Por: Fernando Molina - Portal USP Online
Está em projeto em São Carlos a implantação de um Centro que vai ajudar a direcionar o conhecimento matemático da universidade em benefício das indústrias. O Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) contará com a participação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, que também deve ser a sede do projeto.
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Foto: Marcos Santos / USP Imagens |
Ainda este semestre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pode definir a aprovação do Cepid, que será dirigido pelo professor José Alberto Cuminato, do Departamento de Matemática Aplicada e Estatística (SME) da unidade. Além dele, outros dois professores do ICMC serão coordenadores do projeto: o professor José Carlos Maldonado, na área de Educação e Difusão do Conhecimento, e o professor Francisco Louzada Neto, na Transferência de Tecnologia.
A formação do núcleo é abrangente, segundo Cuminato. “As pesquisas neste campo já existem há muito tempo, mas procuramos unir diferentes frentes, usando não só a matemática propriamente dita, como também a estatística e até mesmo a computação”, esclarece. “Em um primeiro momento, temos como objetivo a otimização de processos industriais, através de simulações e análises de risco, por exemplo. A equipe vai trabalhar esses aspectos com o auxílio da engenharia de software, e até um pouco de hardware”.
O primeiro desafio do CeMEAI, de acordo com o professor, será vencer a “falta de tradição” que as ciências matemáticas em geral enfrentam no Brasil. “Aqui, as ciências aplicadas são outras, como engenharia, que é muito mais valorizada”, aponta, “enquanto que as ciências matemáticas são sempre vistas meramente como acadêmicas, ainda que estejam presentes em algumas grandes empresas, como a Petrobras”. Para iniciar a caminhada desta ‘nova tradição’, o pesquisador indica o foco dos trabalhos do grupo. “Nossa ideia é mostrar aos pequenos empresários como aumentar a eficiência através dos métodos desenvolvidos”.
Expectativas de operação
Apesar de contar com a participação de outras instituições – como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), além da própria Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e também de outra unidade da USP, o Instituto de Matemática e Estatística (IME), a cidade de São Carlos é vista por Cuminato como ideal para sediar o Centro. “Por já se tratar de um dos mais importantes polos tecnológicos do país, e por isso comportar uma grande infraestrutura, concordamos que o CeMEAI deveria se instalar em São Carlos”, explica.
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Foto: Wikipedia |
A expectativa da equipe, inclusive, é de melhorar ainda mais esta estrutura. “Contamos com alguns recursos e estamos avaliando a aquisição de um prédio para a sede, que contaria, além dos profissionais do Cepid, com mais quatro funcionários, que seriam responsáveis, por exemplo, pela captação dos contatos das pequenas empresas interessadas em firmar parcerias conosco, viajando até esses ‘clientes’, quando necessário”, afirma Cuminato.
A ideia é evitar ao máximo atrasos na operação do grupo em função da eventual distância e também de trâmites burocráticos. “Imaginamos que o fato de o ‘cliente’ de outras localidades precisar viajar para conhecer nossas instalações pudesse ser uma dificuldade, e até por isso pretendemos destacar essas pessoas para fazerem o caminho inverso, mas de qualquer forma não temos o foco de aplicação em todas as empresas do Brasil, apenas em algumas, preferencialmente nas pequenas”, reforça ele.
Eficiência
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Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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A partir do início das operações do CeMEAI, a intenção do grupo é, primeiramente, verificar atentamente os problemas apresentados por cada empresa ‘cliente’. “Vamos analisar caso a caso, mas muitas dificuldades são normalmente ligadas a ações repetitivas e descoordenadas dentro de cada ambiente, e isto é um fator que prejudica muito a eficiência do trabalho”, analisa Cuminato, “poderíamos analisar o cenário de uma fundição, em que o funcionário só faz apertar um mesmo botão ou puxar uma mesma alavanca o dia todo, sem saber se o que está fazendo gasta mais matéria-prima, desperdiça energia ou atrasa o processo. A equipe visa constatar esse tipo de problema e orientar o pequeno empresário, de maneira que ele pudesse ensinar ou treinar o colaborador para não cometer esses excessos”.
Segundo o pesquisador, existem diversas outras aplicações possíveis, dentro dos trabalhos do Cepid. “Sem dúvida existem transportadoras que desperdiçam muito tempo e combustível, simplesmente por não saberem como organizar a carga no caminhão, ou não terem estrutura para simular as possíveis rotas em determinados horários”, exemplifica, “ou ainda, não podemos nem imaginar quanto seria economizado em ensaios de uso de aviões comerciais, se simplesmente aplicássemos softwares de simulação de diferentes situações de operação”.
O objetivo final do CeMEAI, com estas possibilidades, não é simplesmente ajudar a melhorar os ganhos de determinadas empresas. “O crucial é termos a tecnologia, produzir mais empregos, melhorar os salários das funções que já existem. No momento em que o colaborador não é só a pessoa que aperta o mesmo botão, mas o que sabe o que faz e como deve fazer, ele passa a ser melhor visto e remunerado”, explica o professor, “o mais importante de verdade não é uma melhoria momentânea, mas é a modificação da cultura brasileira da interação empregador-empregado, de valorização do trabalhador”.