segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

De aluno a professor: eles aprenderam a ensinar matemática

Em seus 45 anos de existência, o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, em São Carlos, contribuiu com a formação de mais de 300 professores para o ensino básico

Foto: Reinaldo Mizutani 

Com o giz em mãos, eles levam para a sala de aula a paixão pelo ensino e a marca do lugar que os tornou mais preparados para encarar a árdua missão de ser professor: o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. “Eu realmente amo o que eu faço e sei que posso fazer uma pessoa seguir um caminho melhor”, conta Michelle Carrara, que está entre os 337 professores de matemática formados ao longo das 45 anos de história do ICMC. Muitos dos profissionais que saem do instituto começam a se destacar cedo na carreira, atuando em instituições de ensino públicas, particulares ou abrindo suas próprias escolas.

Michele é um exemplo de quem seguiu pelo caminho do empreendedorismo. Licenciada em Matemática pelo ICMC em 2010, a professora abriu uma escola de aulas particulares, a Mapli, em Jundiaí, no interior de São Paulo, que oferece reforço em química, física e matemática. Ela também possui o site Matika que ensina matemática online. Ao mesmo tempo em que gerencia os dois projetos, ainda encontra tempo para dar aulas de matemática em um colégio particular da cidade, o Gaudí, para alunos do oitavo ano do ensino fundamental ao terceiro do ensino médio.

Sua vocação para ensinar começou cedo. Quando estava na sétima série, era uma das mais procuradas pelos companheiros de turma para tirar dúvidas: “Eu gostava de explicar para eles aquilo que eu sabia”, lembra Michelle. O reconhecimento dos amigos era inevitável e parece que aprender com a, então, jovem professora era muito mais fácil: “Com você eu entendo”, diziam seus colegas.

Depois de alguns anos como professora, Michele conta que ainda há certo receio por parte dos estudantes quando a disciplina é matemática, que traz consigo o estereótipo de ser uma matéria chata e complicada, refletindo essa rejeição até mesmo para o professor.“Por incrível que pareça meus alunos me amam”, ela brinca. A professora conta que procura manter uma amizade com os estudantes e tornar suas aulas mais descontraídas, lembrando sempre de “puxar a orelha” e ser exigente quando preciso. A fórmula vem dando certo, tanto que, desde que começou a dar aulas no colégio, sempre foi escolhida para ser paraninfa de turma ou professora homenageada.

A graduação na USP

Os anos de graduação no ICMC foram primordiais para a formação da educadora. Ela chegou em 2007 ao instituto, ainda imatura, e sua passagem por lá a fez crescer em diversos aspectos: “Cheguei muito nova, mas consegui amadurecer e evoluir tanto como profissional quanto pessoa. Algumas professoras me mostraram ideias que eu nunca havia imaginado sobre como passar conteúdos de formas diferentes, fazendo com que o aluno não tenha medo de matemática”, diz Michele.

O choque em sair do ensino médio e entrar na universidade foi amenizado aos poucos e uma pessoa muito especial em sua vida a ajudou nessa empreitada: Agilso Benet. Ele ingressou no ICMC no mesmo ano de Michelle para cursar Matemática Aplicada e Computação Científica e, depois de trilharem quatro anos universitários juntos, decidiram compartilhar o resto de suas vidas. “Fui para o ICMC, tomei um susto e ainda encontrei o meu amor”, celebra Michelle. O marido é quem desenvolve e administra os sites da Mapli e do Matika para a amada.

“Fui para o ICMC, tomei um susto e ainda encontrei o meu amor”,
celebra Michelle ao lado de Agilso - Foto: Arquivo pessoal

A escolha certa

Quando ainda era um pré-vestibulando, Everton Luna, 27 anos, sonhava em ser engenheiro, mas o destino fez com que ele descobrisse outra paixão. Depois de tentar por dois anos entrar em engenharia sem obter sucesso, resolveu prestar Licenciatura em Ciências Exatas no ICMC, curso oferecido em parceria com o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) e o Instituto de Química de São Carlos (IQSC), ambos da USP. “Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito”, conta Everton, que concluiu sua graduação em 2013.

Logo no ano seguinte, o ex-aluno começou a dar aulas de matemática para alunos do sétimo e oitavo anos do ensino fundamental da Escola Estadual Professor Ary Pinto das Neves, em São Carlos, onde está até hoje. “Eu gosto de dar aula, é compensador ver que os alunos estão aprendendo o que você ensina e a gente também evolui com eles”, revela.

Há quase três anos como professor, Everton se lembra de como o ICMC ajudou a prepará-lo para a profissão: “Eu tive ótimos professores que faziam a gente estudar bastante e eram bem rígidos. Minha matemática melhorou muito e, graças ao que aprendi no instituto, consigo dar minhas aulas com facilidade.” Pensando em crescer ainda mais, o educador resolveu se inscrever na pós-graduação do ICMC e ingressou no Mestrado Profissional em Matemática (PROFMAT), programa para capacitação de professores criado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) em 2011. (Leia mais em Ajudando o professor de matemática a se reinventar)

Everton começou o PROFMAT há cerca de um ano e já notou diferença em suas aulas: “Me aprofundei bastante em algumas áreas, principalmente na geometria. Sou um professor muito melhor do que era antes. Até mesmo para fazer desenhos na lousa, eu me sinto com um conhecimento mais amplo e bem mais à vontade”, relata o jovem, que sonha ser professor universitário.

Em sua dissertação, sob orientação da professora Esther Pacheco, Everton trabalha na aplicação de novas técnicas para o ensino de números negativos. Ele conta que seus alunos do sétimo ano têm dificuldades nesse assunto e, para ajudá-los, ele vai estudar modelos de ensino utilizados na Idade Média.

No ICMC, há dois cursos que possibilitam a formação de professores de matemática. O mais antigo é o de Licenciatura em Matemática, criado em 1987, e que já formou 232 professores. Cinco anos depois, ICMC, IQSC e IFSC se uniram para oferecer o curso de Licenciatura em Ciências Exatas, em que o aluno pode optar por fazer ênfase em matemática, física ou química. Nesse curso, já foram formado 105 profissionais com ênfase em matemática.

“Sou um professor muito melhor do que era antes”, revela Everton
depois de ingressar no PROFMAT - Foto: Reinaldo Mizutani

Texto: Henrique Fontes / Assessoria de Comunicação do ICMC


Leia mais no especial "Um instituto e suas infinitas histórias"


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Tel. (16) 3373.9666