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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Evento internacional de equações diferenciais recebe trabalhos até 16 de dezembro


ICMC Summer Meeting on Differential Equations acontecerá de 3 a 5 de fevereiro


Na edição de 2019, 210 pesquisadores de diversos países compareceram ao encontro

O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, promoverá, de 3 a 5 de fevereiro de 2020, um dos mais importantes eventos na área de equações diferenciais: o ICMC Summer Meeting on Differential Equations.

Na programação, estão previstas palestras, seções especiais temáticas e seções de pôsteres, em que pesquisadores já experientes e estudantes de pós-graduação de diversas partes do mundo apresentarão seus trabalhos. Além de debater as novas pesquisas que estão sendo desenvolvidas na área, o evento tem por objetivo promover a internacionalização dos diversos grupos que pesquisam equações diferenciais e atuam no Estado de São Paulo. Promovido anualmente pelo ICMC desde 1996, o encontro faz parte do calendário científico nacional e internacional.

Quem deseja submeter trabalhos pode enviar os resumos até 16 de dezembro por meio do site do evento. Já as inscrições para ouvintes podem ser realizadas até dia 10 de janeiro no mesmo site.

Programa de Verão – O ICMC Summer Meeting on Differential Equations integra a agenda do Programa de Verão em Matemática do ICMC, que ocorre de 6 de janeiro a 14 de fevereiro de 2020. Realizado anualmente desde 1983, o Programa é um catalisador de interações entre os pesquisadores de diversos grupos do Brasil e do exterior. Também oferece atualização e formação por meio de reuniões científicas e cursos de nivelamento e avançados.

Além disso, o desempenho dos participantes nas disciplinas do Programa pode contar significativos pontos no processo seletivo para ingresso no Mestrado em Matemática do ICMC. As atividades são promovidas pelo Programa de Pós-Graduação em Matemática do ICMC, contando com a participação de pesquisadores visitantes, alunos de graduação e de pós-graduação.

Este ano, evento celebrará o aniversário de 60 anos do pesquisador Tomás Caraballo, da Universidade de Sevilla, na Espanha

Texto: Assessoria de Comunicação do ICMC/USP

ICMC Summer Meeting on Differential Equations
Data máxima para submissão de trabalhos: 16 de dezembro
Data do evento: 3 a 5 de fevereiro de 2020
E-mail: summer@icmc.usp.br

Programa de Verão em Matemática 2020
Data do evento: 6 de janeiro a 14 de fevereiro de 2020
E-mail: verao@icmc.usp.br

Mais informações
Área de eventos do ICMC: (16) 3373.9622
E-mail: eventos@icmc.usp.br

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Inscrições abertas no ICMC para curso sobre a teoria dos índices e o teorema de Poincaré-Hopf

As ferramentas matemáticas que serão apresentadas no curso podem ser utilizadas para compreender, por exemplo, a estrutura de substância que possuem um estado intermediário entre o cristal e o líquido
(crédito da imagem: Wikipedia)

Muitos fenômenos naturais provenientes da física, química, economia, biologia, podem ser modelados usando ferramentas matemáticas. Mostrar como descrever a dinâmica global desses diversos fenômenos empregando recursos da teoria qualitativa das equações diferenciais ordinárias é o objetivo de um curso que será oferecido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. 

Entre os conteúdos que serão abordados no curso estão a compactação de Poincaré e o teorema de Poincaré-Hopf. A iniciativa, que é gratuita, ocorrerá nas tardes das próximas quarta e quinta, 4 e 5 de dezembro, das 14 às 16 horas, e também na manhã de sexta-feira, 6 de dezembro, das 10 às 12 horas. Todas as atividades acontecerão no auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano, no bloco 6 do ICMC. 

Voltado para alunos de graduação, pós-graduação e demais pesquisadores interessados em aprofundar os conhecimentos na área de equações diferenciais ordinárias, o curso está com inscrições abertas até a próxima segunda-feira, 2 de dezembro. Para participar, basta acessar o Sistema Apolo da USP neste link: icmc.usp.br/e/5758e

Coordenado pela professora Regilene Oliveira, o curso será ministrado pelo professor Jaume Llibre, da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), na Espanha. Pesquisador de reconhecimento internacional na área de sistemas dinâmicos polinomiais, Llibre lidera o grupo de sistemas dinâmicos da UAB e já foi contemplado com diversos prêmios internacionais como, por exemplo, o Icrea Academia Awarded 2009 e o Narcís Monturiol Medal 2015. Ele foi o único matemático contemplado com recursos provenientes de um edital do Programa Institucional de Internacionalização da USP, para professor visitante do exterior (PRINT-USP-CAPES). Foram esses recursos que possibilitaram ao pesquisador visitar o ICMC, onde permanecerá de 2 a 14 de dezembro. 

“A presença do professor Jaume Llibre como ministrante do curso será um diferencial para nosso Instituto. É uma oportunidade ímpar para nossos alunos de graduação e de pós-graduação interagirem com o pesquisador, trazendo dúvidas e considerações sobre o tema do curso ou de áreas afins, e até de iniciarem trabalhos em colaboração”, ressalta a professora Regilene. “Na pesquisa em matemática, a prática de motivar o contato entre jovens pesquisadores e pesquisadores experientes têm sido empregada com frequência em muitas áreas por todo o mundo e tem alcançado resultados relevantes, dentre eles, o aumento dos grupos de pesquisa e de alunos de pós-graduação atuando na área”, finaliza a professora, que preside a Comissão de Pesquisa do ICMC.

Texto: Denise Casatti - Assessoria de Comunicação do ICMC/USP 

On the index theory and the Poincaré-Hopf Theorem 
Inscreva-se até dia 2 de dezembro ou enquanto houver vagas: icmc.usp.br/e/5758e
Confira o programa do curso: icmc.usp.br/e/79689
Onde será o curso: auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano, no bloco 6 do ICMC 
Endereço: avenida Trabalhador são-carlense, 400 
Mais informações: (16) 3373.9146 ou ccex@icmc.usp.br

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Programa de Verão em Matemática promove formação especializada e interação entre pesquisadores

Iniciativa ocorrerá de 6 de janeiro a 14 de fevereiro, e as inscrições estão abertas até 15 de novembro

O ICMC Summer Meeting on Differencial Equations faz parte do Programa de Verão em Matemática do ICMC

O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, promoverá de 6 de janeiro a 14 de fevereiro de 2020 o Programa de Verão em Matemática. As atividades são gratuitas, destinadas a todos os interessados, e as inscrições estão abertas até o dia 15 de novembro. 

