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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Como a revolução da ciência de dados impacta a capital brasileira da tecnologia

Empresas estão fazendo uma verdadeira peregrinação ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, em São Carlos, em busca de profissionais e de parcerias que possam trazer novas perspectivas para seus negócios a partir dos incontáveis bancos de dados que temos hoje à disposição

"Fique tranquilo, eu sou um cientista de dados": a frase na camiseta de Bruno Coelho, aluno do ICMC, traduz quanto esses profissionais têm se tornado cada vez mais fundamentais no mundo em que vivemos
(crédito da imagem: Reinaldo Mizutani)

O foodtruck que fornece sua comida favorita, o laboratório onde você fez seus últimos exames médicos, o banco em que você é correntista, a seguradora do seu carro e a prefeitura da cidade onde você mora. Há um elo unindo essa lista aparentemente desconectada: os dados valiosos que cada um tem sobre você. São como sementes que, se adequadamente germinadas, podem revelar qual tipo de culinária mais agrada seu paladar, o prognóstico do seu tratamento, suas futuras movimentações financeiras, a provável data em que seu carro precisará de conserto ou de um guincho e qual será o consumo de água, luz e energia da sua residência nos próximos meses. 

À primeira vista, parece o início do roteiro de mais uma série futurista de ficção científica, mas pare e pense: todos esses dados estão à disposição das instituições públicas e privadas com as quais você se relaciona e boa parte da tecnologia para analisá-los já foi criada. O que falta então para o futuro se tornar presente? Profissionais capacitados para gerar valor a partir da captura, do tratamento e da obtenção de novos conhecimentos, úteis e relevantes, com base em todos esses dados.

É fato que o Brasil e os demais países do mundo não estão conseguindo formar a quantidade necessária de pessoas para lidar com esse desafio. A escassez de cientistas de dados nos Estados Unidos oscilava em torno de 140 a 190 mil profissionais, em 2018, um número que só tende a crescer. No Brasil, embora não exista um levantamento que mostre o tamanho da demanda não atendida, quem atua no ensino e na pesquisa na área de ciência de dados tem se surpreendido com a constante peregrinação realizada pelas empresas a institutos especializados buscando mão-de-obra qualificada e o estabelecimento de parcerias. 

Essa efervescente demanda é evidente no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, em São Carlos, a cerca de 240 quilômetros da capital do Estado de São Paulo. Conhecida como capital da tecnologia, a cidade está se transformando na “meca” brasileira da ciência de dados, um campo que se constrói na interseção de conhecimentos computacionais, estatísticos e matemáticos.

“São Carlos está no olho do furacão”, declara o professor André de Carvalho, vice-diretor do ICMC e do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria da USP. Ele revela que grandes corporações visitam constantemente o ICMC para efetuar processos seletivos e buscar parcerias científicas para lidar com seus bancos de dados. Recentemente, por exemplo, Serasa Experian, Intel e Magazine Luiza anunciaram que vão instalar centros de pesquisa na cidade.

Para André de Carvalho, São Carlos já é referência na área de ciência de dados
(crédito da imagem: Reinaldo Mizutani)

Eles valem ouro – Mas por que tantas empresas estão desesperadas pela ajuda dos cientistas de dados? Ora, hoje, cada ser humano com um dispositivo móvel em mãos é um produtor de dados, os quais são gerados em velocidade, volume e variedade cada vez maiores. Esses bancos de dados, quando não são utilizados adequadamente pelas instituições, acabam se tornando verdadeiros elefantes brancos. 

São elefantes que consumem recursos valiosos – pense em quanto espaço físico e virtual é preciso para armazená-los – e não são poucos os gestores que se assustam diante desse cenário complexo de números, nomes, datas, telefones, e-mails, endereços, comentários, curtidas, imagens, vídeos... É um amontoado heterogêneo que costuma conter informações preciosas, capazes de levar à solução de vários problemas e permitir avanços significativos às instituições, contribuindo para a tomada de melhores decisões. Há potencial para aumentar receitas, reduzir custos, aprimorar experiências de clientes e promover inovações. Não saber o que fazer diante dessa riqueza de dados é, no mínimo, desesperador. 

Não é à toa que, nos rankings internacionais que apresentam as melhores carreiras, os cientistas de dados sempre estão em destaque. Na avaliação sobre os melhores empregos do site carreercast.com, eles aparecem na 7ª colocação; no glassdoor.com, surge como a profissão número 1 dos Estados Unidos.

“Os cientistas de dados buscam utilizar, de modo eficiente, ferramentas matemáticas e computacionais para auxiliar no processo de extração de conhecimentos a partir de dados, auxiliando principalmente a tomada de decisões”, explica o professor Gustavo Nonato, do ICMC. Ele acabou de voltar à USP depois de passar um período como professor visitante no Center for Data Science da Universidade de Nova Iorque: “a experiência lá foi muito útil para ter uma visão mais clara do que é a ciência de dados, uma área ainda muito nova”.

Diante da ausência de profissionais com formação específica, as instituições têm recrutado graduados e pós-graduados em computação, matemática e estatística para ocupar cargos com nomenclaturas que vão desde o clássico “cientista de dados” até engenheiro/analista/arquiteto de dados, seguindo por variações como analista de inteligência de negócios entre outras. Segundo Nonato, os alunos recém-formados do ICMC têm sido recrutados a preço de ouro para trabalhar com ciência de dados. Outro professor do ICMC, Marinho de Andrade Filho, explica que os egressos do curso de estatística têm entrado no mercado com salários iniciais variando entre R$ 4 e R$ 6 mil, chegando a R$ 10 mil após cerca de um ano de atuação. 

Depois de uma experiência como professor visitante no Center for Data Science, em Nova Iorque, Gustavo Nonato (último à direita em pé) coordena, atualmente, o grupo de extensão DATA, no ICMC
(crédito da imagem: Reinaldo Mizutani)

Pensando com dados – Será que a Universidade está em sintonia com a revolução da ciência de dados? No ICMC, já é oferecida uma ênfase em ciência de dados, opção disponível para os alunos dos cursos de graduação em computação e em matemática (exceto Licenciatura), e também existe uma especialização em ciência de dados no Mestrado Profissional em Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria (MECAI). Além disso, em breve, serão efetuadas alterações significativas no Bacharelado em Estatística – que passará a se chamar Bacharelado em Estatística e Ciência de Dados – e dois novos cursos serão criados: uma especialização do tipo Master Business Administration (MBA), destinada a quem já está inserido no mercado de trabalho; e uma nova graduação surgirá, o Bacharelado em Ciência de Dados. 

No momento, as propostas dos novos cursos estão sendo avaliadas por diversas instâncias da USP. Quando o Bacharelado em Ciências de Dados for oficialmente lançado, vai se tornar o primeiro curso desse tipo a ser oferecido no país. No mundo, há apenas 57 cursos de graduação em ciência de dados, sendo que nenhum deles é brasileiro, de acordo com informações disponíveis em abril no website http://datascience.community/colleges. Ao serem levadas em conta as opções de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado), chega-se a um total de 545 programas espalhados pelo globo e somente um deles é oferecido no Brasil por uma instituição particular.

Como não há diretrizes curriculares nacionais específicas para o Bacharelado em Ciências de Dados, o grupo de professores que elaborou a proposta foi buscar inspiração em diretrizes internacionais. Um dos documentos que fundamentam a proposta – Diretrizes Curriculares para Programas de Graduação em Ciência de Dados – apresenta o resultado de um trabalho realizado por representantes de 25 instituições de ensino, que se reuniram durante três semanas nos Estados Unidos para discutir as habilidades essenciais na formação desse profissional.

