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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A matemática está em tudo: mergulhe no especial do Jornal da USP


Despertar um novo olhar para a matemática é o principal objetivo do Especial A matemática está em tudo. Lançado nesta segunda-feira, 23 de outubro, o Especial é uma plataforma multimídia fruto de um projeto que nasceu na área de comunicação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, em parceira com o Jornal da USP, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI).

Aliás, A matemática está em tudo é o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017. Nesta semana, uma maratona de atividades acontecerá no ICMC, veja a programação completa: www.icmc.usp.br/e/91111

Além disso, este e o próximo ano foram instituídos como o Biênio da Matemática no Brasil. Nesses dois anos, diversos eventos tomarão conta do território nacional, incluindo o Congresso Internacional de Matemáticos, que ocorrerá pela primeira vez no país de 1 a 9 de agosto de 2018. 

A equipe que elaborou o Especial espera que, com esse material, a sociedade brasileira possa enxergar a matemática e as demais ciências com mais afeto.

Acesse e compartilhe o Especial:

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Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

De aluno a diretor: na engenharia ele descobriu que amava a matemática

Como um menino do interior do Espírito Santo chegou às salas aulas de aula da USP, em São Carlos, e se tornou diretor de um dos 42 institutos de ensino e pesquisa da Universidade

Nolasco durante a cerimônia de posse como diretor do ICMC, no dia 19 de novembro de 2014

O jeito manso de falar e a maneira calma como vai contando os rumos que a vida tomou para trazê-lo ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, evidenciam a origem desse homem que só se descobriu matemático depois de ingressar no curso de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). Ele é o terceiro na sequência dos oito filhos que seus pais trouxeram ao mundo lá no antigo distrito de Imbuí, hoje município de Divino São Lourenço, no Espírito Santo. A família do fazendeiro morava a cerca de 23 quilômetros do Pico da Bandeira, junto com apenas mais três mil habitantes.

Mas a crise atingiu a família no final dos anos 1960, o pai vendeu a fazenda e eles se mudaram para a cidade de Guaçuí. Lá, o adolescente Alexandre Nolasco de Carvalho conciliava a escola com seu primeiro emprego: vendedor em uma loja de autopeças. Depois, os donos do comércio transferiram o garoto para trabalhar em outra loja, agora de tintas. Ele controlava o estoque, emitia notas fiscais e até fez um curso de datilografia para melhor exercer suas atividades no trabalho. “Mas minha mãe queria uma vida melhor para os filhos”, conta Nolasco.

Então, quando ele estava terminando o ensino fundamental, em 1976, ela articulou, secretamente, junto com o filho mais velho, a inscrição de Nolasco no processo seletivo para o curso de Eletrotécnica na Escola Técnica Federal do Espírito Santo, em Vitória, onde o mais velho já morava.

“Meu pai ficou muito bravo. Porque ele era muito tradicionalista e achava que filho tinha que ficar em casa. Por outro lado, gostava muito de ler e herdei a paixão dele por colecionar sonetos. Sempre nos incentivava a gostar de aprender, tínhamos até uma boa enciclopédia em casa”. Vitória ficava a 240 quilômetros de Guaçuí. Diante do impasse, Nolasco foi ter uma conversa reservada com o pai:

– O que eu faço pai? É para passar na prova da escola ou não?

– Já que é para fazer, é para passar – respondeu o pai resignado.

Em Vitória, a escola técnica era em tempo integral e, no primeiro ano, os jovens não podiam ser reprovados em nenhuma disciplina, do contrário, perderiam a vaga. Quando estava no último ano do curso, Nolasco descobriu que o colégio Salesianos oferecia um cursinho com bolsas para alunos que ficassem bem classificados no exame de seleção. Ele foi fazer a prova com mais 3,6 mil candidatos e conseguiu uma das 29 bolsas que ofereciam desconto de 100% na mensalidade. Nesse tempo, aprendeu que era possível estudar em três períodos. Enquanto ele seguia o rumo natural da vida, tal como os demais estudantes, e procurava estágios, sua mãe lhe dizia: você tem que fazer um curso superior! De novo, ela tirou Nolasco do eixo: dessa vez, articulou tudo com a irmã mais velha, que morava em São Paulo e enviaram a ele o manual de inscrições para a Fuvest.

