É necessário levar a carteira USP e demais documentos pessoais. O custo da viagem se restringe ao almoço, que será realizado em estabelecimentos comerciais próximos à Fundação.

Sobre a instituição - A Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma organização sem fins lucrativos, de caráter filantrópico, que há 70 anos se dedica à inclusão social de pessoas com deficiência visual. A instituição oferece, gratuitamente, serviços especializados para pessoas com deficiência visual e suas famílias, nas áreas de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade. 

A Fundação também disponibiliza cursos, capacitações e consultorias, além de produzir e distribuir gratuitamente livros em braille, falados e digitais acessíveis, diretamente para o público e também para cerca de 2,5 mil escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil.

Texto - Denise Casatti - Assessoria de Comunicação ICMC/USP

Mais informações
Telefone: (16) 3373-9153 (professora Esther Prado)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

A matemática está em tudo: venha descobrir na programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

Você está convidado para participar de uma série de iniciativas gratuitas do ICMC, que vão mostrar o quanto a matemática é divertida e fundamental para o desenvolvimento da humanidade





A matemática está em tudo é o tema deste ano da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Para mostrar como a matemática está presente no nosso dia a dia e contribui para explicar a beleza, as contradições e as transformações constantes do nosso universo, o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, realizará uma série de atividades gratuitas e abertas ao público de 23 a 29 de outubro.

Haverá mostras tecnológicas, palestras, mesas redondas, cursos e até um campeonato de xadrez. A programação completa está disponível em icmc.usp.br/e/3373e. Vale destacar que algumas atividades requerem inscrição prévia.

A abertura acontecerá no auditório Fernão Stella Rodrigues Romano a partir das 9h30 de segunda-feira, dia 23. A seguir, o professor Hildebrando Rodrigues irá mostrar como a matemática pode nos ajudar a compreender os eventos que acontecem de forma sincronizada no nosso mundo, tal como os batimentos cardíacos. 

Para quem gosta de jogos de tabuleiro, a iniciativa Xadrez no ICMC acontecerá nas noites de segunda a quinta-feira, no terceiro andar da Biblioteca Achille Bassi. O público poderá aprender a jogar ou treinar com outros jogadores e, no final, participar de um campeonato. 

As atividades prosseguem na terça-feira, dia 24, a partir das 9 horas, com uma mesa redonda sobre tecnologias para o ensino de matemática. Na quarta-feira, dia 25, o ICMC estará o dia todo de portas abertas para receber os estudantes do ensino médio da região com uma mostra tecnológica, palestras e bate-papo com professores e alunos da USP. Na quinta-feira, o destaque é a mesa redonda Mulheres na ciência e a jornada científica da Embrapa, que se estende até sexta-feira.

Mostra tecnológica será uma das atrações do dia 25 de outubro

Para encerrar as atividades de sexta, nada melhor do que uma sessão de cinema. É o que acontecerá a partir das 19h30 no cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP, quando a ciência vai invadir o cinema. O professor Fernando Osório, do ICMC, discutirá as relações entre robótica e matemática a partir de trechos de vários filmes. Essa será a primeira edição do Ciência com Pipoca em São Carlos.

No sábado, é a vez do minicursos Música, matemática e computação, que será ministrado pelo professor Murillo Homem, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). No domingo, a programação se encerra na Praça da XV, onde você poderá conferir, das 13 às 18 horas, algumas tecnologias desenvolvidas pela USP e outras Instituições que apoiam a iniciativa, como a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a Embrapa Pecuária Sudeste e a Embrapa Instrumentação.

Texto: Denise Casatti - Assessoria de Comunicação do ICMC/USP

Mais informações
Veja a programação completa do evento: icmc.usp.br/e/3373e
Confirme presença no Ciência com Pipoca pelo Facebook: icmc.usp.br/e/cc7fe
Inscreva-se no ICMC de Portas Abertas: icmc.usp.br/e/333ae
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br

Ciência com Pipoca estreia em São Carlos com bate-papo sobre robótica e matemática

Sessão gratuita terá exibição de trechos de filmes e discussão sobre conceitos científicos no cineclube do Centro de Divulgação Cultural e Científica (CDCC) da USP

Professor Osório explicará as relações entre robótica e matemática

A ciência vai invadir o cinema no próximo dia 27 de outubro em São Carlos, durante a Semana Nacional de Ciências e Tecnologia. É quando acontecerá a primeira sessão do Ciência com Pipoca, a partir das 19h30, no cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP. 

As relações entre a robótica e a matemática serão discutidas a partir de trechos de vários filmes e animações pelo professor Fernando Osório, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP. O público poderá esclarecer as dúvidas com o professor Osório e descobrir o quanto conversar sobre ciência pode ser divertido.

“Os robôs e a robótica estão cada vez mais presentes em nossa sociedade e muito em breve farão parte do dia a dia de nossas vidas”, explica Osório. “O cinema e a ficção científica vêm explorando amplamente esse tema, mas será que esses filmes representam apenas obras de ficção científica ou o que eles mostram pode vir a se tornar uma realidade no futuro? Precisamos nos preocupar com uma revolução dos robôs?”, questiona o professor, que promete responder essas perguntas durante o evento.

A participação é gratuita, não é necessário fazer inscrições previamente, basta confirmar presença no evento via Facebook: icmc.usp.br/e/cc7fe. A sessão acontecerá na sexta-feira, dia 27 de outubro, a partir das 19h30. Os 110 lugares disponíveis serão preenchidos por ordem de chegada.

Essa será a primeira edição do Ciência com Pipoca em São Carlos, iniciativa realizada pela primeira vez no ano passado em Ribeirão Preto pelo Instituto de Estudos Avançados da USP, Polo Ribeirão Preto (IEA-RP), pelo Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias (CRID) e pelo Centro de Terapia Celular (CTC), com apoio do ICMC.



