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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Elas estão rompendo as barreiras das Exatas

Projeto da USP, em São Carlos, é um exemplo de como a união de forças entre universidades e escolas públicas pode gerar impactos relevantes e nortear futuras políticas públicas em prol da igualdade de gênero.

A professora Kalinka Castelo Branco durante a escola de verão que ensinou 162 garotas a desenvolverem aplicativos, a iniciativa faz parte de um amplo projeto chamada Ações no ensino fundamental e médio: inclusão feminina no ensino superior de ciências exatas, aprovado em chamado do CNPq

É sábado, hora do almoço e uma fila gigante se forma em frente à entrada do restaurante universitário da USP, em São Carlos: as camisetas brancas com mangas cor-de-rosa distinguem as meninas e mulheres que ali estão dos frequentadores rotineiros do local. Olhares curiosos perguntam: quem são elas? 162 garotas de 10 a 18 anos, 80% estudantes de escolas públicas da região. 

A maioria vive a experiência de entrar pela primeira vez em uma universidade pública e, tímidas, esforçam-se para repetir os movimentos que os mais experientes fazem: pegam suas bandejas, percorrem a bancada preenchendo os espaços com a comida, retiram os talheres e, antes de se sentarem, colocam as canecas plásticas debaixo das máquinas de suco. 

A balbúrdia se repete por mais quatro sábados, quando elas se perfilam novamente em frente ao restaurante. Mas, na quinta vez, as cenas já são visivelmente diferentes: há poucos olhares curiosos e elas sorriem, conversam ruidosamente e correm sem timidez pelo bandejão. A professora Kalinka Castelo Branco não esconde a satisfação que sente por ter acompanhado essa aventura: “Agora, elas sentem que esse espaço também é delas”. 

Kalinka sabe que as cenas no restaurante da USP revelam muito mais sobre o que aconteceu nesses cinco sábados em que as garotas participaram das atividades de uma escola de verão que ensinou a desenvolver aplicativos, a Technovation Summer School for Girls, realizada pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP. Kalinka sabe que essas 162 meninas romperam importantes barreiras e ampliaram os campos em que podem atuar. 

O próximo capítulo da balbúrdia já tem data marcada: acontece sábado, dia 24 de agosto, das 14 às 17 horas. É quando acontecerá o evento Mude o Jogo no ICMC, em que a meta é levar as garotas a compreenderem que o mundo dos jogos eletrônicos é outro espaço que elas podem e devem ocupar. Voltado a participantes do gênero feminino, de 15 a 21 anos, o evento vai explicar como desenvolver um jogo para celular e submeter a proposta ao desafio internacional do Google Change the Game.

Evento Mude o Jogo acontece sábado, dia 24, no ICMC e ainda há vagas disponíveis, inscreva-se: icmc.usp.br/e/37802 

Empoderar para mudar – Nos cinco sábados da Technovation Summer School for Girls, as 162 garotas se dividiram em times para criar aplicativos que solucionassem problemas sociais. Formados por até 5 participantes, os grupos se dividiam em duas categorias: Sênior, para meninas de 15 a 18 anos; e Júnior, para meninas de 10 a 14 anos. 

“A ideia não foi apenas trazê-las para conhecerem o mundo da tecnologia, mas empoderá-las. Durante os cinco encontros, elas puderam colocar a mão na massa: trabalharam na ideação do projeto, no desenvolvimento do aplicativo e na apresentação da proposta (pitch). As mais velhas até fizeram um plano de negócios”, explica a professora. Em cada uma dessas fases, receberam treinamentos específicos e puderam desenvolver habilidades sociais adicionais relacionadas ao trabalho em equipe e à arte de falar em público, por exemplo. 

As participantes puderam desenvolver habilidades sociais adicionais durante o evento, tal como as relacionadas ao trabalho em equipe e à arte de falar em público
“Todas as palestras foram ministradas por mulheres que estão nesse meio, que é super restrito, e elas mostram os exemplos delas e dão apoio para a gente seguir e sempre querer aprender mais”, revela uma das participantes, Sarah Piedade de Oliveira, 16 anos. “O que tive a oportunidade de ver foi realmente um cenário de inclusão. Muitas ideias legais e funcionais criadas no evento têm grandes chances de virar realidade e, daqui a pouco, quem sabe, poderemos fazer download dos aplicativos dessas garotas”, diz Larisse Gois, gerente de tecnologia da Logicalis. Formada em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia de São Carlos, ela foi uma das palestrantes do evento. 