Realizado anualmente desde 1983, o Programa é um catalisador de interações entre os pesquisadores de diversos grupos do Brasil e do exterior. Também oferece atualização e formação por meio de reuniões científicas e cursos de nivelamento e avançados. 

Além disso, o desempenho dos participantes nas disciplinas do Programa pode contar significativos pontos no processo seletivo para ingresso no Mestrado em Matemática do ICMC, que está com inscrições abertas até 30 de outubro (saiba mais). 

As atividades são promovidas pelo Programa de Pós-Graduação em Matemática do ICMC, contando com a participação de pesquisadores visitantes, alunos de graduação e de pós-graduação. 

Equações Diferenciais – Integrando a agenda do Programa de Verão ocorre, de 3 a 5 de fevereiro, o ICMC Summer Meeting on Differential Equations que visa debater as novas pesquisas que estão sendo desenvolvidas nessa área. 

O encontro faz parte do calendário científico nacional e internacional e é promovido anualmente pelo Instituto desde 1996. A programação contará com palestras, seções especiais temáticas e seções de pôsteres, em que pesquisadores já experientes e estudantes de pós-graduação de diversas partes do mundo apresentarão seus trabalhos. 

Quem deseja submeter trabalhos para ICMC Summer Meeting pode enviar os resumos até 16 de dezembro por meio do site do evento. Já as inscrições para ouvintes podem ser realizadas até dia 10 de janeiro no mesmo site. 

Participantes da edição de 2019 do ICMC Summer Meeting on Differencial Equations


Texto: Gabriela Bidin - Assessoria de Comunicação do ICMC/USP

Programa de Verão em Matemática 2020 
Data máxima para inscrições: 15 de novembro 
Data do evento: 6 de janeiro a 14 de fevereiro de 2020
Inscrições: icmc.usp.br/e/f6e36

ICMC Summer Meeting on Differential Equations 
Data máxima para submissão de trabalhos: 16 de dezembro 
Data do evento: 3 a 5 de fevereiro de 2020 

Mais informações 
Sobre a Pós-Graduação do ICMC: https://www.icmc.usp.br/pos-graduacao 
Serviço de Pós-Graduação do ICMC: (16) 3373.9638 
E-mail: posgrad@icmc.usp.br

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Quando a matemática das bolhas de sabão ajuda a explicar os problemas da vida real

Ao estudar uma simples bolha de sabão, os matemáticos abrem caminhos para compreender, por exemplo, o que acontece em volta dos buracos negros e também no interior das ligas metálicas

Calcular matematicamente o tamanho dessas diferentes estruturas que nascem a partir de uma experiência com água e sabão não é algo trivial
(crédito da imagem: Pinterest)
O que há em comum entre a bolha de sabão que uma criança assopra no ar, as ligas metálicas que sustentam uma construção e os arredores dos buracos negros que nos rondam? Há um elo invisível que os conecta: a matemática, uma ciência capaz de aproximar os mais diferentes fenômenos na busca por compreendê-los. 

Os primeiros matemáticos que se dedicaram ao estudo das bolhas de sabão não imaginavam que seus conhecimentos um dia poderiam ser utilizados para investigar fenômenos celestes tão inusitados quanto os buracos negros, mas essa é outra característica dessa ciência: a imprevisibilidade de suas futuras aplicações. Com a suspeita de que a matemática das bolhas de sabão se assemelha à que permeia os arredores dos buracos negros, há ainda mais motivos para pesquisar as bolhas de sabão, muito mais acessíveis e seguras. 

Essas superfícies que encantam as crianças podem ser estudadas em praticamente todo lugar: basta misturar água e sabão em uma concentração tal que, ao pegar um arame com o formato clássico do círculo, e mergulhá-lo na solução, uma película fina, flexível e resistente surgirá. Ao assoprar essa película, que está grudada nas bordas do arame, você poderá formar uma bolha de sabão e, se tiver alguma habilidade, ela se desprenderá e voará pelo espaço até estourar. Continue a experiência matemática usando sua criatividade para moldar o arame em diversos formatos. Note que uma película surge unida às bordas toda vez que o objeto metálico é mergulhado na solução e, à medida que você muda o formato do arame, altera-se também o formato da película. 

No entanto, calcular matematicamente o tamanho dessas diferentes estruturas que nascem a partir da experiência com água e sabão não é algo trivial. “A tentativa de entender essas superfícies mínimas foi o que motivou a construção de áreas novas de pesquisa”, explica Pedro Henrique Gaspar Marques da Silva, 27 anos, formado em matemática pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. “Os matemáticos têm sido desafiados a pensar sobre essas superfícies mínimas há mais de um século”, completa o rapaz, que está fazendo pós-doutorado na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. 

Ele voltou ao ICMC no dia 27 de agosto para receber o Prêmio Carlos Gutierrez de Teses de Doutorado, que reconhece, a cada ano, a melhor tese em matemática defendida no Brasil no ano anterior: “Meu trabalho está no meio do caminho entre a geometria e as equações diferenciais. Aliás, os matemáticos construíram a ponte entre essas duas áreas exatamente para tentar entender as superfícies mínimas”. 

Pedro durante sua palestra no auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano
(crédito da imagem: Denise Casatti)

Depois de receber a premiação, Pedro ministrou uma palestra no auditório Fernão Stella Rodrigues Germano, em que abordou os principais resultados de sua tese. Na plateia, professores e participantes do Workshop de Teses e Dissertações do ICMC acompanhavam atentos às explicações técnicas. A seguir, subimos até o terceiro andar da Biblioteca Achille Bassi para admirar, de perto, o Ipê Amarelo florido. Ao nos sentarmos em uma das mesas, Pedro volta a explicar, pacientemente, alguns conceitos matemáticos com os quais trabalha. Diante de uma jornalista, depara-se com a impossibilidade de usar os mesmos termos e equações que apresentou na palestra. Mas isso não o incomoda: perspicaz, Pedro encontra metáforas e exemplos para compartilhar o que sabe. 

Aliás, ele tem essa facilidade para ensinar desde criança, revela o avô materno, Paulo Afonso Marques. Presente na cerimônia de premiação, Paulo conta que, quando o neto estava no ensino fundamental e o semestre próximo do fim, o garoto continuava indo à escola. Então, o avô perguntava: “Pedro, você já eliminou todas as matérias, pra que está indo à escola?” O garoto respondia: “Meus colegas não terminaram ainda, tenho que ajudá-los”. 

A mãe, Ana Paula Gaspar Marques da Silva, completa: “Ele sempre gostou muito de ensinar. Quando estava no ensino médio, minha casa vivia cheia de amigos e colegas”. Para ela, a qualidade mais marcante do garoto, desde sempre, é a humildade.

