Em texto publicado em revista internacional, professores da USP discutem o futuro do aprendizado de máquina
Inteligência artificial é tema de editorial assinado por professores da USP em periódico internacional |
Destacar o uso do aprendizado de máquina em ciência dos materiais é o objetivo do editorial Shaping the Future of Materials Science with Machine Learning, publicado recentemente em um volume especial da revista científica Ceramics International, do grupo Elsevier. O texto é de autoria de três pesquisadores da USP em São Carlos: o professor Osvaldo Novais de Oliveira Jr., do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), e os professores José Fernando Rodrigues Junior e Maria Cristina Ferreira de Oliveira, ambos do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC).
No editorial, eles presentam um volume que compila 24 artigos publicados em várias revistas científicas, entre 2007 e 2016, apresentando como o aprendizado de máquina é usado na área de ciência dos materiais. O aprendizado de máquina pode ser compreendido como o emprego de técnicas para ensinar tarefas a sistemas computacionais por meio de processos interativos comumente denominados de “treinamento”.
Novais explica que o texto discute o impacto do que ele denomina “quinto paradigma da ciência e tecnologia”, que define a era em que os sistemas artificiais, ou seja, as máquinas, poderão gerar conhecimento com pouca ou nenhuma intervenção humana. Para ele, há diversas razões que sustentam essa previsão, haja vista as metodologias denominadas big data e o aprendizado de máquina, que têm possibilitado armazenar um vasto conteúdo de dados em uma única máquina, a qual pode ser treinada para executar tarefas variadas. “De fato, os desafios em armazenar, gerenciar, compartilhar e extrair enormes quantidades de dados estão longe de ser triviais. São necessárias várias camadas de recursos e ferramentas, incluindo amplo armazenamento, segurança de dados, gerenciamento de informação e, em geral, inteligência artificial eficaz”, destaca o editorial.
Na última década, houve um rápido desenvolvimento na compreensão de fala e texto por máquinas, o que melhorou, por exemplo, a qualidade dos tradutores automáticos. Para Novais, esse avanço permitirá que, dentro de cinco ou dez anos, já existam máquinas com nível de compreensão textual elevado. Segundo ele, o início do quinto paradigma se dará com a soma dessa habilidade com as novas metodologias, que permitem armazenar dados facilmente processados por máquinas.
Para Novais, dentro de cinco ou dez anos já existirão máquinas com nível de compreensão textual elevado |
O docente do IFSC afirma, ainda, que a ciência dos materiais continuará sendo central para as novas tecnologias, pois materiais cada vez mais sofisticados serão necessários para construir e alimentar com dados as máquinas inteligentes. Exemplos são os nanomateriais para diagnóstico e terapia em medicina, e a produção de sensores e materiais apropriados para veículos autônomos. O convite para assinar o texto foi feito por editores da Elsevier, que conheceram o docente durante visita ao IFSC há alguns meses e souberam de seu interesse no uso de inteligência artificial para editoração científica.
Maria Cristina, do ICMC, é uma das autoras do artigo |
Previsões imprecisas - Segundo José Fernando Rodrigues Junior, da carroça ao ônibus espacial, ou do ábaco ao supercomputador, a humanidade sempre foi beneficiada com os resultados que os meios tecnológicos lhe proporcionaram. No entanto, ele afirma que, apesar de haver especulações sobre os cenários futuros decorrentes das novas tecnologias, as previsões não são precisas. Elas se baseiam na configuração existencial do tempo presente, tentando-se prever os fatos de uma realidade que ainda não se consolidou.
Para o docente do ICMC, a geração de conhecimento advindo de máquinas deve levar a uma nova configuração existencial guiada pela tecnologia. “As consequências são imprevisíveis. Mas pode-se especular, mesmo sabendo que se irá errar. Imagine, por exemplo, uma existência onde computadores sejam capazes de programar computadores. Se isto ocorresse hoje, teríamos uma cadeia de acontecimentos semelhante ao que ocorreu com os datilógrafos devido ao advento de editores de texto eletrônicos. Mais rápidos, sem fadiga e com memória ilimitada, os computadores alcançariam descobertas científicas em horas. O cenário é indescritível com os conhecimentos atuais.”
Ainda na opinião de Rodrigues, tal realidade está mais perto do que se imagina, pois a evolução científico-tecnológica ocorre de maneira supralinear, autoalimentando-se e resultando em um avanço exponencial. “Já há resultados significativos, como os algoritmos de deep learning (aprendizado profundo) e os tradutores de idiomas baseados em muitos exemplos e em probabilidade bayesiana”, explica o docente. Ele menciona também que a consolidação do novo paradigma depende de aperfeiçoamentos nos algoritmos de aprendizado de máquina, sensores de dados, modelos matemáticos, descrições de fenômenos físicos e de avanços na ciência de materiais que resultem em dispositivos computacionais mais robustos.
Caso as previsões dos autores estejam corretas, daqui a 20 anos as máquinas inteligentes poderão “sair” das páginas das histórias em quadrinhos, dos livros e filmes de ficção científica para, talvez, formular novas teorias físicas ou resolver problemas complexos de química e engenharia.
Para José Fernando, a geração de conhecimento advindo de máquinas deve levar a uma nova configuração existencial guiada pela tecnologia |
Confira o editorial na íntegra: icmc.usp.br/e/7cb99
Editado a partir do texto de Rui Sintra e Thierry Santos da Assessoria de Comunicação do IFSC