Quando a Technovation Summer School for Girls terminou, no dia 13 de abril, além da premiação aos melhores projetos, os grupos foram estimulados a inscreverem seus aplicativos no desafio global Technovation Challenge. No total, a plataforma do desafio contabilizou inscrições de 7,2 mil meninas de 57 países. Desse total, 1.226 eram brasileiras, reunidas em 216 diferentes grupos. Entre as semifinalistas do desafio, 150 equipes no total, estavam 15 times brasileiros: 9 na categoria Sênior e 6 na Júnior. As garotas que participaram do evento do ICMC conseguiram emplacar três projetos entre os semifinalistas: o aplicativo for-all-of-us (Sênior) e os aplicativos Pet Hero e SafU (ambos na categoria Júnior). Vale a pena assistir aos vídeos em que elas explicam como esses aplicativos funcionam: icmc.usp.br/e/dcfea

“Provavelmente, se não houvesse a escola de verão, essas três equipes de São Carlos não conseguiriam chegar à semifinal da competição global”, conta Kalinka. Muito além dessa conquista, estão os aprendizados que as 162 participantes da escola puderam obter. Com certeza, a experiência de criar o primeiro aplicativo a gente nunca esquece. 





Desigualdade explícita – A Technovation Summer School for Girls está sob o guarda-chuva de um grande projeto chamado Ações no ensino fundamental e médio: inclusão feminina no ensino superior de ciências exatas, aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no final de 2018. Ao todo, a iniciativa tem à disposição, ao longo deste ano, R$ 95 mil para desenvolver diversas atividades. O Mude o Jogo será a próxima e haverá, ainda, no dia 19 de outubro, o Ada Lovelace Day

“Analisando o número de ingressantes do sexo feminino nos cursos de ciências exatas e da terra nas três maiores universidades públicas paulistas (USP, Unesp e Unicamp), observamos uma grande disparidade entre o número de homens e mulheres, reforçando o estigma de ser uma área majoritariamente masculina, o que vai ao encontro de diversos resultados de pesquisas publicados recentemente”, escreve a professora Kalinka no projeto. 

É fato que não faltam dados para mostrar o tamanho da desigualdade na área. Enquanto o número de cursos de computação cresceu 586% nos últimos 24 anos no Brasil, o percentual de mulheres matriculadas nesses cursos caiu de 34,8% para 15,5%, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). 

Considerando-se os profissionais atuantes na área em 2014, apenas 20% são do gênero feminino segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o CNPq fez um levantamento em 2016 mostrando que mais de 80% dos mestres e doutores em computação no nosso país são do gênero masculino. 

Esses números estão em sintonia com os apresentados no artigo Uma análise de gênero a partir dos dados da Sociedade Brasileira de Computação: 78,13% das pessoas associadas à instituição são do gênero masculino e 21,87% do feminino. O estudo foi publicado nos anais da 13ª edição do workshop Women in Information Technology (WIT), realizado em Belém, dias 15 e 16 de julho, como parte do 39º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação. 

O WIT premiou como melhor artigo o trabalho Gênero e suas nuances no ENEM, de autoria da doutoranda Viviana Noguera e das professoras Cristina Ciferri e Kalinka, todas do ICMC. Em busca por explicar as múltiplas causas do decréscimo da participação das mulheres nas ciências exatas, as três decidiram analisar o desempenho dos participantes no Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) ao longo de cinco anos (de 2013 a 2017). “De forma geral, os resultados das análises mostraram que o desempenho dos participantes masculinos foi discretamente superior ao das participantes femininas em matemática e ciências da natureza”, escrevem as pesquisadoras no artigo. 

O que mais surpreende no estudo é que o levantamento considerou também fatores como cor/raça, renda mensal, tipo de escola no ensino médio e região de residência dos participantes. Os gráficos que mostram o desempenho ano a ano, de acordo com a cor/raça dos estudantes, evidenciam um mesmo padrão: quem se autodeclara de cor/raça branca obtém as melhores notas seguido sempre pelos que se autodeclaram amarelos, pardos, pretos e indígenas. A exclusão racial fica explícita nos dados do ENEM. 

