quarta-feira, 25 de maio de 2016

Games, psicologia, mudanças climáticas e envelhecimento agitam segunda noite do Pint of Science

Temas foram debatidos em três diferentes bares da cidade, que atraíram cerca de 270 pessoas no total

Vacas, puns, arrotos e seus efeitos sobre o planeta foi o tema do bate-papo no Vila Brasil
Comandar o personagem de um jogo de vídeo game através de palmas e tapas em uma mesa. Foi assim que começou o debate sobre games na psicologia e a psicologia dos games no Beatniks Road Bar. Enquanto isso, no restaurante Mosaico, o público era apresentado a duas diferentes correntes que estudam o envelhecimento humano. A poucos metros dali, no boteco Vila Brasil, perguntava-se: será que podemos colocar a culpa nas vacas quando falamos sobre as emissões de gases de efeito estufa?

Esses foram os três temas discutidos durante a segunda noite do festival internacional de divulgação científica Pint of Science, que aconteceu na última terça-feira, 24 de maio, em São Carlos. Realizado pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, o evento prossegue nesta quarta-feira, 25 de maio, com mais três bate-papos nos três bares que sediam a iniciativa (confira a programação).

No Beatniks, o psicólogo e pós-doutorando do ICMC, Leonardo Marques, ensinou três séries de comandos ao público a fim de guiar o personagem de um game: palmas e tapas na mesa se alternavam para levá-lo a avançar, agachar ou saltar. O objetivo era treinar organização social, memória e despertar a competição.

No Beatniks, a discussão foi sobre a relação entre os games e a psicologia

Depois da atividade, foi a vez de Maria de Jesus dos Reis, professora do Departamento de Psicologia da UFSCar, lembrar que os primatas e mamíferos também realizam jogos e que eles são muito importantes para o nosso desenvolvimento. “Os jogos humanos têm relação com hábitos sociais, pois vivemos em grupo e, desde cedo, jogamos e vivenciamos essa interação, como em canções infantis e brincadeiras”, disse a professora. Ela ressaltou que os jogos são usados na área da saúde para promover a reabilitação física, combater a depressão e até mesmo o câncer.

A seguir, Gabriel Lima, coordenador de desenvolvimento de jogos na Ludo Educativo, falou sobre o desafio de desenvolver jogos educativos. Para ele, é fundamental mudar o estereótipo que existe sobre esse tipo de game, considerado por muitos como chato. “Ao desenvolver um jogo, é preciso criar um cenário imersivo e tomar cuidado com a trilha sonora”, destacou.

Para encerrar o debate, o professor Seiji Isotani, do ICMC, lançou perguntas que instigaram o público. O docente questionou, por exemplo, se jogos violentos geram violência. A pergunta abriu um debate interessante entre uma minoria que defendia que sim e a maioria, que não. Depois de ouvir os argumentos dos dois lados, o professor disse que há estudos que apontam que esses jogos realmente fazem com que aumente a agressividade de crianças, contrariando o senso comum.

Vacas, puns e arrotos – No Vila Brasil, um tema polêmico esquentou a noite fria: o impacto da pecuária nas emissões de gases de efeito estufa. Para a pesquisadora Patrícia Anchão Oliveira, da Embrapa Pecuária Sudeste, há muita desinformação quando se aborda esse tema. Ela ressaltou que não se pode considerar apenas o animal de forma isolada quando se avalia as emissões, mas que se deve levar em conta todo o sistema de produção. Segundo ela, os resultados de pesquisas nessa área têm demonstrado que é possível mitigar as emissões de gases de efeito estufa com manejo adequado do animal e das pastagens, uso apropriado de insumos, melhoramento genético, adoção de sistemas integrados de árvores, pastagem e agricultura e manejo nutricional.

Carlos e Patrícia falaram sobre o impacto da pecuária nas emissões de gases de efeito estufa
Já o professor Carlos Henrique Prado, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), apresentou para o público um experimento realizado em Ribeirão Preto para saber se as pastagens brasileiras vão suportar o aquecimento global. O experimento simulou um clima com aumento de temperatura e de gás carbônico e os resultados não foram animadores. De acordo com Carlos, o Brasil tem uma vantagem enorme na pecuária em relação aos outros países porque tem uma área grande de pastagem. “O país é hoje o maior exportador de carne do mundo. A pastagem é o que sustenta essa vantagem de produção de carne. Com o experimento, queríamos saber se nossas pastagens teriam condições de sustentar essa vantagem com as mudanças climáticas”, contou.

O público mostrou-se bastante interessado pelo debate e preocupado com o futuro do planeta com o aumento das emissões de gases de efeito estufa e as mudanças climáticas. Os questionamentos foram desde as comparações entre as emissões dos animais e os automóveis até o uso de tecnologias para redução das emissões. “As perguntas, que estavam previstas para acontecer apenas no final das apresentações, começaram a surgir antes. O público quer se informar e a ciência precisa ir onde as pessoas estão, porque elas são curiosas e têm sede de informação. O evento foi fantástico para isso”, afirmou a jornalista Simone Bezerra, da Rádio UFSCar, que mediou o debate. “Foi diferente, porque a gente fica muito preso em sala de aula, em palestras, em ambientes acadêmicos. Em um lugar mais descontraído, você acaba sendo até mais criativo”, concluiu Carlos.

Sem medo de envelhecer – “Nós fomos feitos para morrer aos 40 anos”, afirmou a professora Márcia Cominetti, do Departamento de Gerontologia da UFSCar, na abertura do bate-papo Envelhecimento: o que acontece com nosso corpo e como a tecnologia pode nos ajudar, que aconteceu no restaurante Mosaico. Ela apresentou as duas correntes científicas que estudam o envelhecimento: uma delas explica esse processo baseando-se nos nossos genes e a outra acredita que o envelhecimento é fruto das agressões do ambiente. “Na verdade, não podemos ignorar nosso código genético nem o ambiente”, destacou.

Márcia chamou a atenção para as perdas e o ganho da nossa jornada rumo à velhice e explicou como é possível retardar o processo por meio de uma alimentação saudável, da prática de exercícios físicos e da adoção de uma dieta com restrição calórica. Esse último caso se refere a uma dieta em que a pessoa passa a consumir cerca de 30% menos calorias do que consome normalmente.

Depois, foi a vez da professora Alessandra Rossi Paolillo, do Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar, mostrar como a tecnologia pode contribuir com os idosos. Ela apresentou diversos exemplos de aparatos tecnológicos que podem ajudar quem é acometido por demências, câncer e derrame a se tornar mais independente e ter uma melhor qualidade de vida. A professora é pesquisadora do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) e mostrou como foi desenvolvido o protótipo de um aparelho criado pelo Grupo para combater a osteoartrose, uma doença reumática que afeta as articulações do corpo provocando dor e limitando os movimentos. O protótipo combina o uso simultâneo do laser e do ultrassom e resultou no depósito de uma patente.

Alessandra mostrou o protótipo do aparelho criado pelo Grupo de Óptica do IFSC

Em São Carlos, o Pint of Science conta com o apoio do  Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto de Física de São Carlos (IFSC). Em âmbito nacional, há o patrocínio da Elsevier.

Texto: Denise Casatti - Assessoria de Comunicação ICMC/USP
Com a colaboração de Gisele Rosso e Henrique Fontes

Mais informações
Site do evento: www.pintofscience.com.br
Assessoria de comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br