Uma das principais atrações foi o futebol de robôs, categoria que foi criada com a meta de, até 2050, viabilizar um jogo entre essas máquinas e os melhores jogadores de futebol do mundo
O ginásio de esportes da USP, em São Calos, parecia pequeno na tarde da última quarta-feira, 22 de outubro. Uma multidão de aproximadamente dois mil fãs de robótica vibraram durante a cerimônia de premiação das 224 equipes que participaram da Competição Latino-americana de Robótica (LARC), da Competição Brasileira de Robótica (CBR) e da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR).
A diversidade dos 27 estados brasileiros e de muitos países da América Latina estava ali representada nas bandeiras, nas músicas e no sotaque desses estudantes do ensino médio, fundamental, superior, além de professores e pesquisadores que, durante quatro dias, tiveram a oportunidade de compartilhar experiências e superar os inúmeros desafios que fazem parte dessas competições. Nas arenas da Olimpíada Brasileira de Robótica, a missão dos robôs das 80 equipes inscritas era resgatar uma vítima – sendo 40 equipes participantes da categoria voltada aos estudantes do ensino fundamental e 40 aos estudantes do ensino médio e técnico.
Já nas demais competições (LARC/CBR), 144 equipes participaram de uma grande diversidade de desafios, o que possibilitou ao público conferir vários tipos de robôs humanoides – aqueles que se parecem com os seres humanos – realizando corridas e jogando partidas de futebol. A bola também rolou no campo dos robôs pequenos (small size), de outros menores ainda (very small size) e nos telões em que podiam ser vistas as categorias de simulação 2D e 3D. Havia, ainda, robôs tentando transportar cargas entre uma plataforma flutuante e uma superfície, simulando o que acontece no mundo real em uma plataforma de petróleo, por exemplo. Este ano, criou-se ainda uma nova categoria voltada a robôs que desempenham serviços domésticos e precisam interagir com as pessoas em um ambiente simulando uma casa.
“Registramos um recorde histórico de participantes nas três competições, chegando a cerca de 2 mil pessoas. A cada ano, a LARC/CBR vem crescendo e a participação se tornando mais abrangente. Este ano, tivemos competidores que vieram do Uruguai, da Venezuela, do México, do Chile e do Peru. Houve até equipes do Irã, que participaram remotamente nas categorias simuladas”, destacou o coordenador da LARC/CBR, Marco Simões, professor da Universidade do Estado da Bahia. Ele explicou ainda que, quando a competição latino-americana (LARC) é sediada no Brasil, acontece simultaneamente com a competição brasileira, já que ambas possuem as mesmas categorias.
“Conseguimos fazer esse ano a maior Olímpiada que já realizamos no país, dobrando o número de participantes. As equipes estavam muito mais preparadas, porque foram bem selecionadas em seus Estados, já que tivemos mais de 1,7 mil equipes competindo e só as 80 melhores vieram para a final, que teve um nível altíssimo”, afirmou o coordenador geral da OBR, Flávio Tonidandel, professor do Centro Universitário da FEI. “Com certeza, a robótica brasileira vai nos trazer muitas surpresas graças a essa meninada que se empenhou na Olímpiada”, completou.
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Futebol de robôs humanoides foi uma das principais atrações |
A voz dos campeões – Com o troféu de vice-campeão na categoria IEEE Open, o competidor venezuelano David Cabello, estudante de Engenharia Eletrônica da UNEFA, conta que a experiência de participar da competição é inesquecível: “Foi o reconhecimento de todo o nosso esforço. Trabalhamos muito para chegar aqui, muitas vezes o dia todo, mesmo nas férias”.
Já o doutorando em Engenharia Elétrica do Centro Universitário da FEI, Danilo Perico, campeão na categoria RoboCup Small Size League (F180), afirma que o evento contribui muito para o desenvolvimento de pesquisas na área de inteligência artificial destinadas a fazer os robôs cooperarem em campo: “Nada melhor do que o ambiente de uma competição para fazer com que algumas coisas sejam realizadas de forma mais rápida. Isso nos incentiva a ter ideias diferentes para ganhar a disputa já que muitos imprevistos podem acontecer”.
