sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Participação em competições científicas busca atrair talentos para as ciências

Integrantes do ICMC tem se destacado em competições nacionais e internacionais, trazendo títulos e reconhecimento para o Instituto

Final nacional da Maratona de Programação (foto: Isabela Grade)

Por: Davi Marques Pastrelo e Fernanda Vilela

As olimpíadas científicas são iniciativas importantes para o desenvolvimento do interesse e aprendizado do estudante, esteja ele na educação básica ou superior. A participação também é benéfica para as instituições de ensino, que ganham reconhecimento e visibilidade a cada participação, e ainda incentivam seus alunos a encarar novos desafios. No Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP São Carlos, essas competições são comuns e ajudam a captar e descobrir novos talentos, além de trazer bons estudantes do ensino médio ao universo acadêmico.

O ICMC participa de diversas competições de alto nível, como a Maratona de Programação, as competições brasileira e latino-americana de robótica (CBR e LARC), a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e a Olimpíada Brasileira de Informática (OBI). Essas disputas dão direito à vagas em competições internacionais, onde com frequência concorrem equipes do Instituto. Além de competirem, os professores e alunos também trabalham na organização de eventos como a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), a Olimpíada São-Carlense de Matemática (OSCM).

Para a Profa. Dra. Sarita Bruschi, docente do Departamento de Sistemas de Computação do ICMC, as olimpíadas estudantis são uma excelente oportunidade para a troca de conhecimento, além da possibilidade do aluno conhecer outros competidores. "Outro fator importante é que essas competições estimulam a melhoria do ensino, além de promover o contato entre o aluno, que muitas vezes ainda está no ensino médio, com o mundo universitário", explicou Sarita.

Matemática

A Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) é uma competição aberta a todos os estudantes dos ensinos fundamental (a partir do 6ª ano), médio e universitário, de escolas públicas e privadas de todo o Brasil. O evento qualifica os melhores colocados à disputa da Olimpíada Internacional de Matemática, que é realizada desde 1959 e da qual participam cerca de 100 países de todo o mundo. Em torno desta competição, a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), elaborou um projeto que visa empregar competições matemáticas como veículos para a melhoria do ensino de matemática no país, além de contribuir para a descoberta precoce de talentos para as ciências em geral.

Prof. Herivelto Borges Filho
O Prof. Dr. Herivelto Borges Filho, do Departamento de Matemática do ICMC, coordena uma região onde é aplicada a prova da OBM, e explicou que um dos benefícios para os alunos que se envolvem com o programa é em relação à mudança de postura. “Podemos ver que, além de despertar interesse na disciplina, o aluno é incentivado a permanecer na área e passa a se dedicar mais aos estudos, mesmo em outras áreas. Outro ponto que observamos, é que os alunos que participam dessas atividades ingressam em universidades de ponta, como a própria USP”, explicou.

Já a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), também promovida pela SBM, e é voltada apenas aos alunos da rede pública de ensino. De acordo com a Profa. Dra. Ires Dias, que também pertence ao Departamento de Matemática  ICMC e que orienta os alunos selecionados na OBMEP, a participação nesses eventos é uma boa oportunidade para tanto para os alunos como para o Instituto para a captação de talentos, incentivando-os a ingressar na área de exatas. “Durante o ano passado, chegamos a orientar 39 alunos de várias idades de São Carlos e região. Somente três tinham idade para prestar vestibular. Destes, dois irão prestar vestibular da Fuvest para a área de matemática”, destacou. 

Ires ainda apontou que cada aluno participante do programa recebe incentivos na forma de bolsas. “Para o próximo ano teremos 50% mais bolsas. Todo aluno que participa das orientações mensais aos sábados, das 8 às 17 horas, recebe além do transporte, alimentação e uma bolsa auxílio”, completa. 

O ICMC patrocina também a Olimpíada São Carlense de Matemática (OSCM), com apoio do CNPq e da OBM. Os objetivos principais são estimular o estudo da matemática pelos alunos, detectar jovens talentos na região e ampliar o contato da universidade com as escolas do ensino médio da região a fim de despertar o interesse do aluno pela atividade universitária e pelo conhecimento científico. Na primeira fase são cerca de 400 alunos. Classificam-se para a segunda fase somente 100 estudantes, dos quais geralmente 20 são premiados com menção honrosa ou medalhas.

Premiação da OSCM 2012

Informática

Organizada pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC), a Olimpíada Brasileira de Informática (OBI) já teve sua fase final sediada no ICMC, em 2011. Os melhores colocados integram a equipe brasileira na International Olympiad in Informatics (IOI), que neste ano será realizada  na Itália. Os objetivos da OBI são fomentar o interesse pela computação e pela ciência em geral, promover novos desafios e aproximar a universidade dos ensinos médio e fundamental através da introdução de disciplinas de técnicas de programação de computadores nas escolas e identificar os grandes talentos e vocações nas ciências da computação.

A Profa. Dra. Sarita Bruschi explicou que a OBI é organizada em três níveis: Iniciação nível 1 e 2, Programação níveis Júnior e 1 e Programação nível 2. Segundo a docente, a OBI tem se demonstrado de grande importância na captação de talentos para a área de exatas. A professora ressaltou que o número de participantes da OBI tem sido expressivo e que muitos dos alunos que participam no primeiro ano acabam retornando para as edições posteriores. 