Pedro abraçado à mãe, Ana Paula, acompanhado pelo pai e os avós
(crédito da imagem: Denise Casatti)

Forças em equilíbrio – Mas o que torna as películas de sabão atraentes aos olhos dos matemáticos e aos olhos de Pedro, em especial? “Essas superfícies são resultado de um estado de equilíbrio de forças físicas: há pressão de um lado e de outro da película. E a forma final adquirida pela superfície é resultado do equilíbrio dessas forças”. Nesse estado de equilíbrio, a película adquire também uma interessante propriedade geométrica: possui a menor área entre todas as superfícies que são limitadas por uma curva fechada. É daí que vem o nome desses objetos matemáticos: superfícies mínimas. 

Há muitas situações do cotidiano em que as superfícies mínimas aparecem e os conhecimentos matemáticos da área podem ser aplicados. Pedro cita como exemplo o desafio de unir várias antenas, receptores ou radares, de maneira a otimizar a captação de sinais. Outro exemplo vem da arquitetura: “Imagine que você tem um palito na mão e vai girá-lo, sem completar a volta, e deslocá-lo para cima. A superfície que será criada pela trajetória descrita por esse palito é uma superfície mínima. Então, se eu fizer uma casa cujo telhado tem esse formato, terei que calcular matematicamente onde colocar as vigas para manter a estrutura em equilíbrio”. 

O nome dessa simpática superfície descrita por Pedro é helicoide e, para recriá-la, basta modelar um arame em formato de espiral e mergulhá-lo no mesmo recipiente com água e sabão usado para produzir as bolhas. Se você quiser pesquisar ainda mais as interessantes propriedades matemáticas desse estranho objeto, pode construí-lo usando palitos de picolé. Os palitos farão você visualizar com clareza que, em cada ponto do helicoide, passa uma reta, a qual está inteiramente contida nessa superfície mínima. 

Helicoide: modele um arame em formato de espiral e o mergulhe em um recipiente com água e sabão
(Crédito da imagem: Paul Nylander)

O helicoide de palitos de picolé foi um dos muitos experimentos que encantou um grupo de estudantes do segundo ano do ensino médio da Escola Antonio Raimundo de Melo, na cidade de Carnaubal, no Ceará. A pesquisadora Lucimara Andrade realizou uma série de atividades com esses alunos para discutir as propriedades básicas das superfícies mínimas. O projeto é fruto do mestrado profissional em matemática (PROFMAT) que Lucimara desenvolveu na Universidade Federal do Ceará, sob orientação do professor Marcelo Melo. O trabalho resultou também na publicação do artigo Superfícies mínimas e bolhas de sabão no Ensino Médio, na revista Thema. 

“O estudo contribuiu muito para a formação educacional dos estudantes, possibilitando a eles um contato teórico e prático com tópicos matemáticos voltados quase exclusivamente para alunos de pós-graduação em matemática”, ressaltam Marcos e Lucimara no artigo. “Esta experiência comprova que com iniciativa e criatividade, a matemática (mesmo aquela matemática que aparentemente faz parte apenas da rotina de pesquisadores de alto nível) pode deixar de ser temida e rejeitada por muitos estudantes, e passar a ser vista como uma ferramenta indispensável e presente no dia a dia dos alunos do ensino médio”, concluem os autores. 

Imagem da helicoide com palitos de sorvete feita pelos alunos da professora Lucimara Andrade
(crédito da imagem: arquivo da professora)

Dimensões além – Se estudar as superfícies mínimas no planeta Terra já é desafiador, imagine só fazer isso em outro planeta. A questão parece totalmente fora de propósito, mas é usando essa brincadeira que Pedro nos lança para outras dimensões: “Uma criança entediada, que está em outro planeta, no qual há várias dimensões, resolve fazer uma bolha de sabão. Em vez de sair uma esfera voando, a bolha tem um formato estranho, que se parece com o que a gente chama de hipersuperfíceis”. 

Para entender uma hipersuperfície, precisamos mesmo usar nossa imaginação. Isso acontece porque, aqui na Terra, bastam três números para definirmos matematicamente os objetos tridimensionais que vemos. Pense em uma caixa, para saber o espaço que ela ocupa, é só identificar a largura, a profundidade e a altura, ou seja, suas três dimensões. Então, por que os matemáticos insistem em pensar em mais dimensões se no nosso mundo tem só três? 

Pedro explica: “Cada dimensão pode ser considerada como uma quantidade que a gente quer medir. Imagine que vamos estudar o problema de uma empresa: ela quer minimizar o quanto gasta para produzir um produto e tem um monte de fatores para levar em consideração – custo de materiais, das pessoas, do transporte do material, do transporte do produto final até o local de venda, etc. Bem, cada um desses fatores pode ser considerado como se fosse uma dimensão. Para tentar achar um valor ótimo, temos que estudar mais dimensões além de três”. 

Se você achava que bastavam três dimensões para resolver os problemas do nosso mundo, acaba de descobrir que já vivemos em um planeta que demanda pesquisar muitas outras dimensões, mesmo que elas sejam invisíveis. O que Pedro estudou em sua tese é como o calcular o espaço ocupado pelas superfícies mínimas quando temos mais do que três dimensões: “Para criar uma liga de metal, por exemplo, várias substâncias são unidas e, olhando para o interior desse material, podemos localizar espaços em que as substâncias estão em equilíbrio. A superfície que aparece entre esses diferentes materiais se parece com aquelas que ocorrem nas bolhas de sabão.” 

Para compreender as hipersuperfícies, é preciso usar a imaginação
(Crédito da imagem: Paul Nylander)

De volta ao começo – Ao receber o Prêmio Gutierrez pela tese de doutorado A equação de Allen-Cahn e aspectos variacionais de hipersuperfícies mínimas, defendida no IMPA e orientada pelo professor Fernando Codá, Pedro se lembrou de seus primeiros passos em matemática: “Voltar para o ICMC é quase como voltar para casa. Foi realmente onde eu comecei a gostar de fazer matemática. Um dos fatores fundamentais que construíram a ponte para o que aconteceu depois – o meu doutorado – foi a iniciação científica”. 

Sob orientação do professor Fernando Manfio, do ICMC, Pedro desenvolveu projetos de iniciação científica durante três anos, todos com bolsas de estudo: um ano com recursos provenientes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e dois com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). “A iniciação científica me abriu várias portas, possibilitando ir a eventos, simpósios, conferências, workshops”. 

