Na primeira noite do evento, que aconteceu em três diferentes bares da cidade, festival de divulgação científica atraiu cerca de 230 pessoas
Público lotou Mosaico para conversar sobre Empreendedorismo e universidades |
Uma sequência rápida de imagens de ovelhas passa no telão do boteco Vila Brasil e cerca de 100 pessoas escrevem no papel quantos animais acreditam ter visto em cada imagem. Enquanto o público testa sua capacidade natural de percepção direta dos números, uma habilidade que também se apresenta em algumas espécies de animais e aves, um trecho chocante do filme E a vida continua sinaliza o início do bate-papo sobre o zika vírus no Beatniks. Ao mesmo tempo, mais 100 pessoas começam uma conversa animada sobre empreendedorismo no restaurante Mosaico.
Essas três cenas marcaram a abertura do festival internacional de divulgação científica Pint of Science na noite da última segunda-feira, 23 de maio, em São Carlos. Realizado pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, o evento prossegue nesta terça e quarta-feira, dias 24 e 25 de maio, com mais seis bate-papos nos três bares que sediam a iniciativa (confira a programação).
No boteco Vila Brasil, logo depois da dinâmica com as ovelhas, a professora Esther Prado, do ICMC, levou o público a refletir sobre o surgimento dos numerais e do possível medo da matemática. Logo depois, Jackson Itikawa, pós-doutorando do ICMC que recentemente venceu o FameLab Brasil, contou sua trajetória. “Apesar do meu claro desejo em cursar matemática e de minha facilidade com essa ciência, meus pais, meus professores, meus amigos, todos me disseram que não valia a pena, que era um desperdício. Era muito melhor fazer engenharia. E foi o que fiz”. Só depois de ter cursado Engenharia Elétrica na Escola Politécnica da USP e trabalhado alguns anos na área, Jackson teve coragem de assumir sua paixão pela matemática. Ele também citou exemplos de como, em nosso dia a dia, aplicamos a matemática sem sequer perceber, e falou sobre a Olimpíada Brasileira de Matemática. Segundo ele, essa iniciativa mobiliza cerca de 20 milhões de estudantes todos os anos e, mais do que fazer as crianças e jovens deixarem de ter medo da matemática, está possibilitando que elas se encantem com essa ciência.
Já Leonardo Perez, professor de matemática na Escola Sesi 108 de São Carlos e no Colégio Oca dos Curumins, e Juliana Mascioli, professora de matemática na Escola Sesi 339 de Araraquara, relataram suas experiências de sucesso e insucesso em sala de aula. “Não há fórmula mágica, mas podemos buscar estratégias para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. É possível conseguir bons resultados se buscarmos tornar os estudantes participantes ativos desse processo e se usarmos situações-problemas que contextualizem o conhecimento”, ressaltou Leonardo.
A Zika pegou o Brasil – Logo depois da exibição do trecho do filme E a vida continua, o professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos, Bento Negrini, apresentou o contexto histórico das epidemias. Ele mostrou como aconteceu a proliferações do vírus da Aids, que chegou ao Brasil em 1981, e do H1N1.
A seguir, o professor Fernando Rodrigues, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, explicou que o vírus zika pode causar sérios danos ao feto quando uma mulher grávida é infectada. “Mas não podemos afirmar que todos os bebês que nasceram com microcefalia, registrados pelo Ministério da Saúde, apresentaram a doença devido ao zika”, afirmou. Por outro lado, o professor Luiz Figueiredo, também da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, lembrou que nem todos os vírus trazem malefícios: “Vários deles estão em nossos organismos e nos protegem”.
Para encerrar, o pós-doutorando do Laboratório de Virologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP, Mario Luis de Figueiredo, falou sobre o surgimento dos mosquitos e da falta de virologistas no Brasil: “Não podemos colocar a culpa de tudo nos mosquitos. É preciso realizar mais estudos sobre esses vetores”. Quem mediou o bate-papo e também ajudou a instigar a reflexão no Beatniks foi a professora Sigrid dos Santos, do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos.
“Trabalho especificamente com desenvolvimento infantil. Então, eu acho que quanto mais a gente souber lidar com a epidemia da zika e entendê-la para saber o que temos que fazer daqui para frente, melhor será”, disse a enfermeira Letícia Pancieri, uma das participantes do evento. “Em um bar, a conversa fica mais descontraída, a interação é diferente da realizada no ambiente formal da universidade. Por isso, talvez algumas novas questões possam sair dessas discussões”, finalizou.
O empreendedorismo pegou São Carlos – A conversa animada sobre empreendedorismo que agitou o restaurante Mosaico na abertura do Pint of Science foi coordenada pelo gerente de projetos da Bridge, Rafael Meireles. Ele não tem dúvidas de que São Carlos está mesmo se transformando na capital das startups.
“Está sendo criado aqui um ecossistema de startups muito bem-sucedido. As pessoas tendem a comparar muito nosso modelo com o do Vale do Silício ou o criado em Minas Gerais, no São Pedro Valley. Mas eu acho que cada local tem suas peculiaridades, embora existam pontos em comum”, disse Rafael. Segundo ele, falar sobre esse assunto em um evento como o Pint of Science é uma oportunidade para que as pessoas descubram a semente do empreendedorismo dentro delas.
“É muito importante ver essas pessoas todas aqui, esses jovens cheios de energia, querendo transformar ideias e conhecimento em produtos e, portanto, buscando dar um retorno para a sociedade”, destacou o professor Edson Moreira, do ICMC. Ele é membro do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) e mostrou a metodologia que desenvolveu para estimular seus alunos a transformarem projetos em produtos.
Também participaram do bate-papo no Mosaico o fundador da empresa Petiko, Luciano Miranda, e o professor André Di Thommazo, do Instituto Federal de São Paulo, campus São Carlos. “Eu acho que dificilmente um evento como esse poderia ser realizado dentro da universidade. A ideia de trazer essa conversa aqui para fora, em um ambiente descontraído, é um motivador, um estimulador muito importante e acho que faz parte do sucesso desse evento”, finalizou Edson.
Em São Carlos, o Pint of Science conta com o apoio do CeMEAI, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto de Física de São Carlos (IFSC). Em âmbito nacional, há o patrocínio da Elsevier.
Edson destacou relevância e sucesso do evento |
Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Com a colaboração de Henrique Fonte e Leonardo Zacarin
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