Receptivo às novas ideias, Nolasco viu no manual que o curso de Engenharia Elétrica na EESC oferecia menos vagas do que o da Escola Politécnica (Poli). Logo, deduziu: “Se tem menos vagas, é mais seletivo, deve ser melhor”. Assinalou essa como sua primeira opção. Foi fazer o vestibular em São Paulo, onde ficou hospedado na casa da irmã, crente de que, se fosse aprovado, poderia morar com ela. Somente no momento da matrícula, ele se deu conta de que a EESC ficava em São Carlos e não em São Paulo. Então, viajou os 240 quilômetros que separam a capital do Estado e o município do interior decidido a remanejar o curso para o campus da USP em São Paulo. No entanto, no interior, informaram que isso não era possível, já que ele havia assinalado a EESC como sua primeira opção. Virou as costas e retornou os mesmos 240 quilômetros sem fazer a matrícula. De novo, a mãe, a irmã, o irmão e, agora, até o pai, o convenceram a seguir adiante.

No outro dia, o jovem pegou a estrada de novo e quase não chegou a tempo de se matricular. “Foi a melhor coisa que podia acontecer. Eu me adaptei bem à cidade, tinha só 90 mil habitantes na época. Fui bem recebido pelo pessoal do Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (CAASO), fiquei no alojamento e logo consegui bolsa alimentação”.

No dia 7 de maio de 2013, durante cerimônia no Rio de Janeiro,
Nolasco tomou posse como membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

Da engenharia para a matemática - Tempos depois, seu colega de alojamento e companheiro nos jogos de basquete, Paulo Hideshi Ogata, comentou que tinha cursando uma disciplina optativa no ICMC: Elementos de cálculos de variações e complementos de análise. “Ele gostava de matemática tanto quanto eu e me contou um pouco da disciplina, emprestou o caderno dele e me falou sobre um assunto que tinha estudado: o problema da Braquistócrona”, relembra Nolasco. “É um problema simples: você tem um corpo que vai cair do ponto A para o ponto B e ele está só sob o efeito da gravidade. Qual é a trajetória que minimiza o tempo de percurso? Quando ele me contou isso, eu falei: é a reta. Mas é claro que não é a reta, aí ele me explicou que era um arco de ciclóide”, completa.

Intrigado com aquela história, Nolasco fez a disciplina assim que ela foi oferecida novamente no ICMC. O professor era José Gaspar Ruas Filho, seu futuro orientador na iniciação científica e no mestrado. “Foi aí que comecei a ampliar minha formação em matemática. Fiz muitas disciplinas optativas, aprendi mais sobre álgebra, análise e geometria”.

Quando estava terminando a graduação, ele foi procurar estágio, mas todos eram em São Paulo. “Isso me assustou. Sou um matuto mesmo, do interiorzão. Gosto de lugar pequeno, onde conheço as pessoas, onde consigo andar a pé para todo o lado. É isso que define um caboclo do interior: o alcance dele é o alcance das pernas.”

Esse medo da cidade grande e o amor à matemática fizeram Nolasco continuar no ICMC e ingressar no mestrado. “Jovem não faz muito plano de futuro, você vai levando a vida. Em 1986, me falaram que havia uma oportunidade de trabalho no ICMC. Como eu já tinha um filho, decidi me inscrever. Mas para ter alguma chance, tinha que colocar em meu currículo que faria doutorado no exterior.” Foi assim que o mestrando Nolasco se tornou professor no ICMC e as pernas do caboclo precisaram dar passos mais largos, rumo aos Estados Unidos, inicialmente na Brown University e, depois, na School of Mathematics da Georgia Institute of Technology, onde foi orientado por Jack Hale no doutorado.

“A formação que recebi e o acolhimento que tive no ICMC foram fundamentais”, revela Nolasco. “Eu recebi uma formação de altíssimo nível, muito superior à dos meus colegas do exterior, isso me ajudou a me estabelecer como um pesquisador lá.” O acolhimento também fez toda a diferença: “Aqui, tive pessoas que me ajudaram a fazer todo o caminho: fui aceito como docente, incentivado a ir para o exterior, me apresentaram as pessoas importantes para poder ir para lá e até me emprestaram dinheiro”.