Quando visitou o ICMC pela primeira vez, um pouco antes de ficar sabendo que havia sido aprovado no vestibular da Fuvest, Pedro se encantou pelo ambiente acolhedor. “Algo que se confirmou ao longo da graduação: é um ambiente quase familiar, os professores são muito acessíveis e os colegas de turma dispostos a ajudar”. Foram as forças desse espaço, em equilíbrio, que possibilitaram a Pedro explorar muitas superfícies matemáticas. 

A professora Maria Aparecida Soares Ruas falou sobre a relevância do pesquisador Carlos Teobaldo Gutierrez Vidalon durante a cerimônia de premiação; à esquerda, estão o professor Daniel Smania, Pedro e o professor Fernando Manfio
(crédito da imagem: Denise Casatti)

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP 

Leia mais 
Ex-aluno do ICMC é reconhecido pela melhor tese de doutorado em matemática, defendida no IMPA: 
Pedro Gaspar defende tese na área de Análise Geométrica:
Dissertação Superfícies mínimas e bolhas de sabão no ensino médio:
Artigo Superfícies mínimas e bolhas de sabão no ensino médio:
Vídeo sobre superfícies mínimas:
Vídeo sobre a quarta dimensão (Isto É Matemática):

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Confira as imagens do ICMC Summer Meeting on Differential Equations

Evento foi realizado de 4 a 6 de fevereiro, no ICMC (crédito: Reinaldo Mizutani ICMC/USP)

Um dos mais importantes eventos na área de equações diferenciais aconteceu esta semana no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos: o ICMC Summer Meeting on Differential Equations 2019 Chapter

No total, 210 pesquisadores de diversos países compareceram ao encontro, que foi realizado de 4 a 6 de fevereiro. Além de debater as novas pesquisas desenvolvidas nessa área, o evento contribuiu para promover a internacionalização dos diversos grupos que pesquisam equações diferenciais e atuam no Estado de São Paulo. 

A iniciativa, que faz parte do Programa de Verão em Matemática do ICMC, é promovida anualmente desde 1996 e faz parte do calendário científico nacional e internacional. 

Confira o álbum de fotos do evento no Google Fotos e no Facebook!

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Evento internacional na área de equações diferenciais acontecerá em fevereiro no ICMC

Pesquisadores se reunirão de 4 a 6 de fevereiro durante o ICMC Summer Meeting on Differential Equations 2019 Chapter




Um dos mais importantes eventos na área de equações diferenciais acontecerá no próximo ano, de 4 a 6 de fevereiro, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos: o ICMC Summer Meeting on Differential Equations 2019 Chapter

Além de debater as novas pesquisas que estão sendo desenvolvidas nessa área, o evento tem por objetivo promover a internacionalização dos diversos grupos que pesquisam equações diferenciais e atuam no Estado de São Paulo. Promovido anualmente pelo Instituto desde 1996, o encontro faz parte do calendário científico nacional e internacional. 

A programação contará com palestras, seções especiais temáticas e seções de pôsteres, em que pesquisadores já experientes e estudantes de pós-graduação de diversas partes do mundo apresentarão seus trabalhos. A iniciativa também faz parte do Programa de Verão em Matemática do ICMC. 

Quem deseja submeter trabalhos para o evento, pode enviar os resumos até 17 de dezembro por meio do site http://summer.icmc.usp.br/summers/summer19. Já as inscrições podem ser realizadas até dia 10 de janeiro no mesmo endereço. 

O ICMC Summer Meeting on Differential Equations é uma iniciativa do grupo de Sistemas Dinâmicos Não Lineares do ICMC, contando com o apoio das principais agências de fomento à pesquisa do Brasil.

Na imagem, grupo que participou do evento este ano

Texto: Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Foto: Reinaldo Mizutani

Mais informações 
Setor de Eventos do ICMC: (16) 3373.9622 

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Ponte para os números: conheça a história do professor Ederson Moreira

Apaixonado por matemática desde criança, Ederson é, atualmente, professor no ICMC e novo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências

As aplicações e contribuições da matemática para a sociedade
motivam e encantam Ederson em seu trabalho

As primeiras pontes entre Ederson Moreira dos Santos e a matemática não eram de fácil travessia e sequer asfaltadas. Nascido em Cruzeiro do Oeste, no estado do Paraná, passou a infância no pequeno vilarejo de Aparecida do Oeste. Lá, os recursos eram poucos, por isso as crianças precisavam ir até Tuneiras do Oeste, distrito vizinho, para frequentar a escola de nível médio. “Até hoje a estrada que liga os distritos não é pavimentada, por isso, na época de fortes chuvas, o ônibus não conseguia atravessar o percurso e não podíamos ir às aulas”, conta Ederson.

Mesmo enfrentando algumas dificuldades típicas da vida em cidade pequena, Ederson narra uma infância tranquila, repleta de brincadeiras de rua como jogar bola, andar de bicicleta e pescar. Frequentava assiduamente as missas da paróquia da cidade e revela um fato curioso: quase se tornou padre, consequência de sempre ter ajudado nas celebrações. A aptidão religiosa, no entanto, perdeu para a matemática, sua paixão desde cedo.

Um dos professores de ensino médio de Ederson foi um dos principais responsáveis pela sua decisão. Na época, a ideia do seminário ainda era forte, mas o professor foi enfático: ele deveria seguir com os estudos na universidade. A escolhida por ele e pela família foi a Universidade Estadual de Maringá (UEM), pela proximidade com a casa de seu tio. A escolha do curso foi a mais fácil, pois a preferência pela matemática era nítida desde a infância. “Na universidade, eu me encantei pela disciplina de cálculo, passava noites resolvendo exercícios e, naturalmente, me especializei em equações diferenciais parciais”, conta ele. O encantamento e dedicação lhe garantiram o melhor rendimento da turma em sua formatura e um diploma especial de Láurea Acadêmica.

Professores da UEM sugeriram que Ederson seguisse com os estudos na pós-graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e assim ele fez. Lá, foi orientado pelo professor Djairo Guedes de Figueiredo , membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 1969. Ederson conta ser muito grato ao professor Djairo pela contribuição à sua carreira, assim como à de outros matemáticos brasileiros e reconhece sua importância. “Sua influência na matemática brasileira fez dele um dos pilares desta ciência em nosso país”, afirma.

Ederson dos Santos fez estágios de pós-doutoramento na Unicamp e na Université Paris VI, além um estágio de pesquisa na Università di Roma Sapienza. Hoje, o novo membro afiliado da ABC é professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Ele orienta pesquisas sobre equações diferencias parciais (EDPs) e ordinárias (EDOs) e a resolução de problemas relacionados a elas, em particular as chamadas elípticas. O matemático estuda questões acerca da existência e multiplicidade sobre propriedades qualitativas, tais como fenômenos de simetria, concentração, explosão e estabilidade das soluções de problemas envolvendo EDPs e EDOs de segunda e quarta ordens, assim como sistemas de EDPs de segunda ordem.