O professor Thiago Pardo, que preside a Comissão de Graduação do Instituto, explica que o Bacharelado em Ciência de Dados do ICMC seguirá essas diretrizes internacionais, propondo um currículo interdisciplinar, que integre conhecimentos provenientes da computação, da estatística e da matemática. Ele afirma que a ideia é formar um profissional capaz de “pensar com dados”, que tenha competência e experiência prática para lidar com as mais variadas situações e domínios de aplicação da área. 

Mas, afinal, quais são exatamente as habilidades que esse novo profissional precisa ter? No documento com a proposta de criação do curso, destaca-se que o Bacharel em Ciência de Dados será capaz de: entender, formular e refinar questões apropriadas; obter, modelar e explorar os dados relacionados; processar os dados e realizar as análises necessárias; obter e comunicar o conhecimento relevante e, se necessário, apoiar o desenvolvimento e implantação de soluções com base nos resultados atingidos. 

Para se tornar apto a realizar tudo isso, há várias habilidades que precisam ser desenvolvidas. Em primeiro lugar, está o aprendizado de técnicas de coleta, armazenamento e gerenciamento de dados, envolvendo os processos de limpeza, transformação e estruturação dos dados, os quais podem ser provenientes de fontes variadas e ter formatos e tamanhos diversos. Depois, é necessário processar esses dados e realizar análises por meio de técnicas computacionais e estatísticas. São essas técnicas que possibilitarão extrair conhecimentos desses dados, empregando estratégias que podem incluir a utilização de modelagem estatística/matemática, visualização, mineração e aprendizado de máquina.

Porém, para que todo esse conhecimento ligado ao raciocínio lógico e à abstração resulte, de fato, em soluções, o profissional precisa desenvolver também as chamadas soft skills – aquelas habilidades não-técnicas que o permitirão se comunicar adequadamente, ser criativo, trabalhar em equipe e ter uma visão ampla e crítica sobre os processos que ocorrem dentro e fora das instituições. Note que formar um profissional assim é um desafio e tanto.

A fim de possibilitar que os alunos formados em Estatística no ICMC também possam ter acesso a essa formação mais ampla, atendendo à crescente demanda do mercado, outra iniciativa em andamento propõe uma atualização na grade curricular do curso. A proposta também está passando pela aprovação de diversas instâncias da USP e a expectativa é de que os ingressantes da Universidade em 2020 já tenham acesso à novidade, que prevê até uma alteração no nome do curso, que passará a se chamar Bacharelado em Estatística e Ciência de Dados. 

O professor Marinho explica que a espinha dorsal do curso continua sendo a estatística, que é uma profissão regulamentada no Brasil, o que se propõe é uma ampliação no escopo de algumas disciplinas a fim de associar o ensino de técnicas computacionais ao ensino das técnicas estatísticas, as quais já eram abarcadas pela grade curricular do curso. “Não existe uma competição entre a estatística e a computação pela fatia da ciência de dados. O que há é uma necessidade de unir os dois campos para tratar dos problemas que surgem a partir dos dados. É claro que existem diferenças nas abordagens, mas são conhecimentos que se completam”, diz Marinho. 

Com as alterações nas disciplinas oferecidas, houve uma vantagem adicional: a redução no tempo de formação no curso de Estatística. Em vez dos atuais 4,5 anos, a graduação poderá ser concluída em 4 anos. “Assim, o recém-formado poderá planejar mais facilmente o início das atividades do ano seguinte, quer seja no mercado de trabalho ou em um programa de pós-graduação”, completa o professor Marinho. 

Quando o Bacharelado em Ciências de Dados for oficialmente lançado pelo ICMC, vai se tornar o primeiro curso desse tipo a ser oferecido no país
(crédito da imagem: Reinaldo Mizutani)

Nasce o DATA – A demanda por capacitação é tão grande que quatro estudantes do ICMC se mobilizaram para criar o DATA, um grupo de extensão que surgiu oficialmente no início deste ano especialmente para difundir os conhecimentos sobre ciência de dados. A ideia nasceu depois que os quatro alunos do curso de Ciências de Computação foram selecionados para a final de um concurso internacional de ciência de dados, o Data Science Game, que aconteceu em outubro do ano passado. O time – formado por Bruno Coelho, Gustavo Sutter, Marcello Pagano e Tobias Veiga – conquistou o 12º lugar entre as 20 melhores equipes do mundo e, considerando-se as três equipes brasileiras que concorreram à final, ficou em 2º lugar.

O encanto pela ciência de dados floresceu nos quatro estudantes depois que se envolveram em projetos de iniciação científica e estabeleceram contato com novos conhecimentos da área, o que levou à formação do time. Bruno conta que participar da competição foi um processo intenso e enriquecedor: “Mesmo tendo que fazer tudo em um curto período de tempo, a experiência foi fantástica. Saímos muito motivados a estudar ainda mais sobre ciência de dados.” Então, os quatro decidiram criar um novo grupo de extensão, a partir do estímulo do professor Thiago Pardo e da inspiração de outros grupos bem-sucedidos criados no ICMC, como o Grupo de Estudos para a Maratona de Programação (GEMA) e o grupo de desenvolvimento de jogos Fellowship of the Game (FoG). O passo seguinte foi contatar o professor Gustavo Nonato, que aceitou assumir o papel de tutor da iniciativa.

Atualmente, o DATA está oferecendo um curso de introdução a ciência de dados, de 12 semanas, para cerca de 40 estudantes do ICMC, às quartas-feiras, das 14 às 16 horas. O que o grupo ensina? “Introdução à linguagem de programação Python, aos principais algoritmos, a aprendizado de máquina e a técnicas de pré-processamento de dados. A ideia é incentivar essa turma a participar de competições e prepará-los para futuros processos seletivos”, conta Gustavo.

Também às quartas, das 17 às 18 horas, o DATA reúne os alunos que já têm conhecimentos mais avançados na área para promover discussões e aprimorarem, colaborativamente, o know-how que já possuem. “Além de tornar a área de ciência de dados mais conhecida, outro objetivo do grupo é oferecer, futuramente, treinamento para a população em geral, por meio de cursos de extensão”, conta Nonato. “É claro que, para você se tornar um cientista de dados, é preciso ter uma formação sólida. Mas é fato que uma pessoa que possua alguma noção de programação, se fizer bons cursos sobre Python e sobre aprendizado de máquina, pode desenvolver interessantes soluções a partir de dados já disponíveis”, acrescenta o professor.

Bruno Coelho, Gustavo Sutter, Marcello Pagano e Tobias Veiga participaram da final do Data Science Game, que aconteceu no ano passado, de 27 a 29 de setembro, na França
(crédito da imagem: Data Science Game)

De volta ao futuro – Você é capaz de imaginar as soluções interessantes que podem ser criadas por quem faz ciência com dados? O professor André de Carvalho enumera uma série de possibilidades: melhorar o ensino identificando o perfil de cada aluno para disponibilizar conteúdos e avaliações particularizados; localizar trechos de processos jurídicos e sentenças que podem ser úteis para argumentações futuras; predizer quais clientes estão insatisfeitos com uma empresa e o porquê, buscando reduzir o problema; prever o resultado de reações químicas a partir das condições experimentais e das substâncias utilizadas; prever falhas em linhas de transmissão de energia elétrica; diagnosticar fadiga em estruturas como pontes e barragens; classificar objetos em imagens obtidas por telescópios espaciais; criar modelos capazes de dar suporte ao diagnóstico médico; prevenir a queda de idosos; melhorar o desempenho de equipes em práticas de esportes olímpicos e profissionais; prever a ocorrência de doenças e pragas; classificar automaticamente a qualidade de frutas; melhorar as políticas públicas; reduzir danos ao meio ambiente e aos seres humanos.