Os gráficos mostram o desempenho por raça/cor para as categorias identificadas como: (0) não declarado; (1) branca: (2) preta; (3) parda; (4) amarela: (5) indígena
(Fonte: artigo "Gênero e suas nuances no ENEM")

Outro tipo de exclusão é visível nos gráficos que mostram o desempenho dos participantes de acordo com a renda. Como era de se imaginar, conforme a renda mensal aumenta, melhoram também os resultados obtidos nas notas do ENEM. O padrão é o mesmo ano a ano: uma reta desenha um caminho ascendente, mostrando a evolução progressiva do desempenho seguindo linearmente a evolução da renda. 

Na conclusão do artigo, as pesquisadoras ressaltam que são necessários estudos mais aprofundados a fim de identificar como as instituições educacionais devem atuar para minimizar as discrepâncias entre gêneros. O que o estudo deixa evidente é que as disparidades no desempenho dos estudantes vão se perpetuando ao longo de todo processo educacional e que o combate à desigualdade de gênero no ensino superior, especialmente na área de ciências exatas, requer um esforço para alcançar quem ainda não está nas universidades. 

Os gráficos mostram o desempenho por renda salarial mensal para diversas categorias desde para aqueles participantes que declaram nenhuma renda (A) até quem informou ter renda maior que R$ 18.740,00 (Q)
(Fonte: artigo "Gênero e suas nuances no ENEM")

Desconstruindo muros – Não é à toa que parte dos R$ 95 mil fornecidos pelo CNPq para o projeto Ações no ensino fundamental e médio: inclusão feminina no ensino superior de ciências exatas está sendo investido em bolsas para estudantes e também professoras de cinco escolas estaduais de São Carlos: Aduar Kemell Dibo; Álvaro Guião; Bento da Silva Cesar; Orlando Perez; e Sebastião de Oliveira Rocha. “São escolas públicas de diferentes regiões da cidade, tanto de áreas centrais quanto periféricas, com diferentes realidades tanto em relação à infraestrutura quanto ao perfil do público atendido”, ressalta Kalinka. 

Três estudantes de cada escola recebem uma bolsa de pré-iniciação científica no valor mensal de R$ 100 e as escolas têm um professor tutor, que é o responsável por coordenar as atividades do projeto e recebe uma bolsa de R$ 400. Esse grupo, composto por 15 estudantes e 5 professoras, está participando, desde março, de um curso sobre programação usando a linguagem Python e o objetivo é que se tornem replicadoras desse conteúdo em suas respectivas escolas para ampliar o impacto da iniciativa. 

No sábado, 10 de agosto, essa turma se uniu a 12 garotas e quatro professoras de mais quatro escolas públicas da cidade – Cidade Aracy IV, Fúlvio Morganti, João Batista Gasparin e Maria Ramos – para iniciarem outro curso: dessa vez, o tema é robótica. É o início de um novo capítulo do projeto criado pela professora Kalinka que se tornou possível por meio de uma parceria estabelecida com o professor José Marcos Alves, da Escola de Engenharia de São Carlos. Coordenador do Centro de Inclusão Social USP São Carlos (CIS), o professor contou com o apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Sistemas Autônomos Cooperativos (InSAC) para estender a iniciativa às quatro escolas e fornecer bolsas a mais garotas. 

A jornada em prol da inclusão demanda remover os muros que separam as universidades das escolas públicas e também questionar os estereótipos de gênero que categorizam o que são as habilidades tipicamente femininas das que são tipicamente masculinas. Se os estudantes, independentemente do gênero, se unirem em prol desse processo de desconstrução, os resultados poderão ser alcançados mais rapidamente. 

Por isso, uma das iniciativas do projeto é promover atividades esportivas como campeonatos de futebol de botão e de Futebol Callejero (de rua, em português) nas escolas. Entre as características que diferenciam o Futebol Callejero da modalidade tradicional está a entrada em campo de homens e mulheres juntos e a inexistência de um juiz, pois os conflitos são resolvidos por meio do diálogo entre os jovens. Para contribuir com essas iniciativas, a professora Kalinka chamou para o jogo o professor Osmar Moreira de Souza Júnior, do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 



Matemática em campo – Outra parceria que ampliou o escopo de atuação do projeto foi estabelecida com a professora Ires Dias, do ICMC. Ela acompanha, há 14 anos, a trajetória de estudantes da região premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e coordena uma das regionais do Estado de São Paulo do programa OBMEP na Escola, que tem como objetivo contribuir para a formação de professores em matemática, estimulando estudos mais aprofundados e a adoção de novas práticas em sala de aula. 

