quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Projeto desenvolvido no ICMC ensina economia doméstica para crianças


Um ditado muito popular diz que dinheiro na mão é vendaval. Mas se depender da professora de matemática Lizlane Aparecida Trevelin, esse ditado não será válido para seus alunos. Tudo isso graças à pesquisa Economia doméstica: uma aplicação prática para alunos concluintes do ensino fundamental que ela apresentou no último dia 9 de dezembro ao Mestrado Profissional em Matemática (PROFMAT), do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, sob a orientação do professor Luiz Augusto da Costa Ladeira.

A dissertação teve o objetivo de verificar a aprendizagem da matemática por meio do ensino da economia doméstica para as crianças: elas deveriam aprender a lidar com dinheiro, aprender a fazer orçamento familiar e a controlar os gastos, e adquirir noções de consumo consciente. O projeto foi aplicado em uma escola pública de ensino fundamental da cidade de São Carlos onde Lizlane atua como docente. Participaram do projeto 108 alunos, sendo 3 turmas com 36 alunos cada, do 9° ano do ensino fundamental.

“O projeto foi um sucesso não apenas entre os alunos, mas também em algumas famílias que decidiram abraçar a iniciativa”, conta a pesquisadora. Além disso, os próprios alunos tiveram a iniciativa de criar o grupo Embaixadores da Saúde Financeira: por meio de cartazes e de outros recursos, eles transmitiram o conteúdo aprendido para os outros estudantes da escola.

A ideia de desenvolver o projeto surgiu quando a pesquisadora leu uma matéria jornalística na internet que apontava que o número de famílias endividadas havia passado de 58,3% para 62,5% entre 2012 e 2013, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor. “Percebi que havia a necessidade de a escola trabalhar com seus alunos essa questão de uso do dinheiro e controle de gastos”, explica. Como Lizlane estava cursando o mestrado profissional, decidiu realizar o projeto de economia doméstica com seus alunos. A experiência durou cerca de um ano.

Para realizar o projeto, a pesquisadora utilizou como fonte materiais na internet que abordassem o tema economia doméstica; planilhas do Excel; textos sobre o assunto; além da ferramenta educacional WebQuest.

No WebQuest, ela criou uma página com o sugestivo nome de “Para onde vai meu rico dinheirinho” onde disponibilizou várias atividades. A professora ainda compartilhou com os alunos uma cartilha do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que ensina a calcular o Índice de Custo de Vida (IPC) das famílias.

Inicialmente os alunos precisaram assistir a um vídeo de um programa de televisão onde um economista apresentava várias dicas e estratégias sobre como lidar com dinheiro. Esse vídeo foi discutido em sala de aula com os alunos.

No vídeo, um consultor financeiro aponta para a necessidade de as pessoas terem sonhos e sempre separarem uma quantia mensal para realizá-los. Também é preciso ter sonhos de curto (1 ano), médio (1 a 5 anos) e longo prazo (acima de 5 anos). O vídeo também fala das diversas formas de pagamento (em dinheiro, débito, crédito e cheque) e dos problemas que envolvem as compras parceladas. Além de outros apontamentos sobre planejamento financeiro.

Depois de assistir ao vídeo, os alunos trabalharam com uma planilha onde era preciso preencher com os gastos ao longo de um mês, sempre com a orientação da professora Lizlane. Segundo a pesquisadora, alguns alunos tinham mesada, outros não. Por isso, em muitos casos, a planilha foi preenchida com os gastos da família e a atividade acabou por envolver todos da casa.

A anotação dos gastos foi feita durante um mês. Depois os alunos analisaram os gastos, as entradas e o saldo e, a partir dessa análise, apresentaram algumas conclusões, incluindo os gastos onde poderia haver economia.

Reflexão - Na etapa seguinte, os alunos precisaram estabelecer sonhos de médio, curto e longo prazo. Os alunos ainda tiveram que fazer uma reflexão sobre esses sonhos e de como poderiam realizá-los, e elaborar um plano de ação. “Isso fez com que os alunos percebessem a importância do planejamento e da organização para alcançar esses sonhos”, destaca a pesquisadora. No final, tiveram de realizar uma autoavaliação. Também foi feito um vídeo com alguns depoimentos dos estudantes onde eles contam o quanto foi importante aprender sobre planejamento financeiro e, principalmente, ter sonhos e lutar por eles.

A pesquisadora acredita que é possível reproduzir o trabalho em outras salas de aula. Entretanto, ela ressalta que o projeto elaborado por ela é apenas um ponto de partida e que talvez seja necessário fazer adaptações para as diferentes realidades encontradas nas escolas no que se refere aos alunos, aos próprios professores e também às próprias escolas. Parte do projeto está disponível no WebQuest neste link.

Texto: Valéria Dias - Agência USP de Notícias