Todas essas possibilidades e outras mais estão descritas no artigo “Interdisciplinaridade da ciência de dados”, publicado por André na Revista da Sociedade Brasileira de Computação, edição de fevereiro de 2016. O que era futuro há três anos está se tornado cada vez mais presente. Não falta muito para que os cientistas de dados descubram a culinária que mais agrada seu paladar, o prognóstico do seu tratamento médico, suas próximas movimentações financeiras, o defeito que seu carro terá e quanta água, luz e energia a residência em que você mora consumirá. Resta saber quais decisões serão tomadas a partir desses novos conhecimentos. Há quem vislumbre o surgimento de um mundo mais humano e justo a partir de tantos dados; e há quem tema pela vulnerabilidade que o acesso a esses dados pode nos trazer. O fato é que as consequências de qualquer tipo de novo conhecimento depende do comportamento ético da humanidade. Isso vale também para ciência que brota dos dados.

Estudantes do ICMC que participam da primeira edição do curso de introdução a ciência de dados, oferecido pelo DATA
(crédito da imagem: Reinaldo Mizutani)

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP


Saiba mais
Cursos e programas em ciência de dados no mundo: http://datascience.community/colleges
Curriculum Guidelines for Undergraduate Programs in Data Science

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

ICMC promove V Encontro de Experiências em Estágios e Projetos em Estatística

Evento acontecerá no dia 10 de novembro, sábado


Estimular a troca de experiências entre alunos, egressos e professores sobre a realização de estágios e projetos na área de estatística. Esse é o objetivo do Encontro de experiências em estágios e projetos (EEEP Best 2018), evento que acontecerá no dia 10 de novembro, sábado, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

Para participar, basta preencher o formulário disponível neste link www.icmc.usp.br/e/7dbe6 e pagar a taxa de inscrição na Seção de Eventos do ICMC (sala 4-000). Até 26 de outubro, a taxa é de R$ 5 para alunos de graduação e pós-graduação ou R$ 15 (demais categorias). A partir do dia 29, a taxa será de R$ 10 para alunos de graduação e de pós–graduação ou de R$20 (para os demais).

Durante o evento haverá diversas palestras e bate-papos com estudantes do curso de Estatística que estão estagiando em empresas sediadas em São Carlos e na região, em instituições financeiras em São Paulo e também realizando pesquisas no ICMC. Além disso, haverá depoimentos de egressos, profissionais do mercado e docentes. 

“Este evento é uma excelente oportunidade para conhecermos as diversas áreas de atuação do Estatístico no mercado de trabalho, bem como as suas vantagens e dificuldades sob diversos pontos de vista, considerando alunos, estagiários, professores, egressos e profissionais”, afirma Juliana Cobre, coordenadora do evento. Ao todo, devem participar da iniciativa 19 palestrantes, sendo 16 alunos de graduação, um ex-aluno, um professor do ICMC e um representante de uma empresa.

O encontro acontecerá no auditório Luiz Antonio Favaro do ICMC (sala 4-111), das 8 às 12 horas. Essa é a quinta vez que a atividade é realizada: “A cada ano o evento vem se modernizando para atender, principalmente, aos interesses dos alunos matriculados, ficando cada vez mais divertido e dinâmico”, finaliza Juliana.

Texto: Talissa Fávero - Assessoria de Comunicação do ICMC/USP

Mais informações
Inscrições:  www.icmc.usp.br/e/7dbe6
Evento no Facebook: www.facebook.com/events/281851875992832/
Seção de eventos do ICMC: (16) 3373.9622
E-mail: jucobre@gmail.com

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Engenheiro de computação: ser ou não ser?

Enquanto uma crise de identidade parece atormentar alguns alunos que estão cursando engenharia de computação, setores do mercado já começam a valorizar a formação híbrida desses profissionais


O que faz um engenheiro de computação? Onde esse profissional pode atuar? É muito provável que, se você fizer essas perguntas para um grupo de pessoas, a maioria não saberá responder com clareza. Nem mesmo vestibulandos e calouros do próprio curso conseguem explicar objetivamente. Mas a culpa não é deles, afinal, as graduações em engenharia de computação são bastante recentes.

“Todo mundo sabe o que faz um engenheiro civil, eletricista ou mecânico. Já o engenheiro de computação, são poucos que conhecem”, afirma o professor Fernando Osório, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Segundo ele, o mesmo acontece quando a comparação é feita dentro da computação: “quando os primeiros cursos de engenharia de computação surgiram, na segunda metade da década de 1990, outros como Ciências da Computação, Tecnologia da Informação e Sistemas de Informação já estavam muito bem estabelecidos”.

O professor Osório já coordenou o curso de Engenharia de Computação da USP em São Carlos
(crédito da imagem: Denise Casatti)
E isso se torna um problema quando os alunos passam os primeiros anos da graduação sem entender onde irão atuar. Foi assim que, há alguns anos, surgiu uma crise de identidade nos estudantes, principalmente naqueles que estavam na metade do curso. “Nós fomos percebendo que não conhecíamos nossa identidade. Só começamos a entender o que era a engenharia de computação depois do terceiro ou quarto ano, e nesse caminho muita gente desistiu”, explica Tiago Daneluzzi, que está no quinto ano do curso no ICMC. Mas diversas iniciativas estão sendo tomadas, tanto por alunos como pelos professores, para divulgar a importância do engenheiro de computação e seu papel na sociedade.

Um profissional que integra duas áreas - Pense na tecnologia ao nosso redor. Nosso celular, o computador de bordo do carro, o decodificador de TV a cabo e até mesmo o controle remoto do ar-condicionado. Vá mais longe e pense nos paineis de um avião, um carro autônomo ou um sistema de irrigação. Praticamente todos os dispositivos que utilizamos são computadores que estão cada vez mais complexos. A expressão-chave nesse assunto é “sistemas embarcados”, que são aparelhos que possuem características eletrônicas próprias, e estão integrados em termos de computação e elétrica.

O CARINA é um carro autônomo desenvolvido pelo Laboratório de Robótica Móvel do ICMC.
A integração entre carro, lasers e radares é competência de um engenheiro de computação
(crédito da imagem: Reinaldo Mizutani)

A engenharia de computação surgiu da união entre essas duas áreas. Mas, na verdade, ela sempre esteve presente. “Como os sistemas não eram tão sofisticados, você ‘desviava o profissional’. Era possível fazer com que um engenheiro eletricista ou cientista da computação se especializasse na área oposta”, afirma o professor Osório. Por isso, a partir do momento que as universidades perceberam uma integração cada vez mais complexa, os cursos começaram a surgir e crescer.

Por causa dessa integração, o engenheiro de computação se torna único, capaz de lidar com problemas de um setor específico. “Esse profissional coloca a mão na massa, entende tanto do hardware como do software. Ele tem um potencial diferenciado e vai além dos profissionais isolados”, explica a professora Kalinka Castelo Branco, vice-coordenadora do curso, que é oferecido em parceria do ICMC com a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).

A professora Kalinka falou sobre a formação diferenciada do engenheiro de computação durante a palestra de abertura da Semana de Engenharia de Computação
(crédito da imagem: Denise Casatti)

Estudantes que se perderam em duas áreas - A dúvida dos estudantes sobre onde eles podem trabalhar surge, em parte, por causa dessa integração das áreas e pela pouca idade do curso. De acordo com Kalinka, há algum tempo, as vagas eram para engenharia elétrica ou ciências da computação, então os alunos se sentiam perdidos e, muitas vezes, precisavam se engajar nessas áreas. Mas, segundo ela, nunca houve escassez de vagas: “nossos alunos de engenharia de computação são altamente procurados, nunca tivemos problema de empregabilidade”.

O professor Osório também diz que existe um problema no mercado, devido à falta de conhecimento do curso: “dependendo do ramo, as empresas não sabem que precisam desse profissional. Um banco, por exemplo, contrata qualquer engenheiro, mas não se atenta ao de computação”.

