Um dos temas mais recorrentes na educação atual, o bullying, encontra entre suas vertentes também uma versão virtual
Texto extraído do original de José Fernando Rodrigues Junior. Editado por: Davi Marques Pastrelo
O bullying pode ser definido como um ato violento, sem no entanto haver a necessidade de agressão física. É caracterizado pelo uso da comunicação ou informação sem que haja consentimento da pessoa ofendida, podendo ser confundido com a difamação. Isso torna mais difícil sua identificação.
O Prof. Dr. José Fernando Rodrigues Júnior, pesquisador do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), na USP em São Carlos, estuda o fenômeno a partir de uma nova perspectiva: a da internet e dos celulares, que traz aos agressores novas possibilidades. Para ele, essa modalidade é ainda mais grave, pois a pessoa agredida passa a sofrer agressões dentro de casa, através de e-mails e mensagens por SMS, com o agravante de que isso pode ser feito anonimamente.
José Fernando explica que no contexto de anonimato da internet há ainda a possibilidade que uma pessoa se passe por outra, e comece a denegrir sua imagem, oferecendo favores sexuais, drogas, ameaçando terceiros ou ainda distribuindo dados pessoais de um usuário sem seu consentimento. “O maior problema com relação à segurança virtual é que há boas chances de que o agressor escape impune, pois há mais maneiras de navegar anonimamente do que de rastrear uma pessoa”, explica.
No entanto, o cyberbulling não se manifesta somente entre crianças e adolescentes, ou entre indivíduos do mesmo âmbito - ocorre também entre alunos e professores, chefes e empregados, cidadãos e autoridades. Para a pesquisadora do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Judith Donath, as relações online mudam facilmente a percepção das pessoas do que é ou não aceitável, e isso contribui para a sensação de que as pessoas não são seres humanos.
Identificando o cyberbullying
No caso de crianças e adolescentes, uma das motivações do bullying é a ausência de reação de quem é agredido. No caso de dos mais jovens, a reação só ocorre quando há o suporte de outra pessoa, um familiar, um amigo, um professor ou uma autoridade. Portanto, a defesa de crianças e adolescentes deve partir de seus responsáveis, por meio de atenção, observação e diálogo.
A escola é o ambiente onde é mais comum a ocorrência do bullying. Quando isso ocorre, deve-se procurar a orientação de professores e da direção da escola. Outros pontos importantes são: determinar a idade dos colegas com quem seu filho deve interagir; ensiná-lo a reportar a ocorrência dos fatos; e nunca culpa-los por serem vítimas.
Para evitar que jovens e crianças sejam vítimas de cyberbulling, é recomendado que sejam impostos limites pelos pais, como exigir que computador e aparelhos celulares estejam sempre disponíveis para inspeção, impor limite de utilização e incentivar atividades sociais e alternativas, como prática de esportes e cursos extracurriculares.
Os mais jovens podem estar sendo vítimas de cyberbullying caso:
- apresentem irritação e alteração do humor após o uso da Internet ou do celular;
- demonstrem comportamento de isolamento;
- tenham queda de desempenho na escola;
- expressem o desejo de não ir mais à escola;
- demonstrem tristeza e depressão, características avessas à juventude.
Para o Prof. José Fernando, o bullying é um fenômeno que possui raízes psicológicas. “A maioria de jovens que são vítimas desse fenômeno, também são vítimas de maus tratos em casa, agressões verbais, físicas, que levam à ansiedade, insegurança o que favorece os agressores de bully, que veem nessa fragilidade uma oportunidade”. Ele explica que há inclusive um jogo chamado Bully, onde o jogador têm como objetivo de prejudicar seus colegas da escola. “O que fica evidente é que há uma analogia entre jogos de luta e o bullying, é um culto à violência, não somente à violência física, mas também psicológica.”
Combatendo o cyberbullying
No caso dos adultos, a primeira medida é bloquear os agressores nas redes sociais, isso irá desencorajá-los. Todas as redes sociais possuem essa ferramenta, e no caso do Orkut e do Facebook, ambas possuem equipes para analisar casos de agressão, excluindo ou bloqueando publicação de textos e fotos. O Facebook, por exemplo, não só permite o bloqueio como também oferece a denúncia explícita de bullying: “Meu amigo está me assediando ou estou sendo vítima de bullying”. Já o Orkut permite o bloqueio e a denúncia categorizada como “ódio/violência”, a qual pode ser detalhada em função de raça/religião/grupo, ou de ataque pessoal.
O bloqueio do agressor no entanto, não impede que ele continue usando seu nome. Neste caso deve-se procurar auxílio judicial. As Atas Notoriais são um recurso oferecido em cartórios civis. Para isso, é só dar um print screen na tela do computador e encaminhar ao cartório. O tabelião irá dar fé ao que aconteceu. A Ata Notarial é a prova da ofensa, mesmo que depois o agressor a retire (Art. 364 do Código Processo Civil - Lei 5869/73). A única ressalva é o custo, uma ata sai por R$ 278,15 a primeira página, acrescidos de R$ 140,46 por página adicional.José Fernando explica que é mais fácil navegar anonimamente na internet do que rastrear um usuário. “Por exemplo, pode-se conectar em um servidor na China e começar a navegar anonimamente, isso dificulta e muito a localização do usuário”. O professor esclarece que a autoridade máxima em segurança na internet no Brasil é a Polícia Federal, porém existem ONGs (Organizações Não Governamentais) que vigiam redes sociais em busca de possíveis fraudes.
Outra medida a ser tomada é dificultar o acesso à informação divulgada. Pode-se requerer isso pedindo aos maiores sites de busca que excluam o resultado. Isso pode ser feito através da exclusão de dados pessoais ou da exclusão de conteúdo. A má notícia é que uma vez o conteúdo foi distribuído pela web, ele dificilmente será excluído. Assim, o que a pessoa agredida pode fazer é distribuir um arquivo com a descrição semelhante, mas com conteúdo diferente, isso irá confundir o público desse conteúdo e diluir os resultados encontrados.
O fenômeno de bullying, cibernético ou não, é, como toda forma de violência, uma ameaça ao desenvolvimento da sociedade e pode causar às suas vítimas danos psicológicos. "Na história da humanidade decidiu-se que eram necessários mecanismos jurídicos e sociais para inibir a violência física, atualmente faz-se necessário mecanismos para inibir a violência moral. A violência foi banida da sociedade por atrasar o desenvolvimento coletivo, da mesma maneira que a violência mecânica foi banida, há a necessidade de banir também a violência mecânica. Hoje não temos mais lutas de gladiadores, mas temos o futebol, que pode ser comparada a encenação de uma batalha, concluiu”. O cyberbullying é uma forma grave de violência moral e deve ser combatido por todos os cidadãos e instituições.