Em 2001, na cerimônia de premiação dos melhores alunos de graduação,
quando Nolasco era chefe do Departamento de Matemática do ICMC

Visão arrojada - Desde 1986 até hoje, Nolasco viu o ICMC crescer muito. O Instituto mais do que duplicou de tamanho, considerando o número de alunos, professores, infraestrutura e reconhecimento internacional. “Mas tudo isso já estava plantado lá atrás. Porque essa ação de que, para ser contratado como docente, você precisava ter o compromisso de fazer doutorado no exterior foi a primeira iniciativa de internacionalização da qual tomei conhecimento. Essa visão arrojada, de que precisávamos nos inserir no mundo, transformou o ICMC no que ele é hoje.”

Como diretor do Instituto, Nolasco acredita que seu papel é entender o projeto da unidade e tentar aprimorá-lo. “O ICMC cresceu e evoluiu porque procurou planejar e construir sempre. Nunca trabalhamos com a desmontagem do que os outros fizeram, sempre trabalhamos com um processo de construção a partir do que os outros fizeram”. Ele cita uma frase de Isaac Newton para dizer como enxerga sua função na direção do Instituto: If I have seen further it is by standing on the shoulders of Giants (Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes). E explica: “Você deve se apoiar no trabalho que todos fizeram até aqui e dar um passo um pouco adiante”.

Para Nolasco, a tarefa de formar é prevalente em relação à produção de conhecimento novo, embora essas duas atividades andem juntas. “Eu sinto que preciso estar em sintonia com o que há de mais avançado na minha área de pesquisa para poder continuar ajudando meus alunos a se formarem da maneira adequada”, diz. Pois foi na arte de ensinar que esse professor descobriu uma forma de lidar com a efemeridade da vida: “O que você faz como indivíduo, sozinho, é muito pouco. Sua contribuição só será realmente relevante se você deixar um rastro e o rastro são as pessoas que você ajudou a formar. Essas pessoas farão seu rastro aparecer porque elas continuarão realizando algo, que pode ser diferente do que você ajudou a construir. Mas isso é o que nos perpetua.”

Denise Casatti / Assessoria de Comunicação do ICMC
Fotos: Divulgação ICMC


Leia mais no especial "Um instituto e suas infinitas histórias"

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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Um Instituto de portas abertas para a comunidade

Em seus 45 anos, o ICMC vem proporcionando mudanças na vida de milhares de pessoas com cursos, eventos e diversas oportunidades

Iniciativa que ensina idosos a utilizar smartphones e tablets é um sucesso

Transformação. Objetivo que muitos almejam um dia, mas não sabem exatamente como alcançar. Transformação na rotina, na forma de pensar, na maneira de ser. Pode ser conquistada de formas diferentes e em infinitos lugares, porém, para cerca de 8 mil pessoas, ao longo dos últimos 10 anos, um local em específico foi o responsável por lhes proporcionar mudanças: o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

Aprender robótica na pré-escola, a programar um computador na adolescência, a cantar em um coral ou, então, a mexer em tablets e smartphones na terceira idade. Essas são algumas experiências que o ICMC vem proporcionando para a comunidade ao longo dos últimos anos. “Ao oferecer atividades como essas, nós atuamos na educação, que pode ser medida pelas transformações que ela proporciona. Isso vai fazer a diferença, pois aqueles que recebem esse conhecimento estão num processo de evolução e também irão transformá-lo”, explica Solange Rezende, professora do ICMC.

Uma das primeiras atividades de extensão realizadas pelo ICMC foi o Programa de Verão em Matemática em 1982. O evento reuniu alunos em fase final de graduação, pós-graduandos e pesquisadores de matemática que participaram de workshops, palestras e cursos. A iniciativa existe até hoje.

Os anos se passaram e as ações de cultura e extensão foram sendo ampliadas. Só nos últimos 10 anos, contabilizam-se 307 cursos ou atividades oferecidas para a população e, em 2016, houve 1,4 mil participantes nessas atividades, um aumento de mais de 300% em relação a 2007. Um dos cursos de extensão mais recentes criados pelo ICMC foi o de Práticas com Tablets e Celulares, que ensina os idosos a lidar com essas tecnologias não tão comuns em seu dia a dia.