Os alunos também possuem dificuldade em enxergar a singularidade do engenheiro de computação. “Fora da faculdade não existe problema de identidade ou emprego, mas isso só ficou claro para mim no ano passado”, afirma Tiago. Segundo ele, para os estudantes, é como se uma parte do curso fosse engenharia elétrica e, a outra, ciências da computação, com poucas disciplinas integrando as duas, e que aparecem apenas na segunda metade da graduação. Como resultado, mais da metade de sua turma pediu transferência para uma das duas áreas.

Uma identidade em formação – Apesar dos problemas, alunos e professores são otimistas: a crise de identidade está diminuindo, e essas dúvidas, cada vez mais, estão ficando para trás. Isso faz parte de um esforço coletivo para mostrar aos estudantes que a engenharia de computação é uma área singular, com alta empregabilidade e uma atuação específica no mercado.

Uma das medidas foi a criação da Semana de Engenharia de Computação (SEnC), que teve sua primeira edição realizada em setembro de 2017. A iniciativa surgiu dos alunos, que, até então, eram divididos nas semanas acadêmicas de ciências da computação e de engenharia elétrica. “Nós sentimos a necessidade de ter uma semana nossa, justamente porque somos de uma área específica. A adesão dos alunos de engenharia de computação nas outras semanas sempre foi muito baixa”, afirma Tiago, que coordenou a primeira SEnC. A comissão que organizou a semana teve 18 alunos.

Tiago (ao centro em pé) e a equipe que organizou a SenC
(crédito da imagem: arquivo pessoal)

“Essa semana ajuda a mostrar que eles têm uma atuação diferenciada. É importante passar a mensagem que eles agregam conhecimentos das outras áreas de uma maneira única”, explica Kalinka, que foi responsável pela palestra de abertura da SEnC, justamente com o tema “a identidade do engenheiro de computação”. De acordo com ela, o ICMC e a EESC também estão tomando medidas para desenvolver essa identidade cada vez mais. Entre elas, levar todas as aulas para o campus 2 e a criação do Espaço EngComp.

Inaugurado no ano passado, esse espaço possui um ambiente colaborativo, para estimular a inovação dos estudantes. São oito laboratórios especializados, entre eles um espaço maker, com impressoras 3D, placas de circuito e toda a infraestrutura necessária para desenvolver um projeto de eletrônica e computação.

Para Tiago, o trabalho atual deve ser mantido. Segundo ele, os Institutos, em parceria com a Secretaria Acadêmica do curso, estão aprimorando a grade curricular para deixar a graduação mais atrativa. “Também temos iniciativas extracurriculares, que são muito importantes porque dão mais clareza do que podemos fazer depois de formados”, ele explica. Entre esses projetos, estão o Warthog Robotics, grupo de pesquisa e extensão do campus sobre robótica móvel aplicada, que também participa de competições de futebol de robôs; o Ganesh, grupo de extensão sobre segurança digital; e o ADA, de projetos em engenharia de computação. “Essa crise de identidade foi muito forte até pouco tempo, com muitos problemas de desistência. Hoje, estamos cada vez mais próximos da realidade do mercado de trabalho, e não é preciso avançar tanto no curso para se encontrar. O problema deve sumir em breve”, conclui o estudante.

“A tendência é que os engenheiros de computação sejam cada vez mais requisitados pelo mercado, porque a área está diretamente ligada ao futuro da tecnologia”, afirma Osório. A crise de identidade dos engenheiros de computação pode estar acabando, mas sua importância para a sociedade está crescendo cada vez mais. E não deve parar tão cedo.

Texto: Alexandre Wolf - Assessoria de Comunicação do ICMC/USP

Mais informações
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A magia da computação na Semcomp

Durante a maratona de atividades que marca a Semana da Computação no ICMC, os estudantes têm a oportunidade de mergulhar nas diferentes facetas da computação, além de compreender a magia presente nesse mercado de trabalho e no campo da pesquisa acadêmica


A magia da interação humano-computador foi o destaque na palestra de Marcio

O medo toma conta da estudante Bruna Polonio, 19 anos. Cambaleando, ela se move pelo palco do auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano, quase tromba no telão, enquanto narra tudo o que vê no filme de terror que assiste em seus óculos de realidade virtual. É a primeira vez que Bruna experimenta essa tecnologia. E a cada susto que ela leva, a plateia vem abaixo em gargalhadas. “Seus usuários são sua maior fonte de informação. Eles querem ser enfeitiçados. Cabe a nós criarmos essa magia”, anuncia entusiasmado Marcio Funes, mestrando do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, no palco de onde Bruna acabou de descer.

Não foi por acaso que o mestrando chamou voluntários como Bruna ao palco, que nunca haviam passado por uma experiência com óculos de realidade virtual. Ele queria que aquela plateia, composta por cerca de 200 estudantes de cursos da área de computação, compreendesse a importância da magia dessa ciência sob o olhar de quem usa a tecnologia. Afinal de contas, são eles que, no futuro, terão a capacidade de criar essas soluções.

Formado em Ciências de Computação pela Universidade de Franca, Marcio desenvolveu, como trabalho de conclusão de curso, um protótipo de baixo custo de óculos de realidade virtual. O projeto abriu as portas da USP para ele, que atua no Laboratório de Intermídia do ICMC, pesquisando a área de interface humano-computador. No final de sua palestra, realizada na tarde do dia 17 de agosto durante a Semana de Computação (Semcomp), Marcio deixou um recado para os estudantes: “Se você tem uma ideia bacana, isso poderá conduzir seu futuro. Então, coloque-a em prática e faça algo que realmente seja mágico para você”. 

Cair na fantasia da realidade virtual foi uma experiência enriquecedora para a estudante Bruna, que cursa Análise e Desenvolvimento de Sistemas no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), campus São Carlos: “Tudo o que a gente faz e aprende na área de tecnologia poderá nos ajudar no futuro”. Segundo ela, o conhecimento que adquiriu durante as palestras e os minicursos oferecidos na Semcomp já serão úteis para desenvolver um projeto no Programa de Educação Tutorial (PET) do IFSP, do qual faz parte.

Tal como Bruna, 911 estudantes participaram da maratona de atividades oferecidas no ICMC de 12 a 19 de agosto durante a Semcomp e puderam mergulhar nas diferentes facetas da computação, além de compreender melhor as inúmeras oportunidades existentes nesse mercado de trabalho e também no campo da pesquisa acadêmica. No total, foram 23 minicursos, 9 palestras, uma mesa redonda, uma jornada de 48 hora ininterruptas de desenvolvimento de games (Game Jam), uma noite de jogos (Gamenight), um luau, um sarau, uma feira do livro, uma maratona de filmes, uma gincana e uma feira de recrutamento.

Bruna no palco: primeira experiência com os óculos de realidade virtual

A magia do mercado de trabalho – Entre as 16 empresas que participaram da Feira de Recrutamento da Semcomp, realizada no dia 18 de agosto, estava a AmDocs, uma empresa criada há 36 anos em Israel, que tem uma filial em São Carlos e conta com 25 mil colaboradores espalhados pelo mundo. “Temos colaborações com o ICMC há dois anos, quase 50% dos nossos funcionários vieram daqui. Os alunos do Instituto possuem o perfil que nós procuramos: quem sai daqui entra na Amdocs e, em um ou dois meses, consegue agregar para a empresa”, conta Idan Nakel, diretor de Desenvolvimento da AmDocs em São Carlos.

Foi exatamente por causa do talento encontrada nas universidades presentes no município que a empresa decidiu se instalar em São Carlos. Durante a Feira, a AmDocs realizou um processo seletivo e a expectativa era oferecer oportunidades de estágio para aproximadamente 50 estudantes. “Estamos crescendo cerca de 30% por ano em número de funcionários”, destaca Idan.