Ederson explica que a modelagem matemática é uma das melhores formas de se entender fenômenos naturais e parte de sua pesquisa pode ser aplicada em situações reais, como a oscilação de pontes. “A ponte é vista com uma viga e a modelagem envolve uma equação diferencial ordinária (EDO). Em um segundo modelo, o tabuleiro da ponte é considerado uma estrutura bidimensional e a análise é feita através do estudo de uma EDP. Em ambos os modelos, a solução da EDO ou da EDP representa a deformação/oscilação da ponte.” O estudo da estabilidade por meio de teoremas e experimentos numéricos contribuiu, em particular, para o estudo do caso da ponte de Tacoma, que caiu, em 1940, em razão de fortes ventos na região.

São as aplicações e contribuições da matemática para questões da sociedade que motivam e encantam Ederson em seu trabalho. “Em matemática, a prova correta de um teorema ou de uma conjectura torna a afirmação uma verdade absoluta, incontestável. Muitas dessas verdades servem de pilar, ou são então aplicadas para as mais diversas áreas da ciência”, explica ele. Para o matemático, contribuir para a ciência e se tornar membro afiliado da ABC é uma vitória que ganha grande significado por ter vindo de uma família simples e sem acesso à educação. Talvez por isso, para ele, o acesso e a divulgação da educação tenham grande importância. Ederson pretende atuar em favor dessas questões junto à Academia.

Texto: Thaís Soares para o boletim Notícia da ABC
Foto: Reinaldo Mizutani - Assessoria de Comunicação do ICMC

Mais informações
Texto original publicado no site da ABC: www.abc.org.br/?Ponte-para-os-numeros
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.nr

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Confira como foi o ICMC Summer Meeting

Evento é promovido anualmente pelo Instituto desde 1996



Um dos mais importantes eventos do mundo na área de equações diferenciais aconteceu e 5 a 7 de fevereiro no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos: o ICMC Summer Meeting on Differential Equations 2018 Chapter. Este ano o evento fez uma homenagem a um dos principais pesquisadores da área, Shui-Nee Chow, que é professor do Georgia Institute of Technology, dos Estados Unidos, e completou 75 anos.

Promovido anualmente pelo Instituto desde 1996 por iniciativa do grupo de Sistemas Dinâmicos Não Lineares do ICMC, o encontro faz parte do Programa de Verão em Matemática do Instituto. 

Veja o álbum de fotos do evento no Flickr e no Facebook!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Evento internacional na área de equações diferenciais acontecerá em fevereiro no ICMC

Pesquisadores se reunirão de 5 a 7 de fevereiro durante o ICMC Summer Meeting on Differential Equations

Iniciativa é realizada anualmente desde 1996

Um dos mais importantes eventos do mundo na área de equações diferenciais acontecerá de 5 a 7 de fevereiro no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos: o ICMC Summer Meeting on Differential Equations 2018 Chapter. Este ano o evento fará uma homenagem a um dos principais pesquisadores da área: Shui-Nee Chow, que é professor do Georgia Institute of Technology, dos Estados Unidos, e completará 75 anos.

Além de debater as novas pesquisas que estão sendo desenvolvidas nessa área, o evento tem por objetivo promover a internacionalização dos diversos grupos que pesquisam equações diferenciais e atuam no Estado de São Paulo. Promovido anualmente pelo Instituto desde 1996, o encontro faz parte do calendário científico nacional e internacional. A programação contará com palestras, seções especiais temáticas e seções de pôsteres, em que pesquisadores já experientes e estudantes de pós-graduação de diversas partes do mundo apresentarão seus trabalhos. A iniciativa também faz parte do Programa de Verão em Matemática do ICMC

Quem deseja submeter trabalhos para o evento, pode enviar os resumos até 5 de janeiro por meio do site http://summer.icmc.usp.br/summers/summer18. Já as inscrições podem ser realizadas até dia 10 de janeiro no mesmo endereço. 

O ICMC Summer Meeting on Differential Equations é uma iniciativa do grupo de Sistemas Dinâmicos Não Lineares do ICMC e faz parte das ações do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Matemática (INCTMat), contando com o apoio das principais agências de fomento à pesquisa do Brasil.

Texto: Denise Casatti - Assessoria de Comunicação ICMC/USP

Mais informações
Setor de Eventos do ICMC: (16) 3373.9622

terça-feira, 25 de julho de 2017

A matemática está em tudo: comece olhando para sua xícara de café

Se pudéssemos enxergar o mundo como os matemáticos fazem, veríamos que as equações diferenciais estão tão presentes no nosso dia a dia quanto o tique-taque dos relógios

Vindos de várias partes do mundo, pesquisadores da área de equações diferenciais reúnem-se anualmente no ICMC,
durante o tradicional Summer Meeting on Differential Equations (foto: Reinaldo Mizutani)

O café da manhã dos matemáticos pode ser bem mais complexo do que para os demais habitantes do planeta. Quando os matemáticos enchem suas xícaras de café e pegam o açúcar, eles reconhecem a mágica que acontece durante o tempo em que a colher gira para misturar aquelas substâncias. Mas que beleza oculta os matemáticos veem na transformação do líquido amargo em doce? 

Em primeiro lugar, eles sabem o quanto o caos é importante nesse processo e balançam a colher de forma desordenada. Se a mexessem em círculos, com movimentos periódicos, o açúcar se acumularia nas beiradas da xícara, onde o líquido se movimenta mais devagar. “O caos é usado em muitas aplicações práticas para fazer misturas de maneira a homogeneizar as substâncias”, conta o professor aposentado Hildebrando Rodrigues, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

Ele explica que, ao promover o caos com a colher, possibilitamos que as partículas de açúcar se afastem rapidamente umas das outras e se mesclem com o líquido. “Essa é uma característica muito importante do caos: fazer o que está próximo se distanciar rapidamente”, revela o professor. Para analisar o fenômeno matematicamente, precisamos transformar o café e o açúcar em coordenadas: imagine, então, que o café se torna um “x” e o açúcar um “y”. A compreensão dessa mistura de “x” e “y” só acontece se levarmos em conta os movimentos que acontecem com eles ao longo do tempo em que a colher promove o deslocamento dessas duas coordenadas. 

Bem-vindo ao sistema dinâmico da xícara de café! Observe o açúcar se misturando. Trata-se de um fenômeno em que há uma variação e você já consegue imaginar que esse microssistema funciona de forma similar a muitos outros. Olhe agora para o céu e veja os corpos celestes descrevendo suas órbitas: eles também se movem ao longo do tempo. E tudo que apresenta variação pode ser traduzido matematicamente por uma equação diferencial.

