Tecnologia desenvolvida no ICMC, sistema e-NOE chega à rotatória do shopping
Pessin, Ueyama e Macha: equipamento dispõe de nova funcionalidade |
O terceiro equipamento destinado a detectar enchentes em rios e córregos por meio de uma rede de sensores sem fio acaba de ser instalado na rotatória do shopping, um dos locais mais críticos de São Carlos na ocorrência de alagamentos. Desenvolvido pelo professor Jó Ueyama, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), na USP de São Carlos, o sistema e-NOE é composto por um sensor analógico com uma função específica: medir mudanças na pressão do rio.
Quando o nível da água sobe, há mais pressão e o sensor é capaz de identificar essa alteração. Os dados coletadas são transmitidos para um servidor na USP assim que cada leitura é realizada. Essa transmissão é efetuada via wireless Zigbee – tecnologia de comunicação sem fio com baixo consumo de bateria e com transmissões de longa distância. Automaticamente, um software converte as informações em gráficos, que são disponibilizados a toda a população pela internet (icmc.usp.br/e/4c0ef) e podem ser facilmente monitorados pela Defesa Civil.
“Se o sensor detectar uma elevação súbita na
pressão do rio, significa que haverá enchente. É quando devemos tirar a
população da região o mais rápido possível”, disse o professor. Em 2012, o
pesquisador obteve autorização do Departamento de Águas e Energia Elétrica do
Estado de São Paulo para monitorar as águas dos córregos da
cidade e, por meio de uma parceria com a Prefeitura Municipal de São Carlos, os
equipamentos vêm sendo instalados: um deles foi colocado na Avenida Trabalhador
São-carlense, próximo ao campus da USP, e o outro nas imediações do antigo kartódromo.
“A novidade é que esse terceiro equipamento dispõe de uma nova funcionalidade em relação aos dois anteriormente instalados. Devido à utilização da tecnologia 3G, agora é possível obter fotos do local, o que possibilita a observação em tempo real do que está ocorrendo na rotatória”, explicou Ueyama.
O próximo passo é ampliar a funcionalidade do sistema para monitorar também a poluição, por meio da colocação de mais três sensores analógicos. “A estimativa é de que, em um mês, já estejam instalados esses novos sensores capazes de medir a poluição dos rios”, afirmou Edmundo Macha, pesquisador colaborador do projeto.
Previsão de enchentes
Mais um serviço que deverá ser
oferecido à população a partir do estudo dos dados obtidos via sistema e-NOE é o de previsão de enchentes. “Por
enquanto, é possível prever apenas a ocorrência de enchentes com uma
antecedência máxima de 15 minutos, pois trabalhamos com previsão de curto
prazo”, contou o pesquisador colaborador Gustavo Pessin, egresso do ICMC.
Mas, segundo o pesquisador, a ideia é que, com a instalação de mais sensores – inclusive destinados a medir o índice pluviométrico – seja possível realizar previsões até 6 horas antes de uma enchente ocorrer, tempo suficiente para remover a população das áreas de risco.
“Com isso esperamos que os transtornos e prejuízos causados pelas chuvas em São Carlos não se repitam, ou que ao menos possamos avisar a população e comerciantes para que se previnam antes que a enchente ocorra”, disse Ueyama.
O começo de tudo
O projeto teve início na
Inglaterra, proposto pelos professores Daniel Hughes e Geoff Coulson, o qual foi
orientador de Ueyama entre 2002 e 2006, quando o pesquisador cursou doutorado
na Universidade de Lancaster. Na ocasião, conheceu o projeto e
pensou em adaptá-lo ao Brasil. Desde então, o pesquisador tem aperfeiçoado o
sistema com vistas a otimizá-lo para a realidade brasileira. “Além disso, é de
interesse nosso que o protótipo tenha um baixo custo para que as prefeituras
possam replicá-lo”, afirmou.
A pesquisa foi desenvolvida com
apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e do Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC). Futuramente,
Ueyama pretende disponibilizar o sistema como software livre para prefeituras
de municípios do Estado de São Paulo e para outras cidades que têm problemas com
enchentes. Também estão sendo analisadas formas de comercializar o sistema.
Recentemente, a pesquisa foi apresentada em reportagem do Jornal da EPTV. Clique aqui para conferir:
Texto e fotos: Denise Casatti - Assessoria de Comunicação ICMC-USP