Cursando o 4º ano do curso de Ciências de Computação no ICMC, Bernardo Duarte quer fazer estágio e participou do processo seletivo de três empresas na Feira: “Esse evento ajuda muito, pois quando as empresas vêm até aqui é um passo a menos para nós, estudantes. E isso também nos valoriza, porque estamos sendo procurados por elas”.

Feira de Recrutamento contou com a participação de 16 empresas

A magia da pesquisa acadêmica – Uma mostra com diversos projetos realizados por mestrando e doutorandos do ICMC tomou conta do hall do auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano na manhã do dia 17 de agosto. Novidade na Semcomp, a atividade teve como objetivo aproximar o universo da graduação e da pós-graduação.

“Eu acho que muitos alunos que estão na graduação têm o perfil para fazer uma pós, mas não entendem como funciona o processo e, então, não vão atrás das informações”, diz o professor Adenilso Simão, que coordena o Programa de Pós-Graduação em Ciências de Computação e Matemática Computacional do ICMC. 

Segundo ele, a ideia do evento foi explicar para os estudantes como funciona a área acadêmica e o tipo de pesquisa que podem realizar. “A pós-graduação permite que a pessoa se aprofunde em alguns campos do conhecimento e consiga desenvolver habilidades que podem ser úteis para ela tanto no mercado de trabalho quanto na esfera acadêmica”, explica Adenilso.

Comissão organizadora: aprendizados no trabalhando em equipe

A magia dos aprendizados – Dos 23 minicursos oferecidos na Semcomp, um deles mergulhava no universo do design de jogos. Leonardo Pereira, que está no último ano do curso de Ciências de Computação, decidiu ministrar o curso porque, além de gostar muito da área, já deu aulas sobre o assunto para os integrantes do grupo de desenvolvimento de jogos Fellowship of the Game, que conta com a participação de estudantes de diversos cursos de graduação da USP em São Carlos. Os integrantes gostaram tanto da iniciativa que Leonardo levou o projeto adiante. “O jogo com design perfeito seria aquele que agradasse não só o público-alvo, mas todos os outros públicos, fazendo com que eles passassem a jogar”, ensina o estudante-professor. 

Para construir um jogo assim, Leonardo explica que muitos elementos devem ser levados em conta como a programação, a narrativa, a música, os gráficos, a jogabilidade: “O design de um jogo é algo bem complicado, pois envolve todos os níveis de criação dele. Acho que a primeira coisa que se deve pensar na hora de criar o design de um jogo é: o que deixa um jogo bom? O que vai fazer as pessoas jogarem ou não?”.

Em outro minicurso, os participantes aprenderam a implementar uma rede social de troca de mensagens em tempo real. Ministrado pelo ex-aluno Bruno Orlandi, que fez Ciências de Computação no ICMC, o minicurso inspirou os estudantes a buscarem o conhecimento necessário para criar uma rede social. “Meu objetivo é que eles comecem a estudar o tema e, quando saírem para o mercado, estejam preparados para atuar na área”, revela Bruno. “Você pode criar ou unir funcionalidades de outras redes sociais em uma só e, quem sabe, ser inovador, podendo criar um negócio”, completa. 

A magia da robótica inteligente também marcou presença na Semcomp. “Acusa-se muito a robótica de tirar empregos, mas é justamente o contrário. No momento em que uma empresa produz mais e de forma mais eficiente, a empresa cresce e gera empregos, desenvolvimento”, defende o professor Fernando Osório, do ICMC, que ministrou o minicurso Simulação e prática em robótica inteligente. Para ele, realizar atividades como essa é uma oportunidade para acabar com os mitos que pairam sobre a área e possibilitar que mais pessoas compreendam a importância desse campo do conhecimento para o desenvolvimento tecnológico: “Vários países já perceberam que a robótica é indispensável para o crescimento econômico e a geração de emprego”.

Foram oferecidos 23 minicursos

A magia dos bastidores – Antes de ingressar na organização da Semana, o professor Marcelo Manzato não entendia o brilho nos olhos dos alunos que participavam dos bastidores da iniciativa. Para ele, a Semcomp era um evento como outro qualquer. “Mas eu vi que estava enganado. Existe um esforço muito grande de todos os alunos da organização para fazerem as coisas darem certo e é muito prazeroso ver a satisfação de quem participa das atividades que planejamos”, revelou o professor durante o encerramento do evento, na noite do dia 19 de agosto.

“Não deixe a graduação atrapalhar a sua formação”, disse logo depois Sabrina Faceroli, presidente da iniciativa, que também faz Ciências de Computação no ICMC. Segundo ela, as atividades extracurriculares oferecidas na Universidade – como a Semcomp – devem ser tão valorizadas pelos estudantes quanto as atividades acadêmicas em sala de aula. “A Semcomp é uma oportunidade para vocês conhecerem áreas da computação que ainda não haviam sido apresentadas a vocês”, adicionou. Na hora de encerrar o discurso, emocionada, Sabrina reforçou que a magia da Semcomp vai além da magia da computação: “É um evento para mudar a visão do que você escolheu fazer da sua vida”.

Sabrina no encerramento da Semcomp

Confira a lista dos alunos dos cursos de computação com o melhor desempenho acadêmico!

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Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Com a colaboração de Henrique Fontes

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terça-feira, 9 de agosto de 2016

Visitas didáticas preparam alunos do ICMC para os desafios do mercado de trabalho

Estudantes do curso de Estatística foram ver como funciona a linha de produção da Faber Castell

O que a linha de produção de uma fábrica, uma escola indígena e o centro de inovação de uma empresa têm em comum? Esses são exemplos de locais em que é possível descobrir novas áreas de atuação profissional, preparar-se para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e onde vocações podem ser despertadas. É isso que acontece durante as visitas didáticas realizadas pelos alunos do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

“Visitar a Unilever foi como descobrir um sonho que nem ao menos sabia que existia. O pensar estratégico e a resolução de problemas são os maiores atrativos. Com certeza é uma empresa na qual eu quero trabalhar e onde me vejo daqui 10 anos”, conta Guilherme Ferreira, ex-aluno de Sistemas de Informação do ICMC. O depoimento foi dado após visita realizada na sede da Unilever, em São Paulo, no ano passado, junto com cerca de outros 30 estudantes do Instituto. As visitas à empresa são realizadas anualmente por meio do programa Unileversitário.

A viagem serve como complemento da disciplina Introdução a Sistemas de Informação, ministrada pela professora Simone Souza. Os alunos conhecem o Customer Insight and Inovation Center (CiiC), setor da empresa destinado a gerar inovações por meio do uso de tecnologias da informação. “É uma visita muito motivante, pois os alunos conseguem enxergar que não precisam atuar apenas na área de desenvolvimento de sistemas, mas também na melhoria do processo de negócio de uma companhia”, explica Simone. 

Muitas outras oportunidades de conhecer empresas surgem para os alunos do ICMC durante a graduação. “Dentro das coordenações de curso do Instituto, nós focamos muito nessa questão de motivar e auxiliar os estudantes a entenderem e descobrirem se estão no curso certo. Para isso, tentamos sempre promover essas iniciativas”, conta Simone. 

A docente cita ainda algumas visitas já realizadas pelo Instituto como a data centers em São Paulo, à HP, empresa de tecnologia de informação, e à Usina Hidrelétrica de Itaipu. Anualmente, alunos dos cursos de Sistemas de Informação e Ciências de Computação têm a oportunidade de conhecer a hidrelétrica, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai. Nessa visita, os alunos assistem a palestras ministradas por profissionais da usina, conhecem o processo de produção e distribuição de energia, a sustentabilidade da matriz energética, o desenvolvimento de sistemas abertos para o gerenciamento de recursos hídricos, além de questões relacionadas à segurança física e dos sistemas computacionais.