“A vida não se acaba com muita idade, eu quero me atualizar e aprender sempre”, conta Antonio Zanette, de 76 anos, que participa do curso. Quem também está gostando das aulas é Maria Inês Sega, 70 anos. Antes de participar da iniciativa, ela sabia apenas ligar e desligar o celular, hoje já consegue se comunicar com a família por meio das redes sociais e faz um elogio aos monitores do curso: “Fico admirada em ver a paciência com que eles nos tratam. Eles sabem tudo sobre tecnologia e conseguem descer no nosso patamar, passando uma energia muito boa”.

Para Antonio, o importante é aprender sempre

Coordenado pelas professoras Maria da Graça Pimentel e Renata Pontin, a primeira edição do curso ocorreu no primeiro semestre de 2015. Durante as aulas, alunos de mestrado e doutorado do Instituto auxiliam os idosos com as atividades propostas e analisam o desempenho obtido por eles para aplicar os resultados em suas pesquisas. Sandra Rodrigues foi monitora do curso e concluiu recentemente seu mestrado pelo ICMC, no qual estudou acessibilidade e usabilidade na web com foco em idosos. “Poder constatar a evolução dos nossos alunos e perceber que conseguimos inseri-los no mundo digital é muito gratificante”, relata.

A professora Solange destaca que muitos alunos, ao realizaram suas pesquisas durante o mestrado, o doutorado ou o pós-doutorado, têm buscado desenvolver projetos relevantes para a sociedade, que possam ter um impacto positivo na vida das pessoas. “Quando uma pesquisa proporciona um benefício para a comunidade, você vai além do artigo publicado e faz muito mais do que lhe é exigido”, conta a docente, que já contribuiu com diversas iniciativas da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.

Maria Inês ficou admirada com a paciência dos monitores do curso

Multiplicando a robótica – As atividades relacionadas à robótica também vêm sendo destaque ao longo da década. Para alunos da creche da USP, em São Carlos, e do Projeto Pequeno Cidadão, o primeiro contato com essa área de pesquisa começa cedo, por meio do curso Introdução à Robótica. Crianças de 4 a 6 anos e adolescentes de 14 a 16 aprendem, com o uso de kits robóticos, conceitos de matemática, como operações aritméticas, sequências numéricas, conceitos de distância, além de seguimentos de retas e curvas.

“Levar esse tipo de conhecimento pode despertar nas crianças e jovens o interesse por ciências exatas e engenharias, além de desenvolver nelas um espírito inovador”, explica a professora Roseli Romero do ICMC. Além dessa iniciativa, outros cursos também são oferecidos, como o preparatório para a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), evento que tem sua etapa regional realizada anualmente no ICMC.

“O público em geral se sente atraído por tecnologias e a robótica tem um atrativo a mais que é o de possibilitar a integração de conhecimento de hardware e software. As pessoas se sentem motivadas a tentar entender como a máquina funciona e desvendar isso é algo desafiador”, conta a professora.

Ação, diversão e aprendizado andam juntos nas aulas de robótica

Descobrindo vocações – “Um dos nossos objetivos é ensinar alunos do ensino médio ou cursinho a como programar um computador. Assim, eles podem decidir se é a carreira de computação que desejam seguir em suas vidas”, diz Raul Rosa, um dos 10 monitores do Projeto Codifique, promovido pelo Programa de Educação Tutorial (PET-Computação) do ICMC.

Os jovens que cursam o Codifique não são os únicos beneficiados pelo projeto. As aulas são ministradas por estudantes de graduação do ICMC, fato de grande relevância para eles: “É muito bom levar um pouco do que a gente aprende aqui para pessoas de fora da USP e serve como oportunidade para falarmos em público e organizar uma aula. Foi um crescimento pessoal”, conta Raul que está há um ano e meio no projeto.

O estudante afirma que as aulas são bem descontraídas e não existe uma separação entre professor e aluno. “Os próprios participantes dizem que não esperavam que a relação seria tão próxima”. O coordenador do Projeto, Luan Orlandi, ressalta a importância de proporcionar uma atividade como essa para os jovens: “Com o Codifique, você pode despertar o interesse da sociedade pela computação”.

Luan (à esquerda) e Raul (à direita) tentam despertar o amor pela computação em estudantes do ensino médio

Soltando a voz – “Quando soltam suas vozes sensibilizam a platéia e podem fazer a diferença na vida de muitos”. O autor dessa frase é Anderson Alexandre, presidente da Comissão de Ação e Integração Social (CAIS) do ICMC e um dos responsáveis pela criação do Coral da USP São Carlos.