“No embrião do estudo das equações diferenciais está a obra de Galileu Galilei ao pesquisar o movimento dos astros”, conta Plácido Táboas, outro professor aposentado do ICMC. Ele lembra que no tempo de Galileu ainda não existia o termo “equações diferenciais” nem “cálculo diferencial”, mas faz uma ressalva: “você tem que olhar a obra do homem no seu tempo. E no tempo dele, Galileu foi genial”. 

Plácido: "Você tem que olhar a obra do homem no seu tempo" (foto: Denise Casatti)

Precursor da física experimental e teórica, Galileu deu os primeiros passos rumo à compreensão dos sistemas dinâmicos ao pesquisar a trajetória dos planetas. De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje, a maioria dos modelos matemáticos utilizados na física, na engenharia, na química, na biologia e nos mercados financeiros envolve equações diferenciais. Elas são a base da dinâmica de Isaac Newton e estão presentes nas equações de Albert Einstein que descrevem a força da gravidade. Elas permeiam nosso cotidiano e são aplicadas a problemas tão diversos e fascinantes que vão muito além da mistura de café e açúcar. Foram as equações diferenciais que ajudaram a descobrir por que algumas pontes caem, quais obras de arte são falsas, a diagnosticar doenças, a acompanhar a evolução de um tumor cancerígeno e o crescimento de populações. 

Ao vislumbrar essas diferentes aplicações, você verá que não é preciso fazer contas nem resolver equações para entender que a matemática está presente em tudo. É claro que talvez poucos sejamos capazes de resolver equações diferenciais, mas com certeza todos podemos reconhecer sua importância ao compreender para que elas servem. Basta pensar em tudo o que existe na vida que varia com o tempo e você começará a enxergar equações diferenciais por toda a parte.

A imagem acima é um exemplo de uma equação diferencial.
Nesse caso específico, temos a chamada equação da superfície mínima,
que é a forma codificada que os matemáticos encontraram para
entender o comportamento surpreendente das películas de sabão.

Uma ponte que cai – A terceira maior ponte pênsil do mundo foi inaugurada em 1940 no estreito de Tacoma, em Washington, nos Estados Unidos. Logo, virou atração: as pessoas vinham de centenas de quilômetros em seus carros apreciar a curiosa emoção de dirigir sobre uma ponte que oscilava e havia ganhado o apelido de “galopante”. Poucos imaginavam que, quatro meses depois, o galope seria incontrolável a ponto de fazer a ponte de Tacoma Narrows despencar.

No livro “Equações diferenciais e suas aplicações”, o matemático Martin Braun conta os detalhes da tragédia, relatando que a única vida perdida na catástrofe foi a do cachorro de estimação de um repórter pouco cauteloso. Ele precisou abandonar o carro às pressas antes que a ponte desabasse e abandonou o animal. “A partir de aproximadamente 7 horas da manhã de 7 de novembro de 1940, a ponte começou a ondular persistentemente por três horas”, relata Braun. A ponte só se despedaçou por completo às 11h10 daquela manhã. Mas o que essa queda tem a ver com as equações diferenciais?

“Imagine uma criança no balanço. Digamos que ela é pesada e, aos poucos, você a empurra e a faz se movimentar. Se você empurra na hora certa, ela vai embalando. Isso é ressonância: a força que você está fazendo ao empurrá-la entra em sintonia com a oscilação que já estava acontecendo e, então, ela vai oscilando com uma amplitude cada vez maior. E você faz isso com pouco esforço”, revela o professor Plácido. Foi esse fenômeno da ressonância que aconteceu na ponte de Takoma: a frequência de vibração natural da ponte foi amplificada pelo vento que havia no local. “Quanto perigo este tipo de movimento apresenta depende de como a frequência natural da estrutura (lembremos que as pontes são feitas de aço, um material altamente elástico) está próxima da frequência da forma que empurra. Se as duas frequências são as mesmas, ocorre ressonância, e as oscilações se tornarão destruidoras se o sistema não tiver uma suficiente quantidade de amortecimento”, escreve Braun. O gráfico a seguir ilustra o fenômeno da ressonância, que também pode ser traduzido por meio de uma equação diferencial.



No livro, Braun relata que o mesmo fenômeno foi responsável pela queda da ponte suspensa de Broughton, perto de Manchester, na Inglaterra, em 1831. Mas em vez do vento, o responsável pelo desastre foram os soldados. Ao marcharem de forma cadenciada sobre a ponte, eles produziram uma força periódica de amplitude bastante grande, tal como o vento fez com a ponte de Takoma. A frequência da força dos soldados foi igual à frequência natural da ponte e as oscilações foram aumentando até que a ponte ruiu: “É por essa razão que se ordena aos soldados para quebrarem a cadência quando atravessam uma ponte”.

Quando fala o coração – A marcha dos soldados pode ser comparada ao ritmo do nosso coração. Mas se a cadência desse órgão vital for quebrada, teremos um sério problema: arritmias cardíacas. Em um artigo publicado pelo professor Hildebrando em parceria com a professora Isabel Laboriau, da Universidade do Porto, em Portugal, eles usaram as equações diferenciais para modelar a atividade elétrica em sistemas biológicos. A grande contribuição da matemática para essa área é atuar na busca pela sincronização desses sistemas quando eles entram em caos. Porque se o caos é muito bem-vindo na xícara de café, ele é um desastre quando interfere em batimentos cardíacos, impulsos nervosos, fibras musculares e células pancreáticas.

“As células do coração têm que pulsar de forma sincronizada tal como as linhas de transmissão de energia. Se acontecer uma falha em uma linha por causa de um raio, por exemplo, todo o sistema pode cair. E o caos pode se propagar caso aquela linha com problema não seja desligada”, explica Hildebrando. “No Brasil, temos mais de 600 hidrelétricas e cada uma tem seu próprio modelo matemático. Elas são interligadas pelas linhas de transmissão e todas têm que trabalhar sincronizadamente”, acrescenta o professor.

Hildebrando ressalta ainda que, a partir de um trabalho de colaboração com pesquisadores da área de engenharia elétrica, foram aprimorados os modelos empregados nessa área no Brasil. “Posso afirmar que os resultados mais bem-sucedidos para encontrar a estabilidade nesses sistemas de potência são do nosso grupo de pesquisa e podem ser utilizados em outras áreas do conhecimento”. O professor é um dos principais expoentes da área de equações diferenciais no Brasil. Ele contribuiu para o desenvolvimento e a consolidação desse campo de pesquisa no país. Em 2013, ao completar 70 anos, ele foi homenageado durante o Summer Meeting on Differential Equations, um dos mais importantes eventos do mundo na área de equações diferenciais. Realizado anualmente pelo ICMC desde 1996, o evento é promovido pelo grupo de Sistemas Dinâmicos Não Lineares do ICMC e conta com o apoio das principais agências de fomento à pesquisa do país.