Anualmente, alunos dos cursos de Ciências de Computação e Sistemas de Informação visitam Itaipu

A estatística vai à indústriaA Faber Castell é outra empresa que recebeu a visita dos alunos do ICMC, dessa vez dos graduandos do curso de Estatística. Como complemento da disciplina Gestão de Qualidade, os estudantes conheceram, em maio deste ano, a Seção de Controle de Qualidade da Fábrica e as etapas de produção dos materiais desenvolvidos pela multinacional, que possui sede em São Carlos.

O objetivo foi mostrar aos alunos uma noção prática das metodologias de controle estatístico de processo, promovendo uma primeira interação com os profissionais do setor produtivo. “Eles conseguem visualizar onde aplicar aquilo que estão aprendendo na Universidade. Esse tipo de iniciativa deve ser feita de forma permanente e em todos os cursos, pois acredito que os outros estudantes também tenham essa necessidade”, diz Francisco Louzada, professor do ICMC e responsável pela visita à Faber.

“Essas visitas nos trazem uma experiência que pode ser utilizada até mesmo numa entrevista de emprego, pois vou ter uma visão melhor de como funciona uma fábrica e clarear minhas ideias”, conta a aluna Denise Rezende, que nunca havia visitado uma empresa. A estudante Natália Poles afirma que é muito importante, para um estatístico, conhecer todas as etapas de produção do produto que será disponibilizado no mercado: “Além de analisar os dados, o estatístico pode melhorar o resultado final de um produto e corrigir algum problema que venha a surgir durante seu processo de desenvolvimento”.
Natália (à esquerda) e Denize durante visita à Faber Castell

Aprendendo com outras culturasPensando em preparar os estudantes dos cursos de licenciatura do ICMC para os mais diversos cenários que terão que enfrentar quando se tornarem professores, as docentes Miriam Utsumi e Esther Prado levaram, em junho deste ano, 38 alunos para conhecerem a escola indígena da Aldeia Ekeruá, localizada em Avaí, interior de São Paulo. “Desde o ano passado, pensamos na questão da inclusão das minorias e decidimos dar uma atenção especial à educação indígena. Muitos professores ainda não estão preparados para atender o aluno índio e é importante que conheçam outra cultura”, explica Miriam.

A professora conta que, nos cursos de licenciatura, não é possível ter disciplinas mostrando todos os desafios que são enfrentados dentro de uma escola. Ao proporcionar esse tipo de visita, os licenciados podem ter um olhar diferenciado para lidar com algumas situações. “Nós fazemos várias viagens para complementar o currículo dos alunos de licenciatura. Visitamos escolas técnicas, matemotecas, para que eles conheçam os diversos ambientes de trabalho e vejam a construção de materiais didáticos diferenciados”.

Alunos dos cursos de licenciatura do ICMC conheceram as metodologias de ensino indígenas
A aluna Letícia Pradella, licencianda em Ciências Exatas, adora pesquisar sobre educação e, quando soube da visita à aldeia, resolveu participar: “Para mim, era muito abstrata a forma como o conhecimento é passado aos indígenas. A maneira de ensino não é a mesma, é outra realidade”, conta a estudante. Ou alunos gostaram tanto da experiência que convidaram os professores indígenas para ministrar palestras durante a Semana da Licenciatura, que será realizada em outubro no ICMC. 

Letícia também já fez outras viagens didáticas durante a graduação. Ela esteve presente em uma visita ao Hopi Hari, em que os estudantes aprenderam conceitos de física aplicados aos brinquedos do parque de diversões. “Na universidade, o aprendizado na sala de aula não basta. Quanto mais atividades extracurriculares a gente faz, melhor estamos preparados”, finaliza.

Para Letícia, as atividades extracurriculares são fundamentais durante a graduação

Texto: Henrique Fontes - Assessoria de Comunicação ICMC/USP

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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Estatística: um mundo de possibilidades para quem seguir adiante

Ouvir as histórias de quem já foi atormentado pelas incertezas no momento em que estava cursando estatística, enfrentou os desafios e, hoje, é disputado no mercado de trabalho traz motivação para aqueles que estão nos primeiros anos do curso e ainda não conseguiram vislumbrar a diversidade de opções que terão à disposição em um futuro próximo


O professor Louzada  revelou que, até a metade do segundo ano da faculdade, não 
tinha a menor ideia do que fazia um estatístico

Quem o vê no palco, com seu blazer alinhado, de óculos, relatando os diversos projetos que está desenvolvendo como estatístico não imagina que, até a metade do segundo ano da faculdade, ele estava completamente perdido e pouco ligava para os estudos, sequer sabia ao certo o que um estatístico faz. Talvez seja assim que se sintam muitos desses estudantes que lotam o auditório Bento Prado Junior, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na tarde desta quarta-feira, 1 de junho, para ouvir as palavras do professor Francisco Louzada Neto, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, durante a Semana da Estatística.

“Você vai ficar desse jeito aí, cara? Você tem que tomar uma posição: ou vai ou não vai. Se quiser, tenho um projeto para você fazer”. A advertência dada pelo professor Aristotelino Ferreira em 1985 fez o jovem Louzada, e seus longos cabelos, tomarem um novo rumo: o estudante da UFSCar aceitou o desafio e se engajou no projeto de extensão desenvolvido pelo professor – que hoje dá aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Foi o primeiro projeto que me motivou: fizemos uma análise estatística para comparar os movimentos de bebês com Síndrome de Down com os movimentos de bebês que não apresentavam o problema. No final, conseguimos verificar que a hipótese dos fisioterapeutas que participavam do projeto estava correta: os bebês com a Síndrome apresentavam movimentos diferenciados”, lembra Louzada.

Evento contabilizou 147 inscritos

O campo da bioestatística, no qual estabeleceu seu primeiro contato prático com essa ciência que analisa dados, continua cativando Louzada, que desenvolve diversos projetos no âmbito do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI). Um deles é voltado à detecção precoce de câncer de mama, por exemplo. Mas o professor também atua em outro campo, tanto que o título da palestra que está ministrando nesta quarta é exatamente Estatística e futebol, uma parceria que dá jogo. Louzada conta que só percebeu o potencial dessa dupla quando estava fazendo seu doutorado: “Eu nunca imaginei trabalhar com estatística no esporte, mas comecei a notar que havia uma necessidade iminente de se trabalhar com previsões estatísticas e também uma demanda pelo desenvolvimento de novos modelos e softwares voltados para essa área, inclusive ligados à detecção de talentos esportivos”. 

Segundo o professor, há ainda um universo inexplorado de oportunidades que os estatísticos podem aproveitar: na música e na literatura, é possível aprimorar as técnicas para detectar a preferência das pessoas e desenvolver ofertas de produtos sob medida; o uso de dados não estruturados como as postagens das redes sociais pode, ainda, contribuir para a detecção de doenças; e os processos de recomendação empregados na internet também têm muito a ganhar com a utilização de ferramentas estatísticas. Para ele, o desafio das universidades agora é aprender a transformar estudantes em empreendedores.

Motivação – Realizada de 1 a 3 de junho, a Semana da Estatística já é uma iniciativa tradicional na UFSCar e está na sexta edição. Mas este ano foi a primeira vez que a comissão organizadora do evento, composta apenas por estudantes, resolveu convidar o ICMC para participar da iniciativa. O estudante Vinicius Rozemwinkel, que está cursando o primeiro ano de Estatística no ICMC, aprovou a ideia e sugere que a programação seja mais extensa no próximo ano. “Um evento como esse dá um ânimo, um gás. Você vê que, se ralar agora, vai ter uma recompensa lá na frente”, diz. Durante a mesa de bate-papo com estudantes que já estão estagiando, Rozemwilkel se surpreendeu ao ouvir que um deles tinha reprovado em cálculo: “É um estímulo, a gente passa a entender que os outros também passaram por dificuldades e acaba ficando mais tranquilo porque sabe que tudo vai dar certo”.