Anderson conta que a idéia de criar um coral era um sonho antigo: “Eu pensava em algo que agregasse à comunidade e o Coral é uma atividade que, além de integrar, melhora a qualidade de vida e traz benefícios para a saúde física e mental”. Depois de muitos anos lutando para que o sonho se tornasse realidade, eis que chega o segundo semestre de 2015 com a abertura das primeiras inscrições. A iniciativa conta hoje com a participação de alunos, funcionários, docentes e membros da comunidade são-carlense.

“É muito importante oferecer oportunidades como essas para todos, pois abrimos a porta da Universidade, além de proporcionar um ambiente agradável e descontraído”, conta Anderson. O escolhido para reger o Coral foi o maestro Sergio de Oliveira, fundador do Coral da USP Ribeirão Preto.

Após um ano de sua criação, o sucesso da iniciativa se comprova a cada ensaio. Segundo Anderson, o grupo está mais fortalecido e conta hoje com um repertório bem eclético: “A lágrima no rosto de quem está assistindo a uma apresentação é um grande retorno e mostra que estamos no caminho certo. Para nós, concluir cada ação que desenvolvemos é a maior recompensa, pois assim deixamos uma semente para que as pessoas possam cultivar”.

O Coral aproxima a comunidade interna e externa, favorecendo a integração e o contato social
Texto: Henrique Fontes - Assessoria de Comunicação do ICMC

Crédito das imagens - três primeiras fotos (idosos): Henrique Fontes; foto da criança com o robô e do Coral da USP São Carlos: Denise Casatti; foto dos alunos que participam do Codifique: Reinaldo Mizutani.



Leia mais no especial "Um instituto e suas infinitas histórias": jornal.usp.br/especial/icmc


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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Ele lançou novas bases para as ciências de computação no Peru

Na busca pelo sonho de fazer mestrado, um peruano encontrou uma segunda casa no Brasil e hoje ajuda a construir um plano nacional de infraestrutura de hardware e software para o governo do Peru


Para Ernesto, o ICMC é o ponto inicial de toda a mudança
que aconteceu na área de computação no Peru 

É dia 31 de dezembro, 21h30. A expectativa para a chegada do Ano Novo toma conta da cidade de São Carlos. Nos corredores vazios do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, um peruano chega com um sonho: fazer mestrado em computação. Depois de quatro dias viajando de ônibus e no trem da morte na Bolívia, ele está exausto e feliz a um só tempo. Concluiu a jornada, apesar de todas as dificuldades que encontrou pelo caminho, mesmo não compreendendo em que poltrona devia se sentar ao olhar para o primeiro bilhete de ônibus que comprou quando cruzou a fronteira com o Brasil, escrito em português, língua que não dominava.

O curso de verão no qual estava matriculado começava dia 2 de janeiro e Ernesto Cuadros-Vargas não fazia ideia do tempo que levaria para chegar à USP em São Carlos saindo de Arequipa, no Peru. Aliás, ele acreditava que o campus ficava em São Paulo e não no interior, a cerca de 230 quilômetros da capital do Estado. Por isso, passou o Natal com a família e embarcou em sua primeira ida ao Brasil no dia 27 de dezembro de 1995.

Naquela noite de Réveillon, quando saiu da rodoviária e pegou o táxi para o levar até a portaria principal da Universidade, não imaginava que começaria a ser desenhada ali uma história que iria impactar a vida de centenas de outros garotos peruanos. Um segurança do bloco E1 da USP lhe deu boas vindas e explicou como chegava ao ICMC, onde também só havia outro segurança. Com o carro que faz rondas na Universidade, ele deu uma carona para Ernesto e percorreram juntos os alojamentos do campus atrás de um colchão para acomodar o corpo cansado do jovem, que trazia consigo apenas US$ 400 e não queria ir para um hotel, pois sairia muito caro. Depois de encontrar o tal colchão, foi improvisado um quarto para o futuro estudante na sala de estudos da Biblioteca Achille Bassi. “Quando você está viajando quatro dias sem hotel e sem parar, aquilo é uma maravilha de colchão”, lembra Ernesto, que já percorreu o caminho entre Arequipa e São Carlos, por terra, 36 vezes.