Guilherme Marega participa da OBI há quatro anos, e chegou a ser apelidado de "Precoce" enquanto cursava a nona série do ensino médio. Segundo Bruschi, o estudante aprendeu a programar no ICMC e chegou a conquistar medalhas, demonstrando interesse em seguir a área de exatas. Marega disse que começou a participar da OBI pelo curso de programação oferecido pelo Programa de Educação Tutorial (PET) do ICMC, quando ainda cursava o oitavo ano. Ele conquistou duas medalhas de prata em 2011 e 2012, e foi convidado a participar da seletiva para o time que iria para olimpíada internacional. “Acredito que as olimpíadas me auxiliaram na maneira de ver os problemas e na busca do melhor método. Além disso, ajudou-me na parte de raciocínio e também em aprender a programar”, afirmou. 

Programação, robótica e Google

O Warthog Robotics, grupo de robótica da USP São Carlos formado por alunos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e do ICMC, foi o campeão da Latin American Robotics Competition (LARC) deste ano, na categoria Very Small Size. O evento foi realizado em Fortaleza (CE) e contou com a participação de três mil competidores da América Latina, sendo 16 membros da equipe são-carlense. O grupo também ficou em segundo lugar nas categorias 2D e 3D.

Warthog Robotics na premiação do LARC 2012
O histórico do Warthog é vitorioso. Formado a partir de uma fusão entre os grupos USPDroids e GEAR, em 2011, a equipe participou da RoboCup, competição mundial de robótica realizada em Istambul, na Turquia. No mesmo ano conquistou o Campeonato Brasileiro na categoria Very Small Size e foi vice campeão na categoria Simulação 2D. Em 2010, foi campeão Latino Americano da categoria simulação 2D.  Outras colocações de destaque conseguidas pelo Warthog foram os vice-campeonatos brasileiro de 2009 e latino-americano de 2010, também na categoria Very Small Size, e o vice-campeonato brasileiro de 2011, na categoria Simulação. Em 2010, a equipe B também conquistou o terceiro lugar do campeonato latino-americano na mesma categoria.  

Algumas conquistas do Warthog
Essas competições também são conhecidas como “futebol de robôs”, e exigem do grupo a preparação de um sistema capaz de produzir estratégias e jogadas para fazer gols na equipe adversária. O estudante de doutorado do ICMC e integrante do Warthog, Marcelo Silva, explicou que existe um sistema de visão computacional que identifica onde os robôs estão no campo e, usando conceitos de geometria analítica, o software traça uma estratégia a partir daquela posição dos jogadores. “Tem uma câmera em cima do campo captando e processando as imagens, para que o sistema possa encontrar a posição dos robôs do mesmo time, os adversários e a bola. Usamos matemática de colegial para encontrarmos a angulação e assim o sistema traça a estratégia de jogo”, disse.

Para a Profa. Dra. Roseli Francelin Romero, docente do ICMC e supervisora do Warthog, afirmou que essas competições estudantis servem para ampliar a troca de conhecimentos entre os alunos, que se cobram no sentido de um melhor aprendizado e obter melhores resultados. "A competição server para o aluno ver que o que está estudando na teoria possui muitas aplicações na prática, e através desse processo ele se sente motivado a continuar estudando".

Outra competição que envolve conhecimentos em computação é a Maratona de Programação, promovida anualmente pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC) desde 1996. Ela é destinada a estudantes universitários da área e visa incentivar a criatividade, promover a busca de novas soluções de software e a habilidade de resolver problemas sob pressão. Os times são compostos por três alunos, que tentam resolver durante cinco horas o maior número possível de problemas. O time que conseguir resolver o maior número de problemas no menor tempo é declarado vencedor.

Participantes do ICMC na
Maratona de Programação
O ICMC é presença constante na Maratona de Programação com alunos representando o Instituto. Neste ano, duas equipes do Instituto figuraram entre os primeiros colocados na classificação final, e uma delas poderá representar o Brasil no torneio mundial. No universo de 542 times inscritos, a equipe Señora Margarida ficou com a quarta colocação e recebeu medalha de prata, enquanto a equipe I Can Haz Ballonz, terminou na 14ª posição. Por sua colocação, a Señora Margarida tem grandes chances de garantir uma vaga nas finais mundiais do concurso de programação, o ACM International Collegiate Programming Contest, que acontecerá em 2013 em São Petersburgo, na Rússia. 

Além das tradicionais competições organizadas por sociedades científicas, o ICMC tem sido destaque também em competições organizadas por grandes empresas da área de informática. Recentemente, uma equipe liderada pelo Prof. Dr. Dilvan Moreira, do Departamento de Ciências de Computação do ICMC, terminou em segundo lugar de sua categoria na América Latina na competição internacional Google Apps Developer Challenge. A disputa consistia no desenvolvimento de aplicativos voltados para uso em seu navegador de internet próprio, e que fizessem uso das ferramentas disponibilizadas por ela. Com o aplicativo GTD Easy Task, o grupo encabeçado pelo professor Dilvan disputou o prêmio máximo na categoria Social/Produtividade Pessoal/Jogos/Diversão, na América Latina. 

Todas essas conquistas colocam em evidência não só a qualidade e capacidade do corpo docente e discente do Instituto, mas também a preocupação da direção em estimular a participação de todos nesse tipo de evento. Afinal, os resultados positivos contribuem tanto para o reconhecimento dos participantes como para o prestígio e a visibilidade do ICMC.

Texto publicado na edição n.º 99 do informativo ICMCotidiano