quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Da graduação direto para o doutorado

Na busca por economizar tempo na formação acadêmica, alguns jovens estão descobrindo que ingressar no doutorado sem passar pelo mestrado pode ser uma opção interessante

Kemilly Garcia, Filipe Verri e Luis Paulo Garcia optaram pelo doutorado direto

Tornar-se doutor aos 25 anos não é uma meta fácil de ser alcançada. Na carreira acadêmica, leva-se cerca de uma década para percorrer a trajetória tradicional que resulta na obtenção do título de doutor: some a graduação (quatro a cinco anos), o mestrado (cerca de dois anos) e o doutorado (pelo menos mais quatro anos). Mas alguns jovens têm descoberto uma alternativa interessante para adiantar esse processo e conquistar mais rápido o sonho de se tornar um professor-pesquisador nas universidades brasileiras de ponta: o doutorado direto.

“No começo, fiquei inseguro porque nunca tinha ouvido falar dessa opção. Somos instruídos a fazer o mestrado e depois o doutorado. Só me convenci de que valia a pena seguir para o doutorado direto depois de conversar com alguns alunos que já tinham escolhido esse caminho”, explica Filipe Verri. Em março de 2014, aos 22 anos, apenas dois meses depois de concluir sua graduação em Ciências de Computação, Verri se tornou um doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências de Computação e Matemática Computacional, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. A meta dele é finalizar o doutorado aos 25 anos.

“Não vejo a hora de me tornar professor em uma universidade”, revela Tiago Nazaré, que ingressou este ano no doutorado direto do Programa. Aos 23 anos, ele só decidiu que iria seguir de fato a carreira acadêmica depois de passar seis meses na Universidade do Porto, em Portugal, onde fez intercâmbio por meio de uma bolsa de Mérito Acadêmico da USP: “Foi lá que percebi o quanto a formação acadêmica aqui é equiparável à oferecida no exterior ou até melhor”.

No ICMC, 11 alunos estão hoje matriculados no doutorado direto
em Ciências de Computação e Matemática Computacional

No currículo de Nazaré e de Verri, destacam-se os projetos de iniciação científica que desenvolveram. Para ambos, o doutorado direto tornou-se uma opção natural, pois já estavam habituados à realidade da investigação científica. “Quando fiz minha primeira iniciação científica, eu me apaixonei pela pesquisa e vi que era isso que eu queria fazer”, conta Verri. Ao todo, ele desenvolveu dois projetos de iniciação científica ao longo de seu curso de graduação: foram quase três anos dedicados à pesquisa, sempre com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). “A FAPESP deve me conhecer pelo nome”, brinca. 

Quando ingressou no curso de Ciências de Computação do ICMC e mudou-se de Araçatuba para São Carlos, Verri não imaginava que se dedicaria à carreira acadêmica. O que ele queria era desenvolver jogos: “Mas descobri que era muito bom em matemática e não gostava de áreas como engenharia de software e design gráfico, fundamentais para quem deseja atuar com games”. 

A história de Nazaré não é diferente. Ele veio de Monte Santo, em Minas Gerais, para São Carlos cursar Ciências de Computação no ICMC e também fez duas iniciações científicas durante a graduação. Além disso, participou de uma iniciativa que possibilita aos graduandos que estão no último ano do curso do curso assistirem às aulas de pós-graduação. Conhecida como Trilha, essa opção contribui para que os estudantes avancem mais rápido na pós-graduação.

Assim, quando Nazaré se formou, ele já tinha cursado praticamente todas as disciplinas exigidas para quem está no mestrado. Seu orientador, o professor Moacir Ponti, recomendou então que o estudante tentasse ingressar no mestrado e também no doutorado direto. Deu certo: Nazaré foi aprovado no doutorado direto e recomenda a escolha, especialmente para aqueles que já conhecem um pouco sobre a área de pesquisa à qual pretendem se debruçar.

Verri também não se arrepende da escolha e recomenda o ingresso no doutorado direto para aqueles que têm absoluta certeza de que fariam o doutorado após terminar o mestrado. “Para quem não tem essa certeza, não vale a pena. Porque se a pessoa desistir no meio do doutorado direto, não terá o título de mestre, o que já possibilitaria ingressar no mercado de trabalho em algumas universidades”, destaca. A ressalva de Verri é pertinente especialmente para os estudantes que optam pela pós-graduação simplesmente para ganhar mais tempo antes de decidir qual caminho querem de fato seguir em suas carreiras. 

Depois de percorrer a trajetória do doutorado direto por um ano e sete meses, Verri sabe que a insegurança que sentiu no começo da jornada era desnecessária: “Não é um caminho mais difícil, nem há mais pressão ou cobrança do que para quem já fez o mestrado”. Quem ingressa no doutorado direto tem até cinco anos para concluir a tese, já para quem segue o caminho tradicional esse prazo é reduzido para quatro anos. Outra diferença é que, no doutorado direto, o aluno tem seis meses a mais do que no doutorado tradicional para apresentar os resultados parciais de seu trabalho e fazer sua qualificação.

Kemilly, Filipe e Luís desenvolvem suas pesquisas no
Laboratório de Computação Bioinspirada do ICMC

Inscreva-se até 29 de outubro – As inscrições para o doutorado direto no Programa de Pós-Graduação em Ciências de Computação e Matemática Computacional do ICMC estão abertas até a próxima quinta-feira, 29 de outubro. Nessa fase, o candidato precisa apenas apresentar a documentação exigida no edital. Se for aprovado na pré-seleção, terá até 4 de janeiro para entregar o projeto de pesquisa. São oferecidas 10 vagas e os candidatos devem ter colado grau até a data da matrícula, que acontecerá de 26 a 29 de janeiro.

Texto e fotos: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação ICMC/USP

Mais informações
Edital do processo seletivo do doutorado direto: icmc.usp.br/e/bc21b
Serviço de Pós-Graduação do ICMC: (16) 3373.9638
E-mail: posgrad@icmc.usp.br