Para o aluno do curso de Engenharia Mecatrônica da Universidade Federal de Uberlândia, Mateus Araújo, as competições são uma oportunidade de conhecer áreas que não são totalmente exploradas em seu curso de graduação, tais como robótica em programação, projeto mecânico e eletrônica. “Aqui, quando surgem desafios, temos que estudar sozinhos e sermos autodidatas. Além disso, a competição também contribui muito para o aprendizado do trabalho em equipe”, declarou Araújo, que é vice-campeão na categoria RoboCup Humanoid Kid Size.
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A disputa é acirrada na categoria very small size |
Equipes da USP em São Carlos – Duas equipes da USP em São Carlos participaram das competições, o Warthog Robotics e o Semear. "Foram várias noites sem dormir para obter o máximo desempenho na competição e o nosso esforço foi recompensado com o 2º lugar na categoria Very Small Size e o 3º lugar na categoria Small Size League”, explicou Lucas Ferrari, aluno do curso de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). Ferrari destaca ainda a participação dos calouros na competição, que conseguiram se classificar para as quartas de final na categoria Small Size League com robôs autônomos desenvolvidos totalmente por eles.
O Warthog Robotics é um grupo de pesquisa e extensão vinculado ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e à EESC. Atualmente, cerca de 50 estudantes fazem parte do grupo, que reúne alunos de outras duas unidades da USP em São Carlos: o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) e o Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos (IAU). O objetivo principal do Warthog é a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias associadas à robótica e à aplicação nos complexos ambientes de futebol e combate de robôs.
“Participar de um evento desse porte proporciona um espírito de competitividade e, ao mesmo tempo, de colaboração entre as equipes de forma a contribuir muito para formação do aluno”, relata o estudante Allisson Spina, do curso de Engenharia Mecatrônica da EESC e integrante do grupo Semear. Outro aspecto por ele ressaltado é que muitos desafios enfrentados durante as competições demandam a pesquisa de novas soluções, estimulando a busca constante pela inovação.
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Equipe do Warthog no palco das premiações |
12 eventos em 1 – “Se vocês estão aqui hoje é graças ao trabalho, à dedicação e ao aprendizado que vocês tiveram para enfrentar o desafio de cada categoria de que participaram. Então todos vocês, alunos, professores, pais, estão de parabéns”, disse a professora do ICMC, Roseli Romero. Ela coordenou a maior conferência sobre robótica e sistemas inteligentes já realizada no Brasil, a
Joint Conference on Robotics and Intelligent Systems (JCRIS) 2014, a qual agregou um total de 12 eventos simultâneos, incluindo as competições e a
Mostra Nacional de Robótica.
“Olhar para essa juventude, sentir essa energia que vem de vocês é uma coisa muito gratificante. Sucesso é isso aí: tem que começar pela ciência”, completou a secretária municipal de educação de São Carlos, Regina Ferreira. “É uma honra para São Carlos receber todas essas equipes aqui. Considerando-se as escolas estaduais da cidade, seis equipes chegaram à etapa estadual da OBR e hoje temos uma equipe na final brasileira. Para mim, todos vocês são vencedores, campeões”, declarou a dirigente regional de ensino, Débora Blanco.
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Robô lê jornal durante demonstração da categoria RoboCup@Home |
Segundo a professora Eliane Botta, coordenadora da equipe da escola estadual Antônio Militão de Lima, a única do munícipio que conseguiu se classificar para participar da final da OBR, a robótica contribui para que os alunos desenvolvam habilidades como disciplina, observação, responsabilidade e trabalho em equipe. “Esse mundo aqui é maravilhoso para os alunos. Depois de vivenciarem a etapa regional e estadual da competição, é a terceira vez que eles estão vendo o que é uma olimpíada. Esse aprendizado fora da sala de aula é muito importante”, reforçou a professora.
Parte das comemorações dos 80 anos da USP, a JCRIS 2014 foi promovida conjuntamente pela USP em São Carlos – por meio do ICMC, da EESC, do Centro de Robótica de São Carlos (CRob) e do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Aprendizado de Máquina e Análise de Dados (NAP-AMDA) – e pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), através do Departamento de Computação e do Departamento de Engenharia Mecânica.
A JCRIS contou, ainda, com o apoio da Sociedade Brasileira de Automática e da Sociedade Brasileira de Computação, além de suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Em breve, a OBR disponibilizará a lista completa dos premiados no site: www.obr.org.br
Texto: Denise Casatti (Assessoria de Comunicação do ICMC) com a colaboração de Keite Marques (Assessoria de Comunicação da EESC)
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