Texto: Denise Casatti - Assessoria de Comunicação do ICMC

Mais informações
Página do evento no Facebook: icmc.usp.br/e/cc7fe
Local: Cinceclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP: rua Nove de Julho 1227, Centro.
Confira a programação geral da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do ICMC: icmc.usp.br/e/56c4e
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Computação mais próxima da sociedade: livro de professor e ex-aluna do ICMC é indicado ao Prêmio Jabuti

Obra escrita para descomplicar a computação está entre as dez finalistas na categoria Engenharias, Tecnologias e Informática


Com 200 páginas e oito capítulos, o livro mostra exemplos do dia a dia
 para ilustrar os diferentes cenários em que a computação é aplicada
(crédito da imagem: Fernando Mazzola)

O livro Introdução à Computação – Hardware, Software e Dados está entre os finalistas do Prêmio Jabuti, considerado o mais importante do mercado editorial brasileiro. De autoria do professor André de Carvalho, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, e de Ana Carolina Lorena, professora da Universidade Federal de São Paulo e ex-aluna do ICMC, a obra explica conceitos técnicos de forma descomplicada, além de relatar curiosidades e fatos históricos.

“Para nós, estar entre os finalistas é um reconhecimento sobre a importância do tema apresentado e sobre a forma como escolhemos abordá-lo”, explica o professor André. “Tradicionalmente, as obras de introdução à computação são muito técnicas e tratam apenas de aspectos relacionados a hardware e a software. O nosso objetivo foi produzir um livro interdisciplinar, escrito para quem não é um especialista em computação”, completa o professor. 

Nesse sentido, a obra inova ao explicar a importância da computação para outras áreas do conhecimento, mostrando exemplos de sua aplicação. Outro diferencial é que as diversas subáreas desse campo do conhecimento são apresentadas ao leitor, com um destaque especial para a ciência de dados, que está em franca expansão.

Diretor do Centro de Aprendizado de Máquina em Análise de Dados (NAP-AMDA), André também é vice-diretor do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas a Indústria (CeMEAI) e faz parte da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE). Não é a primeira vez que ele e a professora Ana concorrem ao Jabuti. Em 2012, eles ganharam esse prêmio por causa do livro Inteligência Artificial: uma abordagem de aprendizado de máquina, redigido em parceria com mais dois autores: Katti Faceli, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e João Gama, da Universidade do Porto, em Portugal.

Este ano, 2.346 mil obras concorreram à 59ª edição do Jabuti, que tem 29 categorias. No último dia 3 de outubro, foram anunciados os finalistas de cada categoria. No momento, está acontecendo a segunda fase de avaliação, que termina em 31 de outubro, quando serão conhecidos os três primeiros colocados de cada categoria. Todos que ficarem em primeiro lugar receberão o troféu Jabuti e R$ 3,5 mil. Quem ficar na segunda e terceira colocação recebe apenas o troféu. A cerimônia de entrega do Jabuti acontecerá em 30 de novembro, no auditório do Ibirapuera, em São Paulo.

Para André, estar entre os finalistas é um reconhecimento em relação à 
importância do tema apresentado e à forma que os autores escolheram abordá-lo
(foto: João Terazani - CeMEAI)

Descomplicando a computação - Você sabia que a primeira pessoa a programar um computador foi uma mulher? Ou então que existe um teste que permite identificar se você está falando com um ser humano ou com uma máquina? Curiosidades como essas são encontradas durante a leitura de Introdução à Computação – Hardware, Software e Dados.

Segundo o professor, quem não é da área de computação, como estudantes de humanas, de engenharia e até do ensino médio, não tem acesso a um livro que fale sobre os aspectos sociais da computação, mostre como ela pode ajudar a resolver problemas de diferentes campos do conhecimento e como é feita a análise de diversos tipos de dados. Composta por 200 páginas e oito capítulos, o livro mescla exemplos reais do dia a dia para ilustrar os múltiplos cenários em que a computação é aplicada. Para tornar o conteúdo ainda mais atraente, temas atuais são debatidos, exercícios são propostos e uma série de fatos históricos e curiosidades são relatados. 

Uma dessas curiosidade que está presente no livro ocorreu em 2008, na inauguração de um terminal de um aeroporto da Inglaterra. Um problema em um programa de computador fez com que 42 mil bagagens fossem enviadas para destinos incorretos e muitos voos cancelados, causando um prejuízo de meio bilhão de dólares. “Muitas coisas com as quais nos deparamos no cotidiano têm computação por trás, como em uma máquina de lavar roupa, no acelerador de um automóvel e nos aplicativos de redes sociais”, explica o professor.

Também é objetivo da obra promover uma maior conscientização nos leitores: “Nós tratamos da importância de aprender a como lidar com o descarte adequado de computadores, a reciclar e a utilizar máquinas que consumam menos energia, princípios que fazem parte da chamada Computação Verde”. 

Produzido pela editora LTC, o livro levou cerca de cinco anos para ser escrito. A coautora, Ana Carolina Lorena, é ex-aluna de Ciências de Computação do ICMC. Seu contato com André teve início ainda na graduação, quando foi orientada pelo docente em sua iniciação científica. Mais tarde, eles se encontraram novamente para que o professor lhe orientasse no doutorado. A parceira tem gerado bons resultados e, quem sabe, até mesmo mais um Prêmio Jabuti.

Texto: Denise Casatti - Assessoria de Comunicação do ICMC
Com a contribuição de Henrique Fontes

Mais Informações
Link para o site da editora: icmc.usp.br/e/5842e
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373-9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br