A partir da colaboração com Kalinka, Ires passou a abarcar mais uma escola pública da cidade na iniciativa, a Conde do Pinhal, onde duas professoras trabalham com 52 alunos na resolução de problemas matemáticos. Outros 90 alunos são atendidos por três professoras e um professor nas escolas Esterina Placco e Ary Pinto das Neves. “Nossa preocupação é atrair mais meninas para o programa, sem deixar de fora os meninos que querem aprender mais matemática”, conta Ires. 

A OBMEP fornece uma bolsa de R$ 756 para cada professor e também o material que usarão em sala de aula. Mensalmente, Ires se encontra com o grupo para orientá-los no que for preciso. Ela também coordena o Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC) na região, que oferece bolsas de R$ 100 mensais para os medalhistas da OBMEP se dedicarem aos estudos. Quem mora em São Carlos tem a oportunidade de participar de encontros presenciais, que são realizados aos sábados, no ICMC, já quem mora em outras cidades realiza as atividades por meio de uma plataforma on-line. Não são poucos os jovens medalhistas que têm o primeiro contato com uma universidade pública por meio do PIC: “Acendemos uma luz em toda a escola em que há um medalhista da OBMEP chamado para participar do programa”. 

É essa luz que as universidades públicas estão buscando acender quando lançam projetos para promover a igualdade de gênero. Aliás, enquanto muitos criticam o uso do termo “gênero” pelas ciências humanas, vale notar que “gênero” é também a palavra da vez nas ciências exatas: está mais presente do que nunca em publicações científicas da área, presente em artigos que mostram resultados de estudos rigorosamente científicos e reveladores da realidade da desigualdade na computação, na matemática, na estatística, nas engenharias e em suas ciências irmãs. Diante do déficit de profissionais qualificados nesses campos e do constante aumento da demanda, a equidade de gênero nas exatas não é mais uma insignificante questão ideológica, mas um desafio econômico que precisa ser enfrentado por qualquer país que pretenda se destacar no mundo da tecnologia. 



Texto e fotos: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP 

Mais informações
Inscreva-se no Mude o Jogoicmc.usp.br/e/37802
Site do Grupo de Alunas de Ciências Exatas (GRACE): http://grace.icmc.usp.br/index.html 
Site do Technovation Challenge: https://technovationchallenge.org/
Assista aos vídeos da escola de verão: icmc.usp.br/e/dcfea
Leia o artigo Gênero e suas nuances no ENEMicmc.usp.br/e/9da10

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Elas vão mudar o jogo: iniciativa do ICMC estimula garotas a criar games e enviar ao Google

Evento no dia 24 de agosto, em São Carlos, vai explicar a meninas de 15 a 21 anos como desenvolver um jogo para celular e as incentivará a enviar suas ideias para um desafio internacional do Google, destinado à redução da desigualdade de gênero na indústria de tecnologia

Só para as garotas: desafio internacional do Google está com inscrições abertas até 30 de setembro; evento do ICMC visa estimular participação feminina na iniciativa

Já imaginou criar um jogo para celular e ser premiada por uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, o Google? Se você tem entre 15 e 21 anos, está matriculada no ensino médio e quer saber como participar de um desafio internacional de desenvolvimento de jogos, basta se inscrever em um evento gratuito que acontecerá sábado, 24 de agosto, das 14 às 17 horas, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. 

A iniciativa vai explicar às garotas, passo a passo, como elas podem criar um game para celular. A partir dessa explicação, elas serão incentivadas a enviarem suas ideias para um desafio internacional do Google, destinado à redução da desigualdade de gênero na indústria de tecnologia: o Change the Game

Para participar da iniciativa do ICMC, basta preencher o formulário on-line, disponível neste link: icmc.usp.br/e/37802. Coordenado pela professora Kalinka Castelo Branco, o evento é uma ação conjunta do Grupo de Alunas de Ciências Exatas (GRACE) e do Fellowship of the Game (FoG). A atividade faz parte também de um amplo projeto para ampliar a inclusão feminina na área de ciências exatas em São Carlos e região. Aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – na chamada CNPq/MCTIC nº 31/2018 –, o projeto abarca diversas atividades de capacitação em escolas públicas por meio do ensino lúdico e atraente de conteúdos de programação, robótica e matemática. 

