Especialistas que passaram pelo Laboratório de Engenharia de Software do Instituto contam como têm contribuído para a expansão da área no Brasil atuando no mercado ou na academia
Há uma intersecção nas linhas que compõe a trajetória desses 80 especialistas em engenharia de software que estão reunidos no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Uma intersecção que vai além do fato de que todos eles atuam em um mesmo campo do conhecimento computacional, quer estejam trabalhando em empresas ou em instituições de ensino e pesquisa espalhadas pelo Brasil. Afinal, um pouco do que eles são hoje é fruto das experiências compartilhadas no Laboratório de Engenharia de Software (Labes) do Instituto.
“Hoje, tenho tudo devido ao que conheci aqui”, diz Rejane Figueiredo, professora da Universidade de Brasília (UNB). O primeiro curso de graduação em engenharia de software oferecido no Brasil foi criado em agosto de 2008 na UNB e coordenado por Rejane durante quatro anos. Ela é uma das 80 especialistas sentadas no auditório Fernão Stella de Rodrigues Germano, nesta manhã do dia 13 de novembro, enquanto o professor recém-aposentado Paulo Cesar Masiero, do ICMC, faz uma retrospectiva sobre a área. Ele explica que o termo engenharia de software nasceu em uma conferência sobre o assunto, realizada na Alemanha pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1968. Foi neste ano também que chegou a São Carlos o professor Fernão Stella de Rodrigues Germano, um dos pioneiros no uso de computadores para apoiar a atividade de desenvolvimento de software.
Com um imenso papel na mão, Masiero mostra como fazia, no final dos anos de 1970, a especificação de um programa de computador quando trabalhava na Johnson & Johnson: tudo à mão. A obsolescência do papel que ele entregava naquele tempo aos programadores da empresa provoca riso na plateia sentada no auditório que recebe o nome do professor Fernão. Foi por causa desse professor, seu orientador, que Masiero começou a trabalhar na Johnson & Johnson. Fernão queria que o mestrado de Masiero tivesse uma parte prática.
Masiero mostra como era feita a especificação de um software no final dos anos 1970 |
Fernão também orientou outro professor do ICMC, José Carlos Maldonado, durante sua iniciação científica, quando cursava Engenharia Elétrica na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). Masiero e Maldonado são dois nomes que não podem faltar na história do desenvolvimento da área de engenharia de software no ICMC. Foram eles que criaram, em 1994, o Labes. Os dois professores foram homenageados no evento do dia 13 de novembro.
Impacto e alcance – Eles vieram da capital e do interior do Estado de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Paraná, de Goiás, do Mato Grosso do Sul, do Paraná e até do Rio Grande do Norte especialmente para participar do Workshop Retrospectiva em Engenharia de Software no ICMC. Muitos não puderam estar presentes por estarem atuando em países como Canadá, Estados Unidos e Chile. “A iniciativa de fazer essa retrospectiva é maravilhosa. Porque eu entendo São Carlos como uma base de formação e esse evento vai propiciar estreitar nossos laços quanto a parcerias universidade-universidade, universidade-mercado e universidade-governo”, diz Rejane.
Egressos do Labes compartilham experiências profissionais |
Para David Fernandes Neto, analista judiciário em tecnologia da informação no Tribunal Regional do Trabalho no Rio de Janeiro, ter desenvolvido seu mestrado no ICMC e ter a oportunidade de conviver com os professores e colegas do Labes contribuiu muito para sua formação. “Eu vejo que essa visão acadêmica que trago agrega muito hoje ao meu trabalho. Ao lidar com pesquisa, a gente sempre conhece o estado da arte. E o grande desafio que temos é exatamente aplicar o estado da arte onde estamos atuando”, conta Neto. No momento, ele está ajudando a desenvolver um dos primeiros sistemas de gestão integrado do setor público brasileiro.
“É uma experiência muito interessante poder participar desse evento e conhecer a história de um dos grupos mais fortes de engenharia de software do Brasil”, afirma Carlos de Barros Paes, que é professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Ele e mais seis pesquisadores estão fazendo atualmente pós-doutorado no Labes, que também conta com uma equipe de 31 mestrandos e 47 doutorandos.
“No total, 221 trabalhos foram defendidos no Instituto na área de engenharia de software de 1976 até hoje”, afirmou a professora Rosana Braga, que coordenou o evento. Em breve, o Labes publicará um resumo de todos esses 221 trabalhos.
Texto/fotos: Denise Casatti ICMC/USP
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