Semana da Estatística foi organizada pelos estudantes

Para Henrique Salviano, que está no segundo ano de Estatística na UFSCar, uma das vantagens do evento é trazer aos estudantes informações externas à Universidade, especialmente no que se refere a como é o dia a dia de um estatístico. “Houve a preocupação de nos fazer conhecer um pouco de tudo. Isso é importante para termos uma visão melhor sobre o nosso futuro”, revelou. 

Um futuro que poderá ser dentro de um hospital, tal como revelou Marco Antonio de Oliveira, ex-aluno do ICMC que atua no Núcleo de Epidemiologia e Bioestatística do Hospital de Câncer de Barretos. “Quando a gente faz faculdade, ficamos presos ao mundo das ciências exatas, não temos ideia de como é complicado fazer pesquisa com seres humanos”, conta Oliveira. Ele explica que, nessa área, é preciso trabalhar sempre em equipe, ao lado dos médicos, somando conhecimentos. “As ideias para a maioria das pesquisas realizadas no Hospital surgem quando os profissionais da área da saúde estão atendendo os pacientes. Muitas vezes, eles não sabem exatamente como poderão coletar os dados para viabilizar seus projetos e buscam a nossa ajuda”, diz. Ele mostrou diversos exemplos de pesquisas e explicou como a atuação do estatístico é fundamental no processo: “Enquanto o pesquisador está falando, vou anotando e tentando identificar quais tipos de variáveis é possível mensurar”.

Marco explicou como é seu dia a dia no Hospital de Câncer de Barretos

Agora imagine quantas variáveis há para serem mensuradas quando uma empresa decide avaliar o impacto de uma campanha de conscientização a respeito do trabalho infantil, por exemplo. Será que basta ouvir a voz de um estatístico nesse caso? Para os cientistas sociais Marisa Villi e Rodrigo Cardozo, em situações como essas, é fundamental ouvir e envolver os diferentes atores sociais que se relacionam com a campanha de conscientização. Com esse intuito, eles construíram uma nova metodologia chamada PerguntAção, que tem a finalidade de possibilitar consultas participativas de opinião. Na Semana da Estatística, os dois ministraram uma palestra explicando como funciona a metodologia. A partir de oficinas formativas, as pessoas são mobilizadas a participarem de cada etapa do processo de levantamento de dados até a construção de um questionário estruturado que será utilizado para as entrevistas pessoais. “Nosso objetivo é promover uma produção coletiva de conhecimento, capaz de gerar articulação e mobilização social”, afirma Marisa. “Nossa prioridade não é a exatidão científica ou o uso rigoroso de amostras representativas, mas despertar no público o envolvimento com as questões que estão sendo pesquisadas”, completa. Para disseminar a nova metodologia, os dois cientistas sociais estão criando uma organização sem fins lucrativos chamada Rede Conhecimento Social. 

A Semana da Estatística contabilizou 147 estudantes inscritos e contou com oito palestras, três mesas redondas e dois minicursos. “Essas atividades extracurriculares são essenciais para os alunos e precisam fazer parte dos projetos pedagógicos dos cursos. Porque é aí que eles passam não só a se formar tecnicamente, mas também como cidadãos”, ressaltou o reitor da UFSCar, Targino de Araújo Filho, na abertura do evento. “Que esta se torne a Semana da Estatística de São Carlos e que seja o primeiro de muitos outros eventos realizados em conjunto pelo Departamento de Estatística da UFSCar e pelo ICMC”, destacou o professor Pedro Ferreira Filho, da UFSCar. Na pós-graduação, a parceria entre as duas instituições já está estabelecida, pois em 2013 foi criado o Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em Estatística. A torcida agora é para que esse casamento se estenda para a graduação.

Texto e fotos: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP

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terça-feira, 17 de março de 2015

Microsoft realiza competição no ICMC em busca de novos talentos

Recrutar os melhores programadores é o objetivo da empresa, que realiza evento na próxima quarta-feira, 25 de março, na USP em São Carlos



“Você é o melhor programador aqui? Prove isso!” É com essa chamada que a Microsoft busca atrair novos talentos na área de programação. A empresa realizará uma competição na próxima quarta-feira, 25 de março, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, das 13 às 16 horas.

Para participar da Microsoft Coding Competition, basta seguir as instruções disponíveis na página do evento no Facebook. Há 120 vagas disponíveis na competição, que é gratuita e aberta a todos os interessados. A competição acontecerá em dois laboratórios do ICMC (6-305 e 6-303), ambos localizados no bloco 6, e será conduzida por dois recrutadores da Microsoft, Brooke Simpson e Sarah Bruch. 

Seguindo o modelo dos eventos que a empresa costuma realizar na Europa e em outros países da América Latina, serão propostos desafios de programação para testar os conhecimentos dos estudantes. Quem obtiver um bom desempenho poderá ser recrutado para trabalhar na Microsoft, que está em busca de novos talentos, quer sejam estudantes de graduação ou pós-graduação.

“A Microsoft escolheu o ICMC para realizar esse evento por possuir toda a infraestrutura necessária e também por formar excelentes profissionais todos os anos”, ressaltou Marcio Costa Junior, engenheiro de software na Microsoft em Redmond, Washington, Estados Unidos. Junior formou-se em Ciências de Computação no ICMC em 2013 e acredita que o evento é uma grande oportunidade para os alunos se aproximarem do mercado de trabalho. “Também é uma forma de estimularmos o desenvolvimento tecnológico entre os estudantes”, finaliza.

Notícia atualizada em 19/03 às 10:10

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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

FUVEST 2015: Desmistificando a matemática e suas infinitas possibilidades

“O matemático que morreu de fome” é apenas um exemplo dos muitos mitos que permeiam a vida pré-vestibular de quem cogita escolher um curso na área de matemática


A quantidade de oportunidades que se abrem diante de quem se forma na área da matemática pode ser comparada ao tamanho do universo dos números: infinito. Mas na hora de prestar o vestibular, esse universo se oculta diante dos olhos de muitos estudantes que gostam de matemática. Em vez de enxergar essas oportunidades, eles só são capazes de ver os mitos que assombram quem pensa em seguir por esse caminho.

O mito de que todo matemático é professor de matemática – Nem todo matemático é, necessariamente, um professor de matemática. Seguir a carreira de professor é apenas uma opção entre muitas outras que existem à disposição de quem gosta de matemática. O coordenador do Bacharelado em Matemática do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, Leandro Aurichi, assegura que faltam matemáticos no mercado de trabalho: os bancos e as agências de consultoria financeira demandam muito mais profissionais do que as universidades conseguem formar.

“São tantas ofertas que nossos alunos escolhem onde querem trabalhar: além da área financeira, um matemático pode atuar em empresas de gestão, de logística e até de marketing”, completa o coordenador do Bacharelado em Matemática Aplicada e Computação Científica, Gustavo Buscaglia.

Para enxergar o universo de possibilidades de atuação desse profissional, imagine onde a matemática pode ser empregada no mundo real. A busca pelo petróleo, por exemplo, se dá por meio de métodos matemáticos: ondas são enviadas para o subsolo e os ecos são analisados matematicamente. Dependendo das características desses ecos, são identificados os indícios da existência de petróleo naquele local.

Mais um exemplo: em uma fábrica de calçados, para aproveitar ao máximo os materiais, é preciso otimizar matematicamente a disposição das peças a serem cortadas. Esse é um desafio geométrico que demanda também o desenvolvimento de programas para realizar essa atividade automaticamente. 