De fevereiro a abril, durante cinco sábados, 162 garotas de 10 a 18 anos participaram da I Technovation Summer School for Girls no ICMC.

Por que mudar o jogo? – “Você sabia que, apesar de 59% dos jogadores de games serem mulheres, elas representam somente 13% dos candidatos para a carreira de desenvolvedor no Brasil?” Essa provocadora questão está no kit que o Google preparou para professores do ensino médio estimularem as alunas a participar do Change the Game. O material explica ainda que não é preciso ter qualquer conhecimento sobre programação para se inscrever no desafio, basta que o professor peça às estudantes para pensarem na ideia de um jogo. “Vamos lembrá-las de que elas têm tudo o que é preciso para criar o próximo jogo da Play Store: coragem, criatividade e talento”, ressalta o material. 

A proposta do kit é apresentar o roteiro de uma atividade que os professores podem realizar para despertar ideias interessantes nas alunas, em sala de aula. Para isso, o material propõe que as estudantes conversem sobre os diversos elementos-chave relacionados à criação de um game, tais como: a mecânica do jogo, os personagens, a narrativa e a motivação. No evento que ocorrerá no ICMC dia 24, as participantes serão estimuladas a pensar sobre todos esses aspectos. 

Mas não é preciso ir ao evento do ICMC para enviar uma ideia de jogo ao Change the Game, basta inscrever a proposta, até 30 de setembro, no site do desafio, onde também está disponível o regulamento da competição. Além de preencher o formulário de inscrição, a garota deve preencher o formulário de design de jogo e uma declaração escrita, com um máximo de 100 palavras, contendo um resumo com a descrição do seu jogo. Todas as ideais do jogo devem refletir a interpretação criativa da participante sobre o tema do desafio, que é: “O que eu quero ver no futuro?” 

As duas garotas que ganharem o desafio do Google vão ver suas ideias se tornarem realidade: elas serão convidadas para trabalhar presencialmente, em São Paulo, junto com um parceiro desenvolvedor do Google, em sessões para aprimorar o game, que será lançado no Google Play. O jogo ficará online na loja por um ano após seu lançamento. Além disso, 500 meninas receberão menção honrosa e terão acesso a aproximadamente 140 horas de aulas on-line sobre programação. 

Na opinião da professora Kalinka Castelo Branco, também é papel das universidades públicas estimular as garotas a mudarem o jogo da desigualdade de gênero, contribuindo com o empoderamento da próxima geração. Inspirar jovens mulheres a seguirem carreira no universo da tecnologia é mais um passo rumo à construção da igualdade nas ciências exatas.



Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP 

Mais informações 
Link para inscrições no evento do ICMC: icmc.usp.br/e/37802
Área de comunicação e eventos do ICMC: (16) 3373.9666 ou grace@icmc.usp.br

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Pesquisadores alemães falam sobre inclusão e exclusão na educação nesta quarta-feira

Programação, gratuita e aberta às pessoas interessadas, acontece na USP e na UFSCar 


Nesta quarta-feira, dia 27 de setembro, São Carlos recebe a visita dos professores alemães David Kollosche, da Universidade de Frankfurt, e Michel Knigge, da Universidade de Potsdam, que farão palestras e participarão de debates sobre inclusão e exclusão na educação como um todo e na educação matemática em particular. 

Às 10 horas, Kollosche falará sobre a autoexclusão na educação matemática a partir de estudos empíricos. A exposição parte da constatação de como as pessoas que têm problemas com a matemática frequentemente a evitam, ou atribuem a si mesmas baixas habilidades matemáticas, em um processo que leva à autoexclusão do discurso matemático e à instalação da matemática como um instrumento incontestável de poder. A apresentação acontece no auditório Luiz Antônio Favaro, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Confira o resumo,

A partir das 14 horas, a programação continua na UFSCar, no auditório do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH). A palestra de Knigge será sobre inclusão educacional em escolas da Alemanha, mas o palestrante também apresentará o Potsdam Center para a pesquisa empírica em educação inclusiva e discutirá o termo "inclusão" e a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiências. Veja aqui o resumo.