O peruano na época em que estudava no ICMC

No dia seguinte, ao acordar, havia um sol maravilhoso e tudo brilhava. No dia 2 de janeiro, mais estudantes começaram a chegar ao Instituto e o curso teve início. Na primeira aula – Estrutura de Dados, com a professora Sandra Aluísio – ele já sentiu que havia tomado a decisão certa, embora ainda não conseguisse avaliar o impacto que isso teria em sua vida. “Nessa primeira aula do curso, eu aprendi mais do que tudo que haviam me ensinado sobre estrutura de dados na minha graduação no Peru”, revela.

A notícia de que tinha a oportunidade de fazer um curso de verão no ICMC e, depois, ingressar no mestrado, chegou a Ernesto por intermédio de um colega que trabalhava junto com ele em um instituto de informática, onde estavam desenvolvendo o projeto de um buscador de textos similar ao Google. O colega recebeu um e-mail de um rapaz peruano que estudava Ciências de Computação no Brasil. Como o amigo sabia que Ernesto tinha planos de estudar fora, encaminhou o e-mail a ele. Ao mesmo tempo, Ernesto sempre se lembrava de seu professor Wilber Ramos, que encoraja os estudantes a estudarem no exterior e a voltarem ao Peru. O professor também tinha um irmão que estudava na USP e recomendava a instituição.

Depois de tirar boas notas no curso de verão, Ernesto conseguiu um orientador, o professor André de Carvalho, mas teve problemas com o visto (que não tinha) e precisou voltar ao Peru para acertar a documentação antes de começar o mestrado. “Cheguei super feliz em Arequipa e voltei ao Brasil em agosto de 1996. Sentia que era algo fantástico que estava acontecendo comigo, eu nunca havia tido uma oportunidade como aquela”, destaca o pesquisador.

Para ele, estudar no ICMC foi uma das coisas mais importantes que aconteceu em sua vida: “É o lugar onde eu aprendi computação, é minha referência. Eu viajo muito, vou para muitos países, mas no Brasil eu sinto que continuo em casa”. Ernesto concluiu o mestrado em 1998 e já ingressou no doutorado, também no ICMC, que concluiu em 2004. No doutorado, foi orientado pela professora Roseli Romero, que também o apoiou muito. A experiência foi tão positiva que, logo depois, o irmão de Ernesto, Alex Cuardos-Vargas, veio ao Brasil e também fez mestrado, doutorado e pós-doutorado no Programa de Ciências de Computação e Matemática Computacional do ICMC.

Ao retornar ao Peru, em 2004, Ernesto tornou-se professor na Universidade Católica San Pablo (UCSP), onde criou e coordenou o curso de Ciências de Computação até este ano: “A UCSP é hoje reconhecida como a melhor universidade de computação do Peru. A maioria dos professores tem mestrado ou doutorado fora do país. Nada disso poderia ter sido feito sem aquela experiência no ICMC, o ponto inicial de toda a mudança na área de computação que aconteceu no Peru." E completa: "Agora posso dizer que mudamos a vida de muitas centenas de garotos e que estamos caminhando para sermos um país mais desenvolvido em termos de computação".

Nesse momento, Ernesto está embarcando em uma nova jornada. Ele está trabalhando na Universidade de Engenharia e Tecnologia (UTEC), em Lima, e também junto com o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski Godard, na construção de um plano nacional de infraestrutura de hardware e software para o governo do país. O objetivo é propiciar que todos os dados referentes aos serviços públicos oferecidos à população estejam disponíveis eletronicamente em tempo real e estejam conectados.

Os desafios que Ernesto tem pela frente não são poucos, será preciso criar centros de dados gigantes para armazenar todas as informações captadas bem como desenvolver novos sistemas. Mas ninguém duvida de que ele conseguirá. “Todos os problemas que tive e as dificuldades que enfrentei me fizeram ficar mais forte. A experiência de vida que tudo isso trouxe é o mais importante, não é só a conquista do diploma de mestrado e doutorado, mas o contato com as pessoas”, finaliza.

Ernesto já percorreu o caminho entre Arequipa e São Carlos, por terra, 36 vezes

Leia mais no especial "Um instituto e suas infinitas histórias": jornal.usp.br/especial/icmc

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação ICMC
Fotos: Arquivo pessoal


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