Hildebrando foi homenageado em 2013, durante o
Summer Meeting on Diffrential Equations (foto: divulgação)
“Em muitos casos, nós estudamos as equações diferenciais como objetos matemáticos. A razão é que nós nunca sabemos quando vamos precisar delas. Mas é necessário ter essa caixa de ferramentas, que é uma completa compreensão da teoria, exatamente por não sabermos quando vamos necessitar dela em uma aplicação”, destaca o professor John Mallet-Paret, da Brown University, nos Estados Unidos. Enquanto toma um café em um dos intervalos da última edição do Summer Meeting on Differential Equations, realizado de 6 a 8 de fevereiro no ICMC, John dá inúmeros exemplos das aplicações das equações diferenciais: na física, são elas que ajudam a compreender o comportamentos dos fluidos e possibilitam, por exemplo, construir um avião mais eficiente ou fazer previsões do tempo; na biologia, é essa ferramenta que se usa para entender como as bactérias e os vírus se propagam, assim como para verificar se novas terapias são, de fato, melhores do que as antes empregadas. 

Por isso, são muitos os desafios que instigam os pesquisadores dessa área. “Um dos campos de maior interesse está relacionado à interação entre sistemas determinísticos e sistemas randômicos. Tradicionalmente, na área de equações diferencias, nós tentamos prever exatamente o que vai acontecer no futuro (sistema determinístico). Mas, no mundo real, as coisas não são assim, pois sempre há alterações imprevisíveis (sistema randômico). Entender como essas mudanças interferem nos resultados das equações diferenciais é um grande desafio atualmente”, ressalta John. 

Uma das transformações que vem gerando impacto na área está ligada ao desenvolvimento tecnológico. “Ser capaz de resolver equações diferenciais no computador de forma acurada não era possível 20 anos atrás”, diz John. Para ele, com o aumento da capacidade dos computadores, abre-se um vasto leque para o desenvolvimento de novas aplicações de alta relevância empregando as equações diferenciais. 

Para aqueles que pensavam que tudo já estava resolvido quando o papo era matemática, vale dizer que, por estar presente em tudo, a matemática é tão infinita quanto a capacidade humana de criar. Como escreve o matemático Edward Frenkel no livro Amor e matemática: o coração da realidade escondida: “Eis como é em matemática: cada novo resultado remove o véu que cobre o desconhecido, mas o que então se torna conhecido não contém simplesmente respostas – inclui perguntas que não sabíamos formular, direções que não sabíamos que podíamos explorar. E, assim, cada descoberta nos inspira a dar novos passos e nunca nos deixa satisfeitos em nossa busca por conhecimento”.

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP


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Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br

segunda-feira, 6 de março de 2017

ICMC seleciona professor temporário para a área de álgebra linear e equações diferenciais



O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, recebe, até 10 de março, as inscrições no processo seletivo para contratação de um docente temporário na área de álgebra linear e equações diferenciais. O professor atuará no Departamento de Matemática Aplicada e Estatística, será contratado como Doutor, com jornada de 12 horas semanais e salário de R$ 1.849,66, além de auxílio alimentação no valor de R$ 690,00 e assistência médica. 

As inscrições podem ser realizadas presencialmente, pelo candidato ou por um representante legal, na Assistência Acadêmica do ICMC, que fica na Avenida Trabalhador são-carlense, 400, no campus da USP em São Carlos. 

A seleção será efetuada por meio de uma prova didática e outra escrita. A vaga foi concedida por meio do Programa de Incentivo à Produção de Livros Didáticos para o Ensino de Graduação (PIPLDE), na categoria Produção. O contrato do professor selecionado terá duração de seis meses, podendo ser prorrogado, dependendo de análise, pela Pró-Reitoria de Graduação.

Para obter mais detalhes sobre prazos, documentações, critérios de seleção e demais informações, acesse o edital completo: icmc.usp.br/e/8b10c.

Foto: Nilton Junior/ArtyPhotos

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terça-feira, 4 de outubro de 2016

Uma declaração de amor à matemática

Ainda não foi descoberta a fórmula matemática do amor, mas já se criou uma semana para amá-la

O pós-doutorando Jackson diante de um interminável ciclo de amor e ódio

É sexta-feira à tarde e o amor toma conta do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP. “Mas o que é o amor?”, pergunta o pós-doutorando Jackson Itikawa para a plateia que está no auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano, composta majoritariamente por estudantes da área de matemática, matemática aplicada e estatística.

Primeiramente, ele recorre à definição de William Shakespeare: “Amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado, é o oceano nutrido das lágrimas desses amantes...”. A seguir, pede ajuda a outro inglês famoso: Isaac Newton. “Ele é um dos pais do cálculo diferencial”, revela Jackson, já que é no universo das equações diferenciais que o pós-doutorando mergulha, logo depois, para compreender uma das mais conhecidas relações amorosas de todos os tempos. 

Romeu e Julieta: um caso de amor diferencial é o título dado por Jackson à palestra que marcou o encerramento de uma semana inteira dedicada à matemática. Ao todo o Simpósio de Matemática para a Graduação (SiM) contabilizou 17 palestras, sete minicursos, três mesas redondas, duas oficinas, uma apresentação teatral, uma apresentação musical, um lançamento de livro e 26 apresentações de projetos de iniciação científica.

Maratona de atividades marcou o Simpósio: foi a primeira vez que o evento se estendeu por cinco dias

Se o amor fosse linear – Se pudéssemos transformar o amor de Romeu e Julieta em uma equação diferencial, seria possível medir a taxa de variação dos sentimentos de cada um ao longo do tempo. “No entanto, a vida é extremamente não linear, assim como o amor, e são necessárias inúmeras variáveis para analisá-la”, alerta o pesquisador. Por isso, infelizmente, a humanidade ainda não pode dizer que encontrou a fórmula do amor.

Apesar disso, Jackson pede licença à plateia para analisar um caso particular de amor linear e apresentá-lo matematicamente. Nesse caso, Romeu está apaixonado por Julieta e responde aos sentimentos que ela tem por ele. Dessa forma, ele fica apaixonado quanto mais ela o ama e fica mais desinteressado quanto mais ela o odeia. Entretanto, os sentimentos de Julieta variam de outra forma. Quanto mais Romeu manifesta seu amor, mais Julieta se afasta e o odeia. E quando Romeu se afasta, ela volta a se aproximar e a amá-lo. No intuito de facilitar a visualização sobre esse caso de amor, o pós-doutorando colocou em um plano os resultados das equações diferenciais que modelam o amor desse casal. O que vemos é um interminável ciclo de amor e ódio.