A participação é gratuita e aberta a todas as pessoas interessadas, sem necessidade de inscrição prévia e com entrega de certificados. Haverá tradução simultânea.

O evento é organizado pela professora Renata Meneghetti, do Departamento de Matemática do ICMC, e pelo professor João dos Santos Carmo, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com patrocínio da Universidade de Potsdam.


Mais informações
Seção de Eventos do ICMC
Tel. (16) 3373-9622 / eventos@icmc.usp.br

terça-feira, 21 de junho de 2016

Uma oportunidade para quem ensina matemática compartilhar aprendizados e superar desafios

Na busca por estratégias para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem, educadores trocam experiências e conhecem projetos durante encontro realizado no ICMC

Oficinas, palestras, relatos de experiências, mostras de trabalho e sessões de pôsteres:
evento movimentou professores e futuros professores durante três dias

“Quando fui desafiada, descobri que é possível dar aulas de matemática de um jeito diferente. É viável produzir materiais simples em pouco tempo e fazer os alunos participarem do processo de criação da matemática”, revela a estudante Raissa Moda, que está no último ano do curso de Licenciatura em Ciências Exatas na USP, em São Carlos. O desafio a que Raissa se refere surgiu a partir do momento em que ela ingressou no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e, pela primeira vez, precisou participar de todas as etapas do trabalho realizado por um professor em uma escola pública de educação básica: preparou a sequência de aulas que iria ministrar, aplicou aos alunos a proposta e, depois, fez uma reflexão sobre os resultados alcançados. 

Para Raíssa, foi uma experiência única, diferente de todas as atividades de que ela já havia participado na Universidade. Sob a supervisão da professora Esther Prado Rodrigues, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), a estudante teve a oportunidade de preparar, aplicar e avaliar quatro sequências de aulas, já que participa do Pibid desde agosto do ano passado. Durante o 1º Encontro de Educadores que Ensinam Matemática, realizado entre os dias 9 e 11 de junho no ICMC, ela compartilhou alguns aprendizados que obteve. 

Nas mãos da plateia que assistia ao evento, destacavam-se triângulos feitos com canudinhos. Era irresistível não mexer naquele simples objeto, esticando e recuando os lados para ver o triângulo se transformar e seus ângulos expandirem e contraírem, num jogo de vaivém em que os dois canudos, unidos pela linha que passa no meio de cada um, não se desgrudavam. Era assim que a mágica da matemática se construía na sala de aula quando Raíssa e seus dois colegas de projeto e de curso – Luís Salles e Dayana Santos – empregavam esse material manipulativo para explicar alguns conceitos fundamentais sobre triângulos e suas classificações, terminando com as considerações sobre o famoso Teorema de Pitágoras.

Raissa e o triângulo feito com canudinhos: tentativa de fazer estudantes
participarem do processo de construção do conhecimento

“Quando você escreve conceitos na lousa, muitos alunos ficam na dúvida: será que é isso mesmo? Ter um material e mostrar na prática o que você está dizendo faz o aluno conseguir enxergar na hora aquele conceito”, diz Raissa. “A atividade não serve apenas para comprovar uma coisa que já foi dita, mas também para estimular a criatividade do aluno. Sem que o professor precise lhe dizer, ele é capaz de estabelecer diferenças e semelhanças, participando da formulação do próprio conhecimento”, completa a estudante.

Motivar os alunos nessa construção do aprendizado também foi a proposta da oficina Trabalhando com estatística no ensino fundamental, ministrada pelas doutorandas Betina Cambi e Maria Carolina Magnus, do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “A gente parte de um tema de interesse dos alunos, algo que gere curiosidade para eles e aproveitamos isso para criar uma pesquisa”, explica Maria Carolina. “A ideia é que o aluno participe de todo o processo, desde a criação das hipóteses, a construção da ferramenta de pesquisa, a representação dos dados coletados, a análise desses dados até chegar à refutação ou não das hipóteses”, completa Betina. Elas mostraram um exemplo da aplicação da metodologia em sala de aula com crianças que estão nos anos iniciais para identificar a preferência por animais de estimação. 

