O projeto internacional, desenvolvido através de parceria entre indústria, academia e governo, desenvolve, testa e avalia Softwares Livres.
Por Davi Marques Pastrelo – Assessoria de Comunicação do ICMC
O projeto Qualipso (Quality Plataform for Open Source) surgiu a partir de um consórcio de indústrias, universidades e governo, com a pretensão de potencializar e ampliar as práticas de desenvolvimento de Software Livre (SL), tornando-as confiáveis e reconhecidas na indústria. A iniciativa conta com a participação de colaboradores de diversos países, como França, Itália, Brasil, Espanha, China, Alemanha e Escócia. Financiado pela comunidade européia e com duração de quatro anos, o Qualipso tem uma preocupação muito forte com o segmento industrial, que custeou boa parte do projeto. Uma das propostas apresentadas foi a definição de métodos e processos para desenvolvimento e implantação de SL, garantindo que estejam nos padrões exigidos pelo mercado de softwares.
Rafael Messias: "A comunidade de desenvolvimento de SL no Brasil é muito forte" |
O doutorando Rafael Messias, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP, participou do projeto e afirma que a principal característica do Qualipso foi estudar a qualidade de softwares livres, além de licenças, aspectos legais e quantidade. Outro ponto da pesquisa foi a interação entre as comunidades que os desenvolvem. “A comunidade de desenvolvimento de SL no Brasil é muito forte, em minha opinião devido a muitos fatores como o apelo social, pois muitas pessoas podem aprender não somente a usar - o usuário pode tornar-se um programador. Isso está relacionado à liberdade de informação. O interessante de se abrir um código é que qualquer pessoa pode modificá-lo, mas o objetivo disso é que esse código modificado seja devolvido à comunidade”, completa. De acordo com o pesquisador, outro fator que pesa no Brasil são os preços dos softwares fechados, que por muitas ocasiões os torna proibitivos. “Atualmente os SL possuem uma qualidade muito boa e, quando são criados por grandes comunidades, possuem muitas funcionalidades que às vezes os tornam melhores do que um software fechado. Em minha opinião, no futuro o SL no Brasil tende a crescer cada vez mais, pois muitas pessoas não querem ser apenas usuários, querem poder também adaptá-los a suas necessidades.”
O Qualipso procurou entender e melhorar o SL para que ele seja mais bem aceito pela indústria, mas isso esbarra em alguns tabus, como a questão da licença. Nem todo SL é de domínio público - umas são mais permissíveis e outras não. Um bom exemplo é a GPL (General Public License). Esse tipo de licença permite modificá-lo e usá-lo, contudo, se algum software for derivado dele, necessariamente terá que ser GPL. Esse fator chama-se de Copyleft.
Maldonado: "Temos um bom contexto para o futuro do SL no Brasil" |
Para o coordenador do projeto, Prof. Dr. José Carlos Maldonado, do ICMC-USP, o Qualipso criou um ambiente livre que dá suporte à pesquisas, processos e ao desenvolvimento de SL, mas outro ponto interessante é fornecer material didático para treinamento livre, associado a metodologias e tecnologias. “Temos um bom contexto para o futuro do SL no Brasil, tanto em nível de uso e disseminação de SL. A ação governamental favorece essa iniciativa, e tem a preocupação de trabalhar na questão do software público, que é livre mas agregado da responsabilidade da evolução e manutenção”, explica. “Quando desenvolvemos um software, queremos que ele tenha manutenção e evolução. Existe a preocupação com o uso, garantia e continuidade dele, principalmente os de interesse público, usados em gestão como saúde, transportes, administração. As ações de treinamento, formação de RH devem ser sempre intensificadas, inclusive no trato da questão de responsabilidades e direitos. Muitas pessoas se esquecem desse ponto”, completa Maldonado.
Resultados do projeto:
Um dos resultados atingidos foi a criação de uma rede de Centros de Competência Internacional. No Brasil, foram dois CCSL (Centro de Competência em Software Livre), ambos na USP: um no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (CCSL-ICMC), em São Carlos, e outro no Instituto de Matemática e Estatística (CCSL-IME), em São Paulo. O objetivo desses centros é divulgar e facilitar o uso do SL através de assessorias, visando disponibilizar uma plataforma para que se crie websites para divulgação de trabalhos ou para que a comunidade trabalhe em conjunto.
“A ideia é que cada centro tenha um modelo de sustentabilidade financeira e econômica e que a rede seja mantida e ampliada, e isso vem ocorrendo. A atual rede de colaboradores já transcende os limites do centro Qualipso”, afirma o professor Maldonado.
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