Analisando cada quadrante é possível entender um caso de amor muito particular

No quadrante superior direito, quando os dois amantes estão apaixonados, nota-se que quanto mais Romeu ama Julieta, ou seja, quanto mais positivos são os valores no eixo R, mais Julieta o odeia, ou seja, menores são os valores no eixo J. O oposto ocorre no quadrante inferior esquerdo, quando os dois amantes estão se odiando: quanto mais Romeu odeia Julieta, ou seja, quanto mais negativos são os valores no eixo R, mais Julieta o ama, ou seja, maiores são os valores no eixo J. Até que mudamos de quadrante (superior esquerdo) e passamos a ter valores positivos no eixo J, o que significa que Julieta passa a amar Romeu, mas ele continua a odiando. O fato é que, como ela passou a amá-lo, ele logo reage aos sentimentos dela, como um espelho. Mas quando ele começa a amá-la (veja novamente o quadrante superior direito), ela passa a odiá-lo.

Jackson encerrou a palestra adicionando diversas interferências ao modelo linear apresentado e mostrando como essas perturbações alteram um sistema dinâmico e o tornam instável, tal como a vida e o amor.

Uma das atrações foi o lançamento do livro
A educação matemática no contexto da economia solidária

Cinco dias para amar – Um das novidades do SiM este ano foi que, pela primeira vez, o evento se estendeu por cinco dias. “Também oferecemos sete minicursos, três deles aconteceram durante o dia e quatro à noite, e contamos com uma maior participação dos estatísticos, o que tornou nossa programação mais abrangente”, revela a professora Thaís Jordão, coordenadora do evento, que já está em sua 19ª edição e contabilizou um recorde de inscritos este ano: 200 no total.

O uso do celular inteligente nas aulas de matemática foi um dos minicursos oferecido. “Queremos mostrar que é possível explorar uma tecnologia que vem ganhando cada vez mais espaço no cotidiano das pessoas e utilizá-la na educação”, conta o professor Marcus Maltempi, da UNESP, campus de Rio Claro. Ele ministrou o minicurso juntamente com sua orientanda, Laís Romanello, que faz mestrado na UNESP. “Em minha pesquisa, abordei o conceito de função com estudantes do nono ano do ensino fundamental por meio de um aplicativo e de atividades investigativas”, explicou Laís. “No início, imaginei que a atenção deles iria ficar dispersa por causa do uso do celular em sala de aula. Mas conseguimos trabalhar bem os conceitos, eles exploraram as atividades propostas e as discussões no final do projeto foram muito ricas. Eles foram além do que estava proposto”, completa a pesquisadora. Durante o minicurso, os participantes tiveram a oportunidade de criar propostas para o uso do celular nas aulas de matemática.

Mostrar os encantos da área de ciências exatas para estudantes do ensino básico também foi o objetivo de outra atividade realizada durante o SiM: duas escolas estaduais de São Carlos conheceram o ICMC por dentro durante a Casa Aberta. Uma turma de 40 estudantes entre 14 e 18 anos, da escola estadual Sebastião de Oliveira Rocha, vislumbrou quanta matemática, computação e estatística há no jogo Pokémon GO. Já os 33 estudantes da escola estadual Jesuíno Arruda conheceram o Museu de Computação Odelar Leite Linhares e o Laboratório de Ensino de Matemática. Eles ainda participaram de um bingo em que, para ganhar, era preciso resolver diversos desafios matemáticos. “Minha vontade é ser uma pesquisadora em matemática”, disse Lauder dos Santos, 16 anos, após a visita. Ela já ganhou quatro medalhas de ouro e uma menção honrosa na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas.

Duas escolas estaduais conheceram o ICMC durante o evento

Brilho no olhar – O mercado de trabalho e a vida profissional na academia e nas empresas também foram tema de várias palestras e de duas mesas redondas. Ao falar sobre a vida profissional de um estatístico, Ângela Achcar destacou: “Eu preciso ter brilho no meu olhar”. Ela apresentou sua trajetória profissional e explicou os motivos que a levaram a decidir mudar algumas vezes de emprego e de área. Para ela, essa é a grande vantagem da estatística: a diversidade de campos em que o profissional pode atuar. Graduada em estatística na Universidade Federal de São Carlos e com mestrado em Saúde na Comunidade pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, Ângela trabalhou sete anos na Serasa Experian e cinco anos no banco Itaú Unibanco.

Na mesa redonda sobre mercado de trabalho, três ex-alunos do ICMC e um mestrando do Instituto falaram sobre sua trajetória na graduação, as experiências em estágios e as oportunidades que surgiram durante esse período. Eles contaram, ainda, como é a rotina de trabalho de cada um, reforçando que um dos principais desafios, quando contratados, foi se adequar à cultura das empresas. Participaram do bate-papo: Thais Romero, formada em estatística pelo ICMC, ela trabalha atualmente na área de qualidade de dados da Serasa; Camila Antunes, formada em Matemática Aplicada e Computação Científica pelo ICMC, hoje atua na área de planejamento e estratégia comercial de microempresas do Banco Itaú Unibanco; Danilo Oliveira, formado em Engenharia da Computação pela UFSCar, agora é mestrando no ICMC e trabalha na empresa Openlex; e Flavio Batista, formado em Ciências de Computação pelo ICMC, hoje diretor técnico da empresa Veridu.


Mesas redondas abordaram o mercado de trabalho e a
vida profissional na academias e nas empresas

Eles amam a Garfields – O encerramento do SiM foi marcado pela presença do gato Garfield. Em 2014, os organizadores do Simpósio se inspiraram no prêmio mais cobiçado e adorado por matemáticos em todo o mundo, a Medalha Fields, e criaram a medalha Garfields. O objetivo da Garfields é reconhecer os alunos que se destacam nas apresentações de seus projetos de iniciação científica na modalidade oral. Aqueles que optam pelo formato de pôster concorrem a uma menção honrosa.

No encerramento do Simpósio também foram reconhecidos os alunos do ICMC que conquistaram as maiores médias nos cursos da área de matemática e estatística. Confira a lista com o nome de todos os estudantes premiados neste link: icmc.usp.br/e/7b378.

Os que amam a Fields tiveram a chance de fazer uma apresentação oral e concorrer à Garfileds

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Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC
Com a colaboração de Henrique Fontes

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