Docente do Instituto, Katiane Conceição conquista prêmio que é destinado a jovens estatísticos
Katiane desenvolveu modelo estatístico que releva frequência de zeros em uma amostra |
Você sabia que cerca de 88% das cidades do Estado da Bahia com baixo Índice de Desenvolvimento Humano possuem problemas para identificar casos de leptospirose? Essa conclusão só foi possível com o modelo estatístico criado pela professora Katiane Conceição, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Apresentado no artigo Zero Modifield Models for Count Data, o estudo inovador garantiu a conquista do ISI Jan Tinbergen Award 2015, concedido pelo Instituto Internacional de Estatística (ISI).
A análise realizada por Katiane, que levantou dados de 2004 sobre notificações de leptospirose no Estado da Bahia, é um exemplo das diversas aplicações que o modelo criado pela docente permite. Esses dados foram usados no artigo enviado pela professora à ISI no final do ano passado e lhe rendeu o prêmio, que é entregue para jovens estatísticos nascidos a partir de 1983. Foram 137 países participantes e apenas três vencedores: um pesquisador de Bangladesh, outro da Índia e a brasileira Katiane.
No artigo, que é resultado da tese de doutorado da docente, explica-se que o novo modelo estatístico não leva em conta a frequência de números zero que aparecem em uma determinada amostra. Segundo Katiane, o grande diferencial do método é que, ao analisar um conjunto de dados, é possível classificá-lo automaticamente como inflacionado (muitos zeros) ou deflacionado (poucos zeros). "Assim, não é preciso fazer suposições antes de propormos uma distribuição para os dados", explicou a docente.
O futebol é outro campo em que o modelo pode ser aplicado: “Considerando os times que estão nas primeiras colocações na tabela de classificação do campeonato, provavelmente, terão um número pequeno de zeros, pois ganharam mais partidas e quase sempre marcam gols. Já para os times que brigam contra o rebaixamento, o cenário se inverte e os zeros aumentam”.
Em uma sala de aula, o número de alunos canhotos é outro exemplo da deflação de zeros. A professora explica que, dificilmente, não haverá canhotos em uma classe, mas naquelas em que eles estiverem presentes, também não estarão em grande número. Ou seja, apesar da média baixa de estudantes com essa característica, serão raras as salas de aula sem ninguém que escreva com a mão esquerda.
Aos 45 do segundo tempo - Faltavam só 20 minutos para a meia-noite do dia 14 de dezembro, prazo final para envio do artigo, quando Katiane finalmente conseguiu submeter o trabalho para concorrer ao prêmio. “Eu estava sem tempo, com muitas coisas para fazer e, quando consegui submeter o trabalho, deu erro na página. Tentei outra vez, mas no final nem sabia se realmente havia sido enviado”. confessa, rindo, a professora.
A recompensa veio mais de três meses depois e, por ironia do destino, no dia primeiro de abril, conhecido como o dia da mentira: “Para quem faz doutorado, chega um momento em que o estresse é enorme e nada dá certo, mas quando você finaliza e ganha um prêmio desses, vê que tudo valeu a pena". Katiane ressalta que o mérito também é do professor Francisco Louzada, do ICMC, que a orientou. "Ele sempre me incentivou. Particularmente, para mim, que estou iniciando a carreira, ser premiada é ainda mais motivador”.
Em julho, a professora receberá o prêmio no Congresso Mundial de Estatísticos, que será realizado no Rio de Janeiro de 26 a 31 de julho. Ela ganhará 2,5 mil euros, além de ter todas as despesas como inscrição, viagem e estadia, bancadas pelo ISI.
Vida acadêmica - Katiane é graduada em Estatística pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem mestrado em Biometria e Estatística Aplicada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e concluiu seu doutorado em Estatística pela UFSCar em 2013. Há menos de um ano é professora do Departamento de Matemática Aplicada e Estatística do ICMC: “Gosto muito do que faço, eu me dedico às aulas e tento me aproximar ao máximo dos alunos, sempre digo a eles que não existe essa hierarquia entre nós”.
Atualmente, a professora já está trabalhando em outra pesquisa relacionada a sua tese, dessa vez em parceria com o professor Adriano Suzuki, do ICMC. Também está escrevendo um paper com a professora Vera Tomazella, da UFSCar, que propõe um outro método de estimação com uma abordagem Bayesiana. Além disso, Katiane está atuando como orientadora de dois alunos do ICMC. Um deles, estudante de mestrado na área de dados de contagem e o outro, um estudante da graduação que realiza trabalho de conclusão de curso, abordando a tese da professora aplicada ao futebol.
Texto: Henrique Fontes - Assessoria de Comunicação ICMC/USP
Foto: Marinho Andrade
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