Quem se encanta com as soluções da matemática para problemas concretos da humanidade como esses pode seguir o caminho do Bacharelado em Matemática Aplicada e Computação Científica (carreira 790 da FUVEST, curso 61), em que a matemática aplicada liga-se à computação. No entanto, é fato que a vocação para o ensino acomete muitos matemáticos. Entre esses, estão os que escolhem dar aulas para o ensino médio e fundamental e, para isso, cursam Licenciatura em Matemática (carreira 790, curso 62). Na Licenciatura, o objetivo é, especificamente, formar professores, possibilitando aos estudantes obter uma visão ampla do conhecimento matemático e pedagógico. Nesse sentido, esse profissional pode se especializar em educação, educação matemática ou administração escolar.

Há também quem deseja se tornar um pesquisador-professor universitário, binômio inseparável. Esse nicho de mercado costuma ser ocupado pelos Bacharéis em Matemática (carreira 790, curso 62). Quando eles não se dirigem ao mercado de trabalho, optam pela carreira acadêmica e prosseguem os estudos com a pós-graduação (mestrado e doutorado). Alunos dos demais cursos também podem seguir carreira acadêmica e se tornarem aptos a dar aulas no ensino superior e a realizar pesquisas na área da matemática, as quais nem sempre estão relacionadas aos problemas do mundo real. 

Vale lembrar que tanto aqueles que querem seguir a Licenciatura quanto quem quer o Bacharelado, na hora de se inscrever no vestibular FUVEST, escolhe uma mesma opção de carreira (790) e curso (62). Isso porque o estudante só vai decidir qual caminho seguir após o terceiro semestre do curso, já que, até esse momento, as disciplinas são comuns para as duas habilitações (Licenciatura e Bacharelado). 

ICMC oferece cinco cursos de graduação para os amantes da matemática
O mito do matemático que morreu de fome – O medo de não conseguir garantir a própria sobrevivência no futuro é outro mito recorrente entre os vestibulandos que gostam de matemática. Esse mito está muito ligado ao anterior – “todo matemático é professor de matemática” –, por isso, cogita-se que tenha se fortalecido juntamente com a disseminação da “síndrome do professor mal remunerado”. Certamente, surgiu em sua mente aquele cenário tradicional de uma escola pública de ensino médio e fundamental com falta de professores de matemática e baixos salários.

“Todos têm opiniões prontas sobre mercado e salário de professores. Obviamente, não direi que o salário não é um problema e que o professor não precisa ser melhor valorizado no Brasil, mas existem sim boas condições de trabalho e formas de atingir os objetivos sendo um profissional bem formado, bem capacitado e comprometido com seu trabalho”, afirma o professor Marcelo Pereira, que se formou em Licenciatura em Ciências Exatas (carreira 815, curso 68). O curso é oferecido pelo ICMC em parceria com os institutos de Física e de Química e possibilita obter habilitação em Física, Química e Matemática.

Vale ressaltar que o cenário do pleno emprego é uma realidade para os professores de matemática, embora não se possa negar que a questão da remuneração ainda seja um problema no ensino público. Por outro lado, para os matemáticos que decidem atuar como pesquisadores em instituições de ensino superior e dar aulas nessas instituições, as perspectivas de remuneração são bem mais animadoras. Segundo Aurichi, apesar de ter um bom salário, os matemáticos que seguem carreira acadêmica ganham menos do que aqueles que vão para o mercado, pois a disputa acirrada por profissionais torna os salários iniciais bastante atraentes. “Nossos alunos recém-formados têm ingressado no mercado de trabalho com salários que variam de R$ 3,5 a 4 mil e com ótimas perspectivas de crescimento profissional nas empresas”, completa Buscaglia.

O mito do matemático que morreu de fome assombrou por muito tempo o aluno do ICMC André Luís Soares, levando-o a prestar vestibular para engenharia mecânica por dois anos seguidos, sem sucesso. Só então, arriscou assinalar a opção do Bacharelado em Matemática Aplicada e Computação Científica. Começou o curso e descobriu que não gostava da mistura entre matemática e computação. Então, transferiu para o Bacharelado em Matemática. “Antes de prestar o vestibular, a gente fica se perguntando: será que vou gostar? Você só vai descobrir se tentar. Depois de entrar na universidade, se não gostar do curso, basta transferir para outro”, ensina Soares.

O professor Aurichi revela que 16,22% dos alunos que se formaram no Bacharelado em Matemática, de 2009 a 2013, são estudantes provenientes de outros cursos da USP. Fica a dica: “Se você gosta de ciências exatas e, na hora de prestar o vestibular, escolher um curso que não atenda ao seu perfil, é muito fácil realizar uma transferência para outro curso no ICMC”. Descartamos aqui mais um mito, o de que “você não pode errar na hora de escolher um curso no vestibular”.

Contas? Não conte com o matemático!
O mito de que todo matemático sabe fazer contas – As alunas do ICMC Graziele Bombonato, da Licenciatura em Matemática, e Oriana Ortiz, do Bacharelado em Matemática, confessam que ficam furiosas quando, na hora de pagar a conta na mesa do bar, são requisitadas para fazer os cálculos: “A gente não sabe fazer contas”.

Entre os profissionais das ciências exatas, segundo o professor Aurichi, o matemático é o que menos sabe calcular: “A matemática que os alunos encontram na universidade é completamente diferente da matéria que eles aprenderam no ensino médio e fundamental. Aqui, nós não estamos interessados em fazer contas, mas em entender como as coisas funcionam e as relações entre essas coisas. É uma busca por uma compreensão mais qualitativa que quantitativa”.

Para um matemático, muitas vezes, é suficiente saber que a reposta para uma questão existe e é passível de ser calculada. Depois de descobrir isso, ele simplesmente não precisa fazer conta.

O mito de que matemática não combina com outras ciências – Cada vez mais as ciências exatas são reconhecidas como relevantes para o desenvolvimento de outras ciências. Da biologia à sociologia, é possível encontrar inúmeros exemplos de matemáticos que buscam desenvolver modelos para entender como as coisas funcionam nesses diferentes campos do saber. Quando chega a época das eleições, esse fenômeno fica ainda mais evidente com as inúmeras análises estatísticas que tentam prever o que acontecerá nos rumos políticos do país.

“Toda a ciência que tem algo a ver com a natureza e com o mundo real precisa da estatística”, diz Aurichi. O Bacharelado em Estatística (carreira 790, curso 63) é outra opção de curso oferecido pelo ICMC e quem se forma nessa área pode atuar em inúmeros setores, tendo em vista que o emprego das metodologias estatísticas tornou-se uma prática comum em bancos, seguradoras, na medicina, na biologia, na indústria de forma geral e no governo. Daí a conclusão de que a probabilidade de um estatístico ficar desempregado atualmente tende a zero.

Vale dizer que os estatísticos costumam atuar nos bastidores, auxiliando outro profissional a desenvolver sua área de atuação. Por isso, os estudantes desse curso precisam ter capacidade de relacionamento interpessoal e de trabalhar multidisciplinarmente, já que sempre irão atuar com pessoas de diferentes campos do conhecimento. Essa é mais uma opção para quem ama matemática, um campo tão infinito de possibilidades.

Se algum mito ainda o impossibilita de abraçar a matemática, apesar de gostar muito dela, não hesite em nos escrever: comunica@icmc.usp.br

Saiba mais:
Acesse as grades curriculares dos cursos da área de matemática oferecidos pelo ICMC. Assim, você poderá conhecer todas as disciplinas que farão parte da sua trajetória em cada um deles:
Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação ICMC/USP
Fotos: Reinaldo Mizutani – Assessoria de Comunicação ICMC/USP

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