“Para mim, essa dica de deixar as hipóteses claras para os alunos desde o início do processo dá um colorido diferente para a pesquisa”, explica Rosângela Rossi enquanto participa da oficina. Ela é professora de matemática na rede pública e particular de ensino em Tatuí e conta que vai passar a usar a metodologia em sala de aula. “Achei interessante a proposta de trabalhar com as questões qualitativas da pesquisa e não só as quantitativas”, revelou Márcia Tassone, que atua na rede estadual de ensino como professora de matemática em São João da Boa Vista e como diretora em Aguaí.

Márcia (à esquerda) e Rosângela na oficina Trabalhando com estatística no ensino fundamental

Facilitando o aprendizado – A abertura do 1º Encontro de educadores que ensinam matemática foi marcada por duas palestras que levaram a plateia a refletir sobre o uso da tecnologia na sala de aula e a respeito da inclusão nas escolas. O professor Leonardo Perez, que dá aulas de matemática na Escola Sesi 108 de São Carlos e no Colégio Oca dos Curumins, mostrou o projeto que desenvolveu durante seu mestrado profissional em matemática (PROFMAT) no ICMC. Ao tornar o ensino de geometria mais atraente para jovens do 7º ano do ensino fundamental usando jogos digitais e outros instrumentos tecnológicos, Leonardo conseguiu observar, durante as avaliações, uma melhora significativa no desempenho dos estudantes que apresentavam dificuldades de aprendizagem.

Já a psicóloga Nathalia Manoni, que atua há 12 anos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Carlos, explicou como é possível estruturar o ensino para que as crianças autistas possam ser incluídas no processo de aprendizagem. “No ensino estruturado, procuramos entender os problemas que o autismo causa para que possamos criar oportunidade de resolvê-los de forma funcional, mudando a forma como os estímulos são apresentados”, afirmou Nathalia. Nos vários exemplos de adaptações que podem ser realizadas nas salas de aula, a psicóloga destacou a necessidade de usar recursos visuais e de organizar as tarefas de forma sequencial e por níveis de complexidade: “A previsibilidade organiza a mente caótica do autista”. Ela ressaltou, ainda, a importância de identificar quais são os interesses particulares que chamam a atenção de cada criança autista para que o professor possa favorecer o desenvolvimento de novas habilidades a partir desses interesses. 

“Tanto o projeto do Leonardo quanto o trabalho da Nathalia lançam luz sobre como podemos lidar com as crianças que apresentam dificuldades de aprendizado, empregando diferentes recursos”, disse a professora Miriam Utsumi, do ICMC, uma das coordenadoras do evento. Ela se surpreendeu com o número de participantes nesse 1º Encontro, que contou com 70 inscritos: “Esperamos que esse seja o primeiro de muitos outros eventos que acontecerão aqui no ICMC com esse objetivo de trazer os professores da educação básica para interagirem com nossos alunos e professores”.

Na abertura do Encontro, a professora do ICMC Janete Simal, que também coordenou o evento, relembrou um episódio em que disse a seus alunos que o professor é alguém que fica feliz à custa de pequenas migalhas: “Mas no dia seguinte, quando estava dando uma aula e ouvi aquele som maravilhoso de um de meus alunos dizendo ´Ah, entendi´, percebi que não são migalhas, são pepitas de ouro que a gente tenta garimpar. Esse evento é maravilhoso porque traz aqui esses mineradores que acreditam nas pepitas de ouro”. 

Para a professora Edna Zuffi, que representou o diretor do ICMC na abertura do Encontro, a educação possibilita oferecer às pessoas ferramentas para que se tornem criativas, esperançosas e tenham instrumentos para modificar suas vida e, consequentemente, a situação do Brasil. “Que esse seja um espaço para a construção de novos conhecimentos. Lembrem-se de que o fim maior é levar esses conhecimentos para seus alunos na sala de aula, porque as nossas crianças e jovens merecem a oportunidade de se transformarem e de transformarem o nosso país”, finalizou. 

Janete, Edna, Esther e Miriam (da esquerda para a direita) durante a abertura do Encontro

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Crédito das imagens: primeira foto - Reinaldo Mizutani; demais imagens - Denise Casatti

Mais informações
Álbum de fotos no Flickr: icmc.usp.br/e/f5721
Assessoria de Comunicação do ICMC: (16) 3373.9666
E-mail: comunica@icmc.usp.br