segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Redes de relacionamentos contribuem com a pesquisa acadêmica

Aplicativo desenvolvido em conjunto pelo ICMC-USP e universidade americana representa graficamente a interação entre pesquisadores e instituições

Por: Davi Marques Pastrelo

As redes de relacionamentos desempenham um papel cada vez mais importante na vida das pessoas e das empresas. Esse fenômeno, característico de nossa época, causa mudanças sociais, econômicas e políticas no mundo contemporâneo. Atualmente, trocamos informações, opiniões e ideologias em tempo real e sem limite de fronteiras.

Uma rede de relacionamentos é uma estrutura composta por pessoas, empresas ou organizações conectadas por um ou mais tipos de relacionamento: profissional, afetivo, ou familiar, e em diferentes níveis hierárquicos. Trata-se de uma estrutura complexa, onde é possível haver “relações em comum” mesmo entre pessoas que não se conhecem. 

Um dos docentes do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), na USP de São Carlos, que estudam o fenômeno das redes de relacionamento é o Prof. Dr. José Fernando Rodrigues Júnior. Mais especificamente, seu trabalho foca no meio acadêmico, onde são estudadas publicações acadêmicas e a interação entre seus autores.

Para o Prof. José Fernando, o advento das redes de relacionamentos, assim como das redes sociais, é um fenômeno da informação, pois passou a vincular as pessoas não mais a websites. “Agora, os usuários são vinculados entre si. Dessa maneira não é mais necessário colocar uma informação em um local público para alguém ler, agora temos um fluxo livre e direcionado de informações sociais, políticas, ou ideológicas, o que irá mudar a maneira como nos comunicamos com impactos significativos na sociedade. Por meio das redes, as informações fluem com maior dinâmica, dificultando o controle e a censura um dia impostos pelo Estado, como o que ocorreu no mundo árabe, por exemplo”.

O pesquisador explica que o Facebook não foi a primeira rede social. Antes dele tivemos o Friendster e o MySpace, além do Orkut. Ele esclarece que o motivo pelo qual o Facebook se tornou mais atrativo é difícil de ser explicado, pois há muitas variáveis envolvidas. Um dos fatores é a interface gráfica, que é cativante e interativa. Outro motivo foi que seus concorrentes não acompanharam a demanda por oferta de serviço que o mercado exigia. “Uma rede social cresce muito rapidamente em seu início, quando os usuários convidam uns aos outros para conhecer a novidade. As primeiras redes não estavam preparadas para isso, o que as tornava lentas para responder às requisições dos usuários. Foi o caso do Friendster e principalmente do Orkut; um dos problemas que a Google declara como fator de sua maior popularização na América Latina e não nos Estados Unidos é que os servidores ficavam sobrecarregados nos horários de pico do hemisfério norte”. Segundo o professor, futuramente as redes sociais podem convergir para se tornar uma única rede,o que pode significar o surgimento de um novo monopólio semelhante ao da Microsoft, que por décadas foi o sistema operacional mais usado em 90% dos computadores.

Ele explica que outra aplicabilidade das redes sociais, é a prospecção de fenômenos de interesse científico. Como exemplo cita o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Wagner Meira que, para monitorar o avanço da epidemia de dengue no país, usou dados postados na rede social Twitter ao invés de enviar pessoas para averiguar quantas pessoas estavam contaminadas em cada região. Os dados do Twitter foram assim “garimpados” por meio da análise computacional das strings que constituem o conteúdo das postagens.

Sobre o filme A Rede Social, que conta a história de Mark Zuckerberg (criador do Facebook), ele diz que a obra foi interessante do ponto de vista histórico e comercial da computação, pois é bastante elucidativo nestes aspectos. Ele explica que o filme demonstra que as redes demoram para começar a lucrar, pois usam o mesmo modelo comercial de grandes corporações de comunicação como a Google e a Rede Globo, isto é, primeiro a audiência, depois a propaganda. “Inicialmente o Facebook não tinha publicidade, somente após ter em torno de um milhão de usuários é que os espaços de publicidade começaram a ser comercializados. Por mais interessante que seja seu produto, só se pode começar a colocar publicidade após um determinado tempo, do contrário isso afastaria os usuários”, conclui.


O software GMine


O trabalho de José Fernando consiste no estudo de redes de relacionamentos no meio acadêmico. O software desenvolvido por ele, o GMine, é desenvolvido em C++ e serve para analisar métricas de interação entre professores e pesquisadores. Seu trabalho é baseado na publicação de artigos e usa como base o repositório D.B.L.P. (Digital Bibliograph Library Project). O aplicativo representa graficamente a interação entre os pesquisadores em diversos graus: entre universidades, institutos, laboratórios e até de docente para docente. “O entrelace dessas redes é a autoria dos artigos científicos. O professor esclarece que cada nó representa um autor e que cada aresta representa uma relação de co-autoria. 

O software também permite vários leiautes de apresentação. Um deles coloca no centro da apresentação os autores mais ativos e, ao redor deles, autores menos ativos em raios cada vez maiores. Com isso podemos saber por que esse usuário interage mais, quais são as técnicas usadas, quais são as potenciais colaborações, ou mesmo o que pode aumentar a colaboração do grupo.”

José Fernando Rodrigues Jr.
O projeto é financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e desenvolvido em parceria com a Carnegie Mellon University, dos Estados Unidos. O software é gratuito e pode ser baixado neste site, onde também há um tutorial em vídeo explicando o uso.

O Prof. José Fernando Rodrigues Jr. é especialista em Análise Visual de Dados e Professor Doutor do ICMC-USP, em São Carlos. Atua no Departamento de Ciências de Computação, junto ao Grupo de Base de Dados